Guia da Semana

O uso do sexo como arma parece ser um dos temas do momento. Com a popularização de termos como “revenge porn” e “slut shaming” na internet, o suspense “O Garoto da Casa Ao Lado” poderia vir numa boa hora, aproveitando a polêmica para reforçar a luta contra esse tipo de abuso.

Poderia, mas não o faz. O longa, escrito pela estreante Barbara Curry e dirigido por Rob Cohen (“Velozes e Furiosos”), prefere mostrar apenas mais uma história de violência sem justificativa - ou que se explica por um exagerado transtorno mental, simplificando a questão e evitando maiores análises.

O filme começa bem. Claire (Jennifer Lopez) é uma professora de literatura que se separou recentemente do marido, depois de descobrir que estava sendo traída. Os papéis ainda não foram assinados e o filho, Kevin (personagem bastante manipulável, diga-se de passagem), ainda nutre esperanças de que os dois voltem a viver juntos. Mas ela não quer voltar atrás e, numa tentativa desesperada de seguir em frente, acaba se envolvendo com o novo e sedutor vizinho.

Cá entre nós, o deslize é compreensível: apesar de afirmar que tem “quase 20 anos”, o personagem interpretado por Ryan Guzman parece uns dez anos mais velho, tem o corpo escultural e ainda se esforça para agradar a vizinha. É uma pena que sua idade mental não passe dos 15 anos.

Há um problema, porém, muito maior que a diferença de idade: o garoto acabou de se transferir para a escola onde Claire trabalha e está mais do que disposto a usar isso para chantagear a professora.

O que começa como um drama evolui para o suspense, impulsionado por uma trilha sonora que martela a sensação de que “algo sinistro está para acontecer”. A iminência de uma reviravolta, entretanto, não evolui da forma como o público espera e o filme toma rumos de terror trash – com direito a corpos caindo do armário e olhos esmagados.

Com estreia marcada para 26 de março, “O Garoto da Casa ao Lado” lembra os filmes que passavam na TV nos anos 80 e 90, cheios de sensualidade e sangue e sem um pingo de conteúdo. A diferença é que aqueles, pelo menos, não se levavam tão a sério.

Por Juliana Varella

Atualizado em 17 Mar 2015.