Ghost writer bem-sucedido e eterno insatisfeito, José Costa (Leonardo Medeiros) acaba de participar de um congresso de escritores anônimos em Istambul. Mas um imprevisto faz com que o seu voo aterrisse em Budapeste, antes de chegar ao Rio de Janeiro. A partir daí, ele passa a viver duplamente entre o casamento com uma egocêntrica apresentadora de telejornal (Giovanna Antonelli) e a descoberta de uma história de amor com a professora Kriska (a atriz húngara Grabriella Hármoni).
Está traçado o fio da narrativa de Budapeste, adaptação do best-seller de Chico Buarque, que entra em cartaz 22 de maio, marcando o primeiro longa de ficção assinado por Walter Carvalho na direção. Famoso pelo seu trabalho como diretor de fotografia, Walter foi responsável pela co-direção de Cazuza - O Tempo Não Para (com Sandra Werneck) e de diversos documentários, como Janela da Alma (em parceria com João Jardim). Após se concentrar apenas nas câmeras durante anos, ele agora comanda toda a produção, voltando seu conhecimento de imagem para realçar os contrastes entre os dois países.
Na produção
O filme se desenrola através da perspectiva de um escritor, provocando o espectador na questão do mundo fantasioso das mulheres ideais, em conflito com a mulher real, em uma atmosfera onírica, repleta de labirintos mentais. "Na hora de criar o roteiro pensamos em coisas que não haviam aparecido no livro. Mas tudo sempre servindo o imaginário do Chico, sem adicionar nada estranho a ele", aponta a produtora e roteirista Rita Buzzar, que após ler o livro em uma só noite, não hesitou em comprar os seus direitos para as telonas.
Walter Carvalho, Leonardo Medeiros e Grabriella Hármoni na coletiva de divulgação do filme
Apesar de uma relutância inicial em aceitar a produção, Chico Buarque não só terminou apoiando, mas como também passou a ajudar na composição de cenas que não aparecem no livro. Desse modo, surgiram quadros como o da estátua do escritor anônimo, o sonho de Costa com a mesma e até a cena em que o barman faz uma referência às dominações russa e alemã. Essas e outras cenas marcantes são resultado de um orçamento de R$ 6 milhões, convertido em investimento junto aos setores privados internacional e brasileiro, apoiado por leis de incentivo.
No set
Segundo Leonardo Medeiros, a principal dificuldade do papel foi além de aprender húngaro, ter que falar o idioma com naturalidade. "Comecei a fazer aulas três meses antes e percebi que nunca aprenderia na minha vida", enfatiza. Para fingir que conhecia a língua, adotou uma entonação de húngaro, como se fosse uma expressão em português. "Recebi um personagem que fala duas línguas desconhecidas: o húngaro e o carioquês. Até hoje não aprendi nenhuma", brinca o ator.
Na livraria acontece o primeiro encontro no filme e na vida real de Leonardo e Gabriella
Mas nada se perde na tradução. Aliás, o clima de descobrimento torna-se essencial para o filme. Pensando em guardar a mística e manter diante das câmeras o frescor do primeiro encontro - entre o escritor brasileiro e a professora da Hungria - na chegada ao país, Walter pediu que Leonardo evitasse sair às ruas de Budapeste e não fizesse nenhum tipo de contato com Gabriella antes das filmagens. "A cena inicial foi gravada sem que os dois se conhecessem, para manter a impressão do primeiro encontro. Fizemos três tomadas, mas a que foi para o ar é a primeira", revela o diretor.
Em comparação com o livro Visão do Paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda, a produtora Rita enxerga no resultado final o caminho inverso em Budapeste: o do brasileiro buscando o paraíso na Europa. "Chico faz uma brincadeira com a obra de seu pai, reformulando o antigo ideal do colonizador", enfatiza. Desse modo, a aproximação, que em um primeiro momento parece uma coisa caótica, mostra-se mais libertadora. "É a busca de um homem pelo paraíso. O de Costa está no Leste Europeu, assim como o paraíso dos europeus estavam no Brasil no passado", resume o diretor.
Fotos: divulgação
Atualizado em 6 Set 2011.