Guia da Semana




Ela não usa máscaras, não tem superpoderes, nem identidade secreta. Essa é Verônica, a nova personagem de Andréa Beltrão, que agora vive uma professora de ensino público em uma crise da meia-idade. Após um casamento fracassado, uma carreira morna e muitas desilusões, ela pensa em abandonar tudo. Isso até ter que aguardar no pátio do colégio os pais de Leandro, que acabam de ser mortos pelo tráfico.

Com um enredo que fala sobre o amor e a descoberta da maternidade, Verônica é a nova obra do cineasta brasileiro Maurício Farias, autor de o Coronel e o Lobisomem e A Grande Família - O Filme (este último recordista de público do cinema nacional em 2008). Auxiliada pela fotografia de José Guerra e trilha sonora de Branco Mello, a película foge do gênero comédia (que permeou as produções anteriores de Farias) e envereda-se pela ação, gênero com pouca tradição no cinema brasileiro.

O longa também conta com a participação de Marco Ricca no papel de Paulo, policial ex-marido da protagonista, e marca a estréia de Matheus de Sá, como o aluno Leandro. A produção ganhou o prêmio de Melhor Filme da Juventude, realizado durante a 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Fugindo dos filmes temas

O cenário para o thriller é o Rio de Janeiro dos conflitos sociais latentes - do Catete ao Rio das Pedras - com a guerra do tráfico, a corrupção policial e a precariedade do ensino. "A idéia do filme é alfinetar duas coisas: o cidadão e o Estado. O cidadão que foi se tornando cada vez mais insensível para proteger a vida. Em relação ao Estado, a ideia é mostrar suas instituições falidas, com legislações que acabam indo contra o direito à vida", aponta Farias.

Para se distanciar do gênero Favela Movie, o diretor focou as lentes na determinada e frustrada personagem principal. Andréia (que também é esposa do diretor) ajudou na construção da personagem. "Sempre faço isso nos meus textos. Como o roteiro já informa muito, você pode enxugar o que está dizendo. Rapidamente apropriei-me da Verônica".

Cenas realistas

O baixo orçamento - cerca de R$ 500 mil - não comprometeu a qualidade do filme. Para isso, o diretor criou uma atmosfera realista, fazendo uso da câmera escondida, deixando os atores em ponto de filmagem e captando as imagens através de uma barraquinha, com um pequeno buraco para a lente. Além disso, o uso de câmeras 16 mm e 35mm, foi bem aproveitado, trazendo mais dramaticidade às cenas de perseguição, com o uso da fotografia granulada.

Para compor a atmosfera do filme, elenco e direção inspiraram-se em diversos títulos do gênero, com destaque para Glória, de Nick Cassavetes. Em relação à semelhança, a atriz principal não se faz de rogada. "Adoramos o estilo do Cassavetes, recheado de ação, suspense, perseguição. A gente se alimenta das coisas que admira", diz Andréa, que já se sente motivada para outras produções do tipo. "Agora quero ser o Bruce Willis. Se alguém estiver fazendo um filme de ação e quiser me chamar, vou na hora!"

Atualizado em 6 Set 2011.