Guia da Semana

Responsável por grandes clássicos do cinema, como "Hiroshima Meu Amor" e "Medos Privados em Lugares Públicos", aos 91 anos, Alain Resnais deixa o seu último legado. Em março, depois de mais de 50 filmes no currículo e passagens em festivais como Cannes e Veneza, o diretor morreu na França, mesmo país em que nascera. "Amar, Beber e Cantar" estreou no Festival de Berlim deste ano, levando o prêmio Alfred Bauer, aquele que contempla novas perspectivas no cinema de arte. No Brasil, o filme chega às salas na próxima quinta, 24 de julho. Misturando narrativas, o filme mescla a 7ª arte ao teatro, além de contar com ilustrações de Blutch, um dos cartunistas favoritos de Resnais.

Durante as quase duas horas de longa, acompanhamos a divertida jornada de dois casais que, em meio a ensaios para uma peça amadora, recebem a notícia de que seu grande amigo George está terrivelmente doente, restando-lhe apenas alguns meses de vida. Após o alarde geral, Kathryn, Colin, Tamara e Jack tentam encontrar a melhor maneira de fazer com que a nova realidade não interfira em suas vidas. Acontece que o galanteador George (que não aparece na tela um segundo sequer) acaba gerando uma verdadeira guerra entre Kathryn e Tamara, além de sua ex-esposa Monica. Cientes da situação, o trio de mulheres briga pela atenção do doente, gerando conflitos não só entre as três, como também em seus relacionamentos atuais.

A inovação do filme aparece já na primeira cena: as locações externas são dispensadas, dando lugar a cenários artificiais - impossível não lembrar do icônico "Dogville", de Lars Von Trier. Desprovido de ação e centrado nos diálogos, o longa parece mais com uma peça teatral; a atenção é dada ao humor do roteiro e a interpretação dos apenas seis atores em cena. Aqui, Resnais faz jus ao seu título de mestre, provando que para fazer um bom cinema é preciso apenas de, literalmente, uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.

Ao lado de Godard e Truffaut, Resnais foi responsável pela revolução do cinema francês na Nouvelle Vague dos anos 1960. Com uma filmografia diversificada, sua carreira dedicou-se a conquistar fãs das mais diversas esferas. "Amar, Beber e Cantar" mostra-se, no final, uma história sobre lealdade, amizade e os devires da vida: um prato cheio para o público cinéfilo. Para aqueles que (ainda) não são fãs, um laboratório talvez seja preciso. "Ervas Daninhas" e "Amores Parisienses" são necessários para se apaixonar. Seja na comédia ou no drama, no cinema de arte ou no documentário, Alain Resnais deixa a vida com um privilégio para poucos: o de fazer parte de nossas memórias para sempre.

ASSISTA SE VOCÊ:

- É fã ou já conhece o trabalho de Alain Resnais
- Gosta de filmes em diferentes formatos e narrativas
- Quer se divertir com um filme leve e despretensioso

NÃO ASSISTA SE VOCÊ:

- Não é fã ou não conhece o trabalho de Resnais
- Prefere filmes convencionais
- Espera um filme engraçadíssimo e empolgante

Por Ricardo Archilha

Atualizado em 24 Jul 2014.