Guia da Semana

Los Angeles


John Moore é uma pessoa sem restrições. Encarou dirigir o remake de A Profecia e depois meteu as caras em Max Payne, adaptação do jogo para computador homônimo para o cinema. Chamou Mark Wahlberg (foto) para o papel principal, inventou novos modos de filmar cenas de ação e ainda por cima, armou tudo para um segundo filme. Nada que um irlandês nato não seja capaz de fazer, claro, xingando adoidado na defesa de seu ponto de vista e disposto a fazer filmes divertidos.

O diretor conversou com o correspondente do Guia da Semana em Los Angeles, pouco antes da estréia de Max Payne nos cinemas norte-americanos, onde entrou em cartaz em primeiro lugar e foi bem-sucedido nas bilheterias. A estréia brasileira acontece na próxima semana, mas você já acompanha a entrevista aqui com exclusividade!

Há grande expectativa do filme ser repleto de ação. Mas aí vemos drama com outro tom e um equilíbrio diferente para esse gênero.
John Moore:
Acho que as pessoas se cansam de repetição. Se você transa com a mesma pessoa todo dia vai enjoar, não importa quem ela seja! (risos) O importante aqui é conseguir manter o filme interessante nos intervalos entre a ação, o que requer uma técnica bem apurada. E claro, vai muito da sorte e cometemos muitos erros aprimorando isso. Acho que acertei desta vez! (risos)

Como funciona essa transferência de uma mídia para a outra? Há muita preocupação com o material base?
John Moore:
Não tem como nesse caso. A coisa é mais ou menos assim: quando o roteiro fica pronto, o cronômetro é zerado e começa a corrida contra o tempo. Há um filme a ser feito. Então, ficar pensando muito nisso ou naquilo pode prejudicar o foco do trabalho. É preciso confiar no roteiro. O jogo serviu para criarmos uma ótima base e contextualizar tudo que faríamos. Embora esse gênero não seja genialmente escrito como os livros de Tolstoi, há muita profundidade em alguns casos. A maior complicação mesmo foi chegar num roteiro que respeitasse o material base. Daí em diante, é mandar bala.

Mesmo assim, os fãs vão cobrar esse "respeito", certo?
John Moore:
Putz, posso me enrascar aqui! Vou ter que escolher bem o que dizer sobre isso. Como sou um jogador, assim como os fãs que não participaram do processo de realização, posso garantir que nunca faria algo que não me agradasse. Por isso acho que faço parte deles. Não sou um cara externo a esse mundo. E sou extremamente chato! Mas por outro lado, esse respeito não pode podar a individualidade do diretor. Afinal, se eu fizer algo pensando no que os outros imaginam, eu não sou o diretor, não é verdade? É uma separação meio complicada. Então cada um desses lados entra em cena de acordo com a situação. Não nasci fazendo filmes e gosto de viver o momento. Alguém pode decidir que eu não presto para isso amanhã. Então tudo bem, pelo menos fiz o que achava certo.

E são esses caras que vão ajudar na divulgação na internet...
John Moore:
Exatamente, mas todo mundo precisa compreender que ninguém adapta um produto de sucesso por conta de seu valor intelectual. Afinal, Harry Potter não foi para o cinema por ser um livro relevante para o amadurecimento de uma geração e por sua redação genial! (risos) E ficar ouvindo tudo que os fãs têm a dizer, simplesmente enlouquece qualquer um, porque se eu fizer isso vou ter que colocar Max Payne com cabelo loiro, pois uma pesquisa em um site de Nebraska disse que 87% da população feminina prefere assim! Pô! Não dá!

Você sempre esteve envolvido com essa questão, não é mesmo? Afinal de contas, refilmar A Profecia afetou milhares de cinéfilos no mundo todo.
John Moore:
Interessante falar sobre isso. Especialmente pelo fato de serem dois grupos distintos. A Profecia envolveu uma faixa etária mais velha, que ficou com medo do filme no cinema e que gostaria de manter aquela sensação original. Já Max Payne tem mais a ver com a garotada. Porém, o jogo tem mais de 12 anos de existência. O maior público de interesse aqui são caras como eu, com 30 e tantos... Você pensou que eu tivesse 21, né? (gargalhadas). Esse pessoal gosta do jogo, mas não é fervoroso. Espero que ninguém apareça na minha porta às quatro da madrugada gritando: você acabou com o meu jogo, seu imbecil! (risos).

O que transforma Max Payne num sujeito autêntico, especialmente sob o ponto de vista da atuação de Mark Wahlberg?
John Moore:
O P*** dele! (gargalhadas insanas) É fenomenal! A melhor resposta para isso é a naturalidade com a qual Mark se comporta e faz sentido para esse papel. Ele não precisa fazer caras e bocas para se transformar em Max Payne. É algo que faz parte dele. Isso sem levar em conta toda a experiência de vida que ele tem, especialmente com violência.

Max Payne aborda a questão das drogas. Isso pode ser um problema, já que pode ser considerado apologia por muitos críticos e espectadores?
John Moore:
Fiz questão de tratar de uma droga que não existe. Então não é possível fazer apologia a algo que não existe. O maior barato ali é entender que a droga pode ser um placebo. Mas claro que os chatos de plantão não vou pensar nisso, afinal, é mais fácil detonar antes de pensar um pouco mais a respeito. Ela leva o usuário a outro mundo, porém ele pode existir ao nosso redor sem ninguém se dar conta. Acho que os guerreiros nórdicos tinham essa abertura e a mitologia envolvendo as Valquírias é fantástica nesse aspecto.

Quão complexo pode ser um jogo da década de 90?
John Moore:
Tudo é bem simples. Ele tinha uma vida assim, agora tem uma vida assado. Não existem grandes complexidades envolvidas com esse personagem. É entretenimento feito para divertir. Quis fazer algo com ele, pois Max é muito bacana!

Você ousou muito colocando um pedacinho do segundo filme depois dos créditos. Já tem algo em mente?
John Moore:
Ainda não, mas, sem dúvida, faremos um próximo e a pergunta é: por que não? Há um segundo jogo. O filme não resolve todas as pontas e temos todo o necessário para continuar entretendo o público. Não sei se vou dirigir, mas podem contar comigo se quiserem. Adorei fazer esse filme!



Leia as matérias anteriores do nosso correspondente:

  • Corey Feldman: direto dos filmes dos anos 80, ator volta em Garotos Perdidos 2

  • Tobin Bell: Protagonista de Jogos Mortais não considera seu personagem um ícone do terror.

  • Mila Kunis : A estrela de Max Payne fala sobre carreira, filmes e vídeo games.


    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 6 Set 2011.