Guia da Semana

De Los Angeles


Com vocês, a conversa com o protagonista de Homem de Ferro, Robert Downey Jr., que participou de uma entrevista coletiva em Los Angeles!

Fábio Barreto: Você considera essa onda de super-heróis como algo totalmente americano? Com toda essa necessidade de salvar o mundo, ter superpoderes, ser imortal, etc.?
Robert Downey Jr.:
Então, devo começar discordando totalmente da pergunta. Super-heróis têm as suas origens na mitologia e a mitologia vem de todo lugar. Hollywood e a cultura norte-americana só pegam isso e transformam tudo em algo bem acessível, como faz com as histórias em quadrinho. Mas também não acho que a idéia de um sujeito dentro de uma armadura avançada tenha sido inventada por algum trovador na Idade Média, algo sobre um cavaleiro numa armadura brilhante salvando todo mundo. Acho que essa coisa toda remete ao período bíblico ou, até mesmo, aos contos babilônios, coisa antiga mesmo. É uma idéia sobre pessoas que fizeram algum avanço inimaginável no campo da ciência e tiveram que convencer todo mundo. Vejo isso tudo como uma idéia do inconsciente coletivo sobre fazer algo maravilhoso para pessoas que não o compreendem muito bem. .?

Alguma vez imaginou que fosse competir com Indiana Jones, Batman e Hulk... Speed Racer?
Robert Downey Jr.:
Obrigado (gargalhada). Esse filme é do estúdio da minha esposa, então, as coisas estão meio tensas em casa. Nunca tinha imaginado isso, sabe, mas, sem dúvida, deveria acontecer todo ano. Faria todo sentido me ver brigando com os pesos-pesados todo ano. Isso me faria sentir muito bem.

E por que demorou tanto para fazer isso?
Robert Downey Jr.:
Ah, sei lá. Eu estava ocupado fazendo outras coisas. Quando começaram com essa coisa toda de blockbuster e "filme antecipado"? Dez, quinze anos atrás? Ainda me lembro bem do dia em que fiz o teste para Chaplin. Entenda e viaje quanto quiser nisso, mas era meu destino participar daquele filme. De qualquer forma, foi um filme, melhor, uma biografia. Senti como se me comunicasse com um grande artista e, fazendo isso, mudou minha vida e minha carreira. Eu fui indicado a prêmios e aquela coisa toda. Mas, quando tudo passou, fiquei deprimido e ansioso, sabe. Para Homem de Ferro, resolvi fazer o teste, pois achei que seria legal para caramba viver esse personagem. Bom, resumindo, anos mais tarde, aqui estou em mais uma coisa do meu destino, assim como era o destino de John [Favreau] e Stan Lee. Embora seja um emprego como outro qualquer, prefiro imaginar que exista algo mais no que eu faço. Não há ironia nenhuma no fato desse personagem surgir nesse momento da minha carreira e da minha vida pessoal.

Gostou do filme?
Robert Downey Jr.:
Fiquei muito feliz com ele. Se você perguntar ao diretor e à equipe de produção, basicamente, eu montei nas costas deles como se fosse um jóquei. Peguei muito pesado na pré-produção de Homem de Ferro. Não que eu tenha sido um babaca, mas não dei mole.

Você encrencou com os robôs-assistentes do seu personagem também?
Robert Downey Jr.:
Quando se faz aquele monte de filme barato, só a atuação salva e os props são tão sofisticados quanto o orçamento do cara dos figurinos consegue descolar. Agora, num filme como esse, com tanto dinheiro e informação, é preciso ter cuidado para não enrolar o espectador sabe. O cara tem que querer voltar num próximo filme e não ficar com raiva da gente. Pode parecer exploração e isso é sacanagem. O grande lance é se virar com o que se tem na mão. Bom, aí vi aqueles dois robôs estúpidos e velhos. Eu só precisava mexer a mão e eles respondiam. E só! Aí eu pensava: para que ter essas coisas no filme? Bom, o personagem tem tudo mesmo, então, pensei neles como robôs que o Stark construiu na juventude e que ficaram por ali. Eles não prestam para nada, mas achei que dar nomes a eles ajudaria a criar proximidade. Chamei um deles de Você (ele é tão imprestável que não merece um nome) e o outro de Bobo (do original Dumb), por ser infinitamente mais inútil que o outro. Esse tipo de coisa ajuda a transformar o Homem de Ferro em algo mais plausível.

Como a Marvel se saiu fazendo o primeiro filme deles?
Robert Downey Jr.:
É, então. Toda vez que ouço isso fico meio P da vida. Eles vêm com aquele papo de "gostaria de agradecer a todo mundo, a família 20th Century Fox... [gargalhadas]. Família? Eles não dão a mínima se você vira patê num acidente de carro no dia seguinte. No começo era para ser apenas o Avi - assinei com ele - aí apareceram esses outros caras (acho que eles são acionistas poderosos ou algo assim) e um sujeito chamado Kevin Feigy, que aparecia no set todos os dias e vinha falando sobre uma cena e puxava o saco dos roteiristas. [gargalhadas] Aí ele perguntava: o que foi Robert? ´Temos que reescrever!´ Cheguei a um ponto em que o pessoal da equipe me pedia para forçar alguma mudança para eles saírem para lavar a roupa ou ver um filme com a namorada. Eles me adoravam! [gargalhadas]

Depois de tudo isso, acho que não vão querer você no próximo filme, hein?
Robert Downey Jr.:
Quê? É exatamente por isso que estarei no próximo filme!

Alguma vez já brigaram para escalar você? Como foi em Homem de Ferro?
Robert Downey Jr.:
Eu normalmente faço os testes. O lance é que eu sei me preparar. Melhor do que ninguém. É até meio estúpido, mas eu seria capaz de ficar, por exemplo, uns seis anos me preparando para fazer as três cenas do teste de Homem de Ferro. Eu mergulho tanto nessa coisa, que tenho vários planos traçados com improvisos e outras opções para a cena. Chego a reescrevê-las várias vezes para entender direitinho. Na verdade, ninguém é tão retardado quanto eu para fazer isso [risos]. Eu decoro aquelas coisas.

E quais foram as cenas?
Robert Downey Jr.:
Uma delas não está no filme, então, não vou contar. Outra é aquela dentro do blindado do exército, com os soldados. A última foi aquela quando a repórter da Vanity Fair tenta dar uma lição de moral e eu termino transando com ela. Entendeu o que eu disse antes? Eu piro tanto em cada cena, por pura paixão mesmo, que é praticamente impossível aparecer alguém tão ligado na cena quanto eu. Se aparecer alguém, vai dali direto para o sanatório, pode apostar!

O que há de legal no seu personagem? Sem mencionar a armadura, claro.
Robert Downey Jr.:
Ele é um cara muito solitário, mesmo sendo o sujeito mais poderoso do mundo, seja por posses ou influência. É triste ver um sujeito cujos melhores amigos são computadores e robôs. Ele precisa ter uma vida, urgente! Ou seja, fazer algo que valha a pena - não estou dizendo que não devemos proteger a América e tudo mais -, pois ele não curte a idéia de viver às custas de mortes. Tudo isso junto faz dele um sujeito isolado, mas curioso.

Você vestiu a armadura inteira ou era efeito especial?
Robert Downey Jr.:
Claro! Umas duas vezes só, mas tive meus momentos. Foi legal, mas eu e os dublês tínhamos tamanhos diferentes, então, sempre havia algum desconforto. Todo mundo tinha o tamanho de cabeça parecido, mas alguém sempre era mais alto ou tinha um pé maior. Doía um pouco. A armadura foi feita para comportar vários biótipos, e eu estava nesse meio. De qualquer modo, não dava para não se empolgar com a idéia de "ser o cara da armadura".

Foto: Divulgação

Leia as entrevistas anteriores do nosso correspondente:

  • Miley Cyrus: Veja como foi o bate-papo com o furacão teen Hannah Montana

  • Rachael Taylor: Novata começa a fazer sucesso no cinema no terror Imagens do Além

    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 6 Set 2011.