Guia da Semana

Existem diretores e diretores. Uns são uma caixinha de surpresa, inovando a cada filme e experimentando ao máximo novas formas de se fazer cinema. Outros, prendem-se ao seu lugar comum, apresentando, a cada lançamento, fórmulas que já estamos cansados de conhecer. Wes Anderson encaixa-se na segunda opção. E isso é ruim? Sim e não. Se você esperar demais, a decepção é certa. Mas se você tiver em mente que, talvez, seja justamente essa a proposta, qual é o problema?

E é exatamente o que acontece em O Grande Hotel Budapeste. O oitavo longa-metragem do diretor de “Os Excêntricos Tenenbaums” e “Moonrise Kingdom” chega aos cinemas no próximo dia 3 de julho, e nos deparamos, agradavelmente, com aquela sensação de "eu já vi isso antes”. A pegada teatral, o tom monocromático, as câmeras conduzidas por veículos, a infantilidade das personagens e até os mesmos atores: no universo de Wes tudo é igual, e ao mesmo tempo, tudo é diferente. É claro que Bill Murray e Owen Wilson, mesmo que com participações relâmpago, não ficaram de fora. Adrien Brody e Jason Schwartzman também dão as caras. Até mesmo Tilda Swinton, disfarçada pela carregada maquiagem de Madame D., está ali.

Enfim… Quem não o conhece, certamente ficará encantado; quem já é fã, notará as semelhanças. Não importa. Anderson fascina o espectador com mais uma fábula de um jeito que só ele sabe contar; consagra-se, assim, como um dos maiores expoentes do cinema americano. Não é à toa que o filme ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim deste ano, derrotando grandes diretores como Alain Resnais e até o brasileiro Karim Aïnouz.

Como não poderia deixar de ser, O Grande Hotel Budapeste centra a sua história no lendário hotel que dá nome ao filme — mas não é só isso. A história de um roubo, a encarniçada batalha pela fortuna de uma família e a delicada construção de uma história de amor permeiam o filme e nos prendem do começo ao fim, recriando o cenário de uma Europa dizimada pelas guerras. Jude Law é um jovem escritor que, nos anos 1980, hospedado em um já decadente Hotel Budapeste, nutre um interesse pelo excêntrico dono do local. Em um jantar, O Sr. Moustafa (F. Murray Abraham) explica: ele não é, e nunca foi, o verdadeiro concierge. Voltamos então à década de 1930, e embarcamos na divertida e emocionante história de M. Gustave (Ralph Fiennes), o grande e único senhorio do Budapeste.

Sem perder o ritmo, Wes Anderson nos conduz pela sua história, aliando diálogos ácidos e aspectos artísticos, como já era de se esperar, impecáveis. Nesse sentido, o diretor não trabalhou sozinho, contando com uma audaciosa equipe, sempre de olho em cada detalhe no que diz respeito à fotografia, figurino e direção de arte. Às vezes, é até difícil saber para que canto da tela olhar: cada frame é cuidadosamente elaborado como uma obra de arte. Estudar o processo criativo do diretor é como assistir a um filme a parte: as esquetes, os desenhos, as referências e até as plantas das locações — tudo é perfeitamente orquestrado. É como se não fosse preciso de uma câmera e atores em carne e osso para poder enxergar tudo com extrema perfeição.

A história em si também é fruto de um extenso trabalho de pesquisa: O Grande Hotel Budapeste buscou na obra do autor austríaco Stefan Zweig a sua inspiração. Wes Anderson seguiu cada passo do escritor, gerando, assim, a sua visão da versão de mundo de Zweig. O paraíso perdido da Viena, um paradoxo entre a tão efervescente cena intelectual e a destruição procedentes da guerra, é essência do filme. É claro que a fantasia e a imaginação dão lugar a qualquer fator histórico. Afinal, estamos falando de Wes Anderson.

ASSISTA SE VOCÊ:

  • Conhece e admira o trabalho de Wes Anderson
  • Aprecia as marcar registradas do diretor
  • Acha que os aspectos artísticos são parte importante do filme

NÃO ASSISTA SE VOCÊ:

  • Não é fã de Wes Anderson
  • Espera algo realmente novo do diretor
  • Prefere um filme mais comercial

Por Ricardo Archilha

Atualizado em 3 Fev 2015.