Guia da Semana



Não há problema nenhum com a tecnologia. Interação, 3D, animações cada vez mais primorosas... Aliás, gosto muito. No entanto, quando me deparo com um filme simples, apenas de atuações, em que o lirismo invade a tela, eu tiro o chapéu.

O Pequeno Nicolau é um desses tesouros. Feito para crianças, fisga todos aqueles que não se limitam a enquadramentos etários. A história é simples: Nicolau desconfia que a mãe está grávida. Baseado na imaginação de um amigo, acredita que, assim que o rebento nascer, será abandonado na floresta. Aflito, recorre aos amigos de escola, todos na faixa dos 7/8 anos, para solucionar o problema. Some ao seu cotidiano dramas e comédias protagonizados por pais amorosos, representantes da típica classe média francesa dos anos 60. Pronto, o enredo está feito.

A identificação com a obra se dá justamente por ela transpor uma fase pela qual todos nós passamos. Quem nunca teve sua turminha quando criança? Como na minha, na sua deveria ter o CDF, o distraído, o abastado. Ainda há a menina bonita e a timidez do garoto, sugerindo o primeiro amor, o sentimento afetuoso dos pais, o quarto de criança, a escola e a professora de primário...

Com elementos tão próximos, é difícil não bater aquele - inevitável - saudosismo ao assistir as peripécias de Nicolau. Criado em 1959 pelo ilustrador Jean-Jacques Sempé e pelo escritor René Goscinny - também criador de Asterix -, o garoto francês ganhou os rolos de cinema com uma obra de primeira linha. O diretor Laurent Tirard declarou que a filha de Goscinny, Anne, só venderia os direitos do livro do pai para virar um filme, caso este se tornasse uma obra-prima. É uma pena que o quarto filme mais visto em 2009 na França encontre espaço somente em salas de São Paulo e Rio de Janeiro. Fica a dica - ou ordem - para resgatar essa preciosidade assim que for para as locadoras.

Leia a coluna anterior de Alessandro Fiocco:

A saga continua

Quem é o colunista: Alessandro Fiocco.

O que faz: Jornalista e dublê de várias outras funções.

Pecado Gastronômico: Louco por pastéis. Mas também apreciador de um bom risoto e de uma boa massa.

Melhor lugar do mundo: O centro de São Paulo desvendado a pé; minha casa para ficar jogado.

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Atualizado em 6 Set 2011.