Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira
Bráulio Mantovani, Cris Vianna, Michel Gomes, Bruno Barreto, Marcello Melo Jr. e Gabriela Luiz na coletiva de Última Parada 174.

Na semana em que o Brasil se comove com o enterro da jovem Eloá Cristina, morta após um seqüestro acompanhado ao limite pela imprensa, chega aos cinemas o filme Última Parada 174, que parte de um caso semelhante acontecido em 2000. Na ocasião, Sandro Dias do Nascimento tomou como reféns os ocupantes de um ônibus na Zona Sul do Rio de Janeiro, num caso que o Brasil todo assistiu pela televisão durante seis horas até o trágico final, em que uma das vítimas e o próprio criminoso perderam suas vidas.

O diretor Bruno Barreto não acompanhou nenhum dos dois casos, mas assim que viu o documentário Ônibus 174, de José Padilha, se comoveu com a história da mulher que tinha a convicção de ser a mãe de Sandro. Assim, decidiu contar a trajetória do jovem sob seu ponto de vista. "Desde o início a gente assumiu que era um filme de ficção. Teve o documentário, então, para mim, foi muito importante distanciar, para que ninguém diga que é o mesmo filme, um filme que não teria sentido ser feito", revela o roteirista Bráulio Mantovani.

Bráulio chegou a procurar a tal mulher que pensava ser mãe de Sandro, mas não foi tão bem recebido como desejava. Ela se mostrou receosa, falava baixo, tanto que muitas vezes o roteirista não entendia o que ouvia. Isto foi bastante angustiante para ele, que pensou em desistir do projeto naquele momento. Como a idéia era não se ater na realidade, mas criar uma ficção em cima do que aconteceu, Mantovani seguiu em frente na obra. "Tirando a convicção de que ela era a mãe real de Sandro, não tem nada dela no filme", confessa o roteirista, que afirma que a mulher chegou a lhe lançar um sorriso irônico ao ser questionada sobre o teste de DNA que foi feito, como se não acreditasse no exame.

Foto: Gabriel Oliveira
Michel Gomes e Bruno Barreto atentos à entrevista.

Para dar veracidade, Barreto sentiu que não poderia usar rostos conhecidos. Para ele, o simples fato de colocar nos papéis principais atores que tivessem histórias de vida já exploradas pelas páginas de revistas iria influenciar no resultado. Para isso, convocou amadores, de onde conseguiu os três principais da trama: Michel Gomes, o Sandro, Marcello Melo Jr., que faz Alê Monstro, e Gabriela Luiz, a Soninha. Preparados pelos irmãos Ricardo e Rogério Blat, eles tiveram todo o apoio para entrar nos personagens sem problemas. "Nós tivemos psicólogos nos sets, mas graças a Deus ninguém precisou", brinca Michel quando questionado sobre a dificuldade em sair do personagem.

Com 19 anos, o protagonista de Última Parada 174 não lembra mais como foi quando aconteceu o seqüestro do ônibus. O que soube foi de conversas com familiares mais velhos ou assistindo ao documentário de José Padilha. "Na época eu tinha 11 anos. Meus pais não iam me colocar na frente de uma TV para ver uma tragédia daquelas". Michel foi um dos primeiros a fazer o teste para o personagem. Apesar de Bruno gostar dele logo de início, preferiu continuar por um ano, para ter certeza de sua decisão.

Foto: Gabriel Oliveira
Bráulio Mantovani, Cris Vianna, Michel Gomes, Bruno Barreto, Marcello Melo Jr. e Gabriela Luiz.

Marcello, Gabriela e a experiente Cris Vianna chegaram mais tarde, quando o elenco já estava praticamente definido. "Foi um trabalho muito intenso para pegar o bonde andando, mas andando bem rápido", diz o diretor. Para isso, a ajuda dos irmãos Blat foi fundamental para que o elenco se integrasse. Como resultado, o longa foi o escolhido pelo Brasil como seu representante para concorrer a uma vaga no Oscar 2009. Barreto, no entanto, sabe que não bastam bons atores e preparadores de elenco para que a bilheteria seja adequada. "O público não é burro. Não adianta ter só a verdade dos atores, o diretor tem que ter a sua verdade".

Para ele, o filme era necessário, já que não via há tempos uma obra com este tema em que o personagem fosse sujeito e não objeto, como Bruno crê ser o caso de Tropa de Elite e Cidade de Deus, roteirizado pelo mesmo Mantovani. Então, o cineasta decidiu por levar novamente aos cinemas a vida de Sandro, tentando não mostrá-lo como um criminoso, mas como vítima. "É uma coisa que não era um seqüestro, virou um seqüestro. Foi uma sucessão de erros. Nada garante que ele ia assaltar aquele ônibus". Tanto sobre o personagem, como sobre o Sandro da vez, Lindemberg, Barreto tem sua teoria: "É uma necessidade de que as pessoas vejam a sua dor".

Atualizado em 6 Set 2011.