Guia da Semana

Foto: Nayara Lucide

O longa ressalta a vitalidade da artista que mistura como ninguém ritmos como samba, rock e jazz

Dona de voz inconfundível, presença marcante e estilo único , uma das maiores expressões da música brasileira ganha um filme documental sobre sua carreira. O talento de Elza Soares para interpretar e viver é o grande protagonista do longa-metragem de Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan, que leva o nome da compositora e cantora.

Elza foge da proposta de biografia no formato clássico de documentário jornalístico que seria de se esperar e apresenta 82 minutos de um registro artístico e musical. Em vez de retratar a vida sofrida da mulher que nasceu na favela, foi mãe aos 12 anos, viúva aos 18 e a pivô do fim do casamento de Garrincha, a película explora a riqueza da personalidade e celebra a música de Elza Soares.

"Queríamos sair dessa história de vítima e pobre coitada. Infelizmente, no Brasil, não faltam mulheres pobres negras abandonadas, mas cantar igual a ela, ninguém canta! A Elza não é uma vitima é uma bendita é uma favorecida", explica Ernesto Baldan um dos diretores e responsáveis pela fotografia - espetacular, diga-se de passagem.

Elza Soares interpreta, canta, dança, ri, chora e revela em depoimentos intensos e escrachados que já viu São Jorge e que, quando era criança, queria ser bonita e poderosa como uma prostituta. Além das conversas com a cantora, entrevistas, encontros musicais e imagens de arquivo compõem o retrato da diva brasileira.

Um filme musical

Foto: Gael Oliveira

No filme, Elza Soares e Paulinho da Viola fazem versão exclusica de A Flor e o Espinho

Nomes como Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Maria Bethânia, Jorge Ben Jor e Mart'nalia ajudam a delinear a trajetória e participam de emocionantes duetos ao lado da protagonista. Muitos, inclusive, são inéditos, como a interpretação de A Flor e o Espinho, interpretada por Elza Soares e Paulinho da Viola.

Ela chora ao entoar a música Dor de cotovelo, acompanhada de Caetano Veloso, em uma cena que fica marcante no filme que ressalta a alegria e energia de uma mulher brasileiríssima. Em algumas passagens - como o que ela faz com Maria Bethânia - o tempo das canções se estende com a admiração explícita dos artistas por ela.

Mais que ilustrar ou representar sucessos de sua carreira, as canções têm uma função narrativa no documentário. Mas o que é visto como recurso de linguagem para alguns pode ser considerado demasiado para outros. "Fizeram uma crítica de que tinha música demais no filme, mas não tinha como ser diferente. Como ela está aí cantando bem, aproveitamos para fazer esses encontros", justifica Ernesto.

A protagonista dessa história toda não só aprovou a escolha linguística dos diretores como se emocionou nas duas vezes em que assistiu ao longa-metragem. "Sabe criança quando ganha uma bala e fica tão feliz que não quer largar? É assim que eu me sinto. Pela primeira vez um filme que fala sobre minha arte e não da minha vida em si", revela Elza Soares.

Foto: Gael Oliveira

Ernesto Baldan, Izabel Jagaribe e Elza falam sobre o filme na pré-estreia em São Paulo

Trabalho artístico

Outra característica marcante do documentário é a fotografia, que tampouco poupa tempo do roteiro para os takes esteticamente impecáveis. Com cortes em preto e branco ou com tudo em vermelho, são exibidas cenas que remetem ao samba e a religião afro-brasileira, com Elza (ou sua voz) sempre linda ao fundo.

"A minha maior preocupação o tempo todo foi fazer a imagem da Elza ser coerente com a vontade dela. Ela é uma pessoa vaidosa, ajudá-la a ficar bem é minha obrigação, o artista é uma fantasia, a minha intenção é ser coerente com isso, não tenho que fazer um documentário para desmascarar ninguém", conta Ernesto.

Com 30 anos de carreira como fotógrafo, Ernesto já tinha clicado a musa para a exposição Sem Vergonha, em que famosos apareciam em situações e roupas improváveis. Essa é, porém, a primeira vez em que acumula também a função de diretor, ao lado de Izabel Jaguaribe, que tem no currículo produções cinematográficas como Paulinho da Viola. Meu Tempo é Hoje e Corpo do Rio.

Elza começou a ser gravado em 2007, mas teve que ser interrompido, primeiramente, em virtude de problemas de saúde da cantora. Depois, o filme ficou três anos parados por falta de recursos financeiros para sua finalização. No fim do ano passado, ele foi lançado em Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte mas, somente agora, estreia oficialmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Santos.

Com mais de 50 anos de carreira, encontros musicais memoráveis e agora um filme cartaz, o que falta para a cantora? Elza Soares revela isso e mais um pouco, em entrevista exclusiva ao Guia da Semana, confira aqui!

Atualizado em 6 Set 2011.