Guia da Semana

De Los Angeles


Bastam um chapéu marrom rolar pelo chão e os leves acordes compostos por John Williams para que Indiana Jones apresente seu cartão de visita ao século XXI. Os cabelos grisalhos não escondem a idade, mas o espírito continua o mesmo que conquistou o público em Caçadores da Arca Perdida, Templo da Perdição e A Última Cruzada. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é aventura do começo ao fim que leva o professor Henry Jones Jr. a um mistério que vai muito além das catacumbas e dos mitos antigos. Muito além!

É tarefa quase impossível citar o nome Indiana Jones sem pensar em Harrison Ford, Steven Spielberg e George Lucas. Levou anos para que o trio chegasse num acordo sobre a realização de um novo filme e, eventualmente, sobre o roteiro a ser filmado. Spielberg assumidamente resistiu muito desta vez, contudo, diante da forte insistência de Ford e Lucas, juntou-se aos amigos para dirigir Jones mais uma vez. Assim que entrou no barco, porém, assumiu o discurso de que estava envolvido por causa dos fãs e que o filme seria para eles. E o reflexo dessa postura é visto no filme, com inúmeras referências e muitos cuidados técnicos para que o clima fosse o mesmo dos filmes anteriores.

A história se passa nos anos 50, quando a Guerra Fria ainda fervilhava, a corrida armamentista nuclear crescia vertiginosamente e, claro, a famosa caça às bruxas assustava americanos com a "ameaça vermelha". Assim como em A Última Cruzada, Indiana Jones está em apuros nas mãos dos russos, liderados pela militar linha dura Irina Spalko (Cate Blanchett, numa interpretação bastante irregular). É ela quem chama atenção para a importância do crânio de cristal do título original (skull = crânio, não caveira como ficou o nome em português). Há um grande poder no cabeção alongado e tudo leva a crer que ele seja a chave para Eldorado, a cidade de ouro.

Embora não queira estragar a história, podemos analisar O Reino da Caveira de Cristal estruturalmente. Com roteiro de George Lucas e David Koepp (e inúmeras contribuições de outros roteiristas que passaram pelo projeto), o filme remete diretamente aos anteriores em diversas ocasiões: a perseguição, Indiana preso e precisando escapar de algum modo bastante atrapalhado, o item em foco passando de mão em mão com doses de bom-humor e, claro, Indy torcendo tanto quanto o público para que seus planos malucos dêem certo.

É nesse ponto que muitos críticos têm desmerecido o filme, por "não ter inovação alguma". O fato é que Indiana Jones não precisa de inovação, mas sim de uma missão maluca e fictícia e de vilões caricatos que, invariavelmente vão se dar mal por ganância no final da história. Claro que poderia ter ido além, caso o roteirista não tivesse sido George Lucas (que insiste em reescrever suas histórias à exaustão, assim como fez em Guerra nas Estrelas e O Retorno de Jedi), mas a fórmula é boa demais para que ele conseguisse estragar. E, claro, a presença de Steven Spielberg evita que exageros sejam cometidos e o bom senso impere na produção. O resultado é um Indiana Jones mais engraçado, assumindo - e sentindo - a idade. A impressão é de que o espectador entra no cinema na mesma época de A Última Cruzada, só com alguns anos de diferença, e assiste a uma continuação quase imediata da série. Tudo parece o mesmo. Muito disso é fruto da decisão de Spielberg de filmar tudo em película, editar manualmente e utilizar os mesmos recursos da década de 80 para manter a identidade visual.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal aborda política, espionagem e dedica boa parte de sua história à lealdade, entretanto a grande veia desse filme é mesmo a comédia e as cenas engraçadas. Não há como não rir da cena que envolve cobras, das boas sacadas de Jones quando fala da idade ou quando descobre que Marion Ravenwood (Karen Allen, num papel muito similar ao de Susan Sarandon em Speed Racer, que só figura na maior parte do tempo) está de volta. Até mesmo a primeira tomada, que brinca com o logo da Paramount, já mostra que o espectador está diante de um filme divertido. E isso, excetuando-se os chatos de plantão, ninguém vai poder negar. Indiana nunca precisou ser sério ou tentar mudar o mundo, sua função é divertir com o inusitado e o impossível. Exatamente por isso é preciso vê-lo sem medo e apenas com a certeza de que Indy está de volta e ainda tem muito gás pela frente!

  • Confira a entrevista com o produtor dos quatro longas da franquia Indiana Jones!


    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 6 Set 2011.