
Assisti a dois filmes do diretor argelino Tony Gatlif. O primeiro deles foi Exílios (2004), numa daquelas situações quando vemos um filme "quase sem querer" e, dia de sorte, saímos do cinema assim, impressionados e satisfeitos. Foi só então que descobri quem era Romain Duris, o ator francês que interpreta Zano (e que pode ser visto, entre outros filmes, em À Francesa (2003), Albergue Espanhol (2002), Bonecas Russas (2005) e no belo De tanto bater meu coração parou, também de 2005). Foi assistindo a Exílios, também, que descobri o diretor, roteirista, compositor e músico... Tony Gatlif.
Ele deve ser assim, meio como eu (mas me entendam, ele tem quase 60 e eu, 25): alguém para quem música é algo fundamental. Indispensável e imprescindível. Tanto em Exílios quanto em Transylvania (este do ano passado, o segundo filme de Gatlif a que assisti, ainda em cartaz em São Paulo) temos a impressão de que há música o tempo inteiro. As cenas mais importantes são acompanhadas de fortes temas, quase todos compostos pelo próprio diretor e o mais marcante: são sempre canções típicas do local onde os personagens estão. Música cigana, espanhola (flamenco), africana (na Argélia), música para rituais de exorcismo e macumba. Até a música romântica cafona que toca na rádio do carro é dele.

Como cinema, em si, alguns dizem que deixa a desejar. Eu não. Gosto do esquema road movie (em Exílios, um road movie sem carro) e sua velha proposta: a busca. Quem parte geralmente está em busca de algo. Busca interior? Tudo, no fim, sempre é uma busca interior. Origens, pessoas, lugares, sentimentos, razões, motivos e causas, tudo é "buscado" e nem sempre encontrado. Os personagens de Gatlif são pessoas livres, a princípio sem raízes, soltas no mundo. E talvez essa necessidade de encontrar algo seja mesmo inerente a qualquer um, mesmo aos mais "caretas", mesmo àquela minha tia, que nunca viajou pra muito longe da minha cidade, no interior de SP.

Entregue-se, enfim. Assistir a esses filmes é, acima de tudo, aprender a "abrir" os ouvidos e os olhos. Experiências sensoriais. Momentos para ver, ouvir e sentir, sem racionalizar muito. A alma agradece.
Fotos: Divulgação
Leia as colunas anteriores do Fabio:
? A Vida Sonhada dos Anjos: Jovens normais e um incomum choque com a realidade marcam o filme
? Sonhar é para os jovens: Paris, revolução, anos 60. Utopia e charme são retratados Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci.
? Os Incompreendidos: François Truffaut e os primeiros passos da nouvelle vague.

O que faz: é jornalista.
Pecado gastronômico: coxinha.
Melhor lugar do Brasil: São Paulo nos feriados.
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.