Guia da Semana

Fotos: divulgação

Toy Store 3 bateu o recorde de bilheteria de Shrek 2

Apesar da temporada de 2010 ficar marcada como histórica para o cinema brasileiro, as produções internacionais não ficaram para trás, com o lançamento de blockbusters aclamados pelo público, longas de diretores consagrados e a descoberta de alguns filões de sucesso.

O primeiro deles é Avatar que, embora tenha estreado em dezembro de 2009, atravessou os três primeiros meses deste ano na liderança das salas, apostando na tecnologia 3D e incentivando diversas outras produções a seguirem o mesmo caminho. O filme de James Cameron acabou galgando o segundo lugar com a melhor arrecadação em 2010.

O gênero infantil também se apoiou nos efeitos tridimensionais e trouxe para as grandes telas Toy Story 3 e Shrek para Sempre. O primeiro foi considerado o melhor da série e o único a conseguir bater o recorde mundial de bilheteria do simpático ogro, com US$ 648 milhões. Já o último entrou em cartaz em junho e manteve sua hegemonia entre os infantis no país, conquistando a terceira posição entre os mais vistos.

A temática vampiresca foi outra grande redescoberta de Hollywood, alavancada pela saga Crepúsculo, em 2009, com Eclipse, em 2010. Ainda ni reino do fantástico, o bruxinho de Hogwarts deu o ar da sua graça no final do ano em Harry Potter e as Relíquias da Morte, a primeira parte do último filme da série que arrecadou mais de US$ 5,5 bilhões em todo mundo.

E quem pensa que em 2010 as mulheres se destacaram somente na política, enganou-se. Sandra Bullock entrou para a história do cinema mundial ao conquistar o Oscar de Melhor atriz, com Um Sonho Possível, no mesmo ano em que ganhou o de Pior Atriz do Mundo (Framboesa de Ouro) em Maluca Paixão. De uma forma mais gloriosa, Kathryn Bigelow se consagrou ao ser a primeira mulher a levar o Oscar de Melhor Direção e Melhor Filme, com seu Guerra ao Terror.


O renomado cineasta americano Francis Ford Coppola apresenta a história de um homem que se distanciou da família


O cinema autoral não ficou de lado e a volta de consagrados diretores marcou a cena. Michael Haneke levou o prêmio de melhor filme estrangeiro com A Fita Branca; Alain Resnais misturou gêneros e desconcertou o público com Ervas Daninhas; e Francis Ford Coppola chegou ao Brasil em dezembro só para o lançamento de sua película Tetro.

E, para terminar o ano, o longa baseado na história do fundador do Facebook, A Rede Social, de David Fincher, acaba de receber seis indicações para o Globo de Ouro e se transforma na grande aposta para o Oscar em 2011. Confira a visão dos especialistas

Ravi Santana

Foi redator de cinema pelo site Guia da Semana e Terra. Dirigiu o documentário É Fácil Fazer uma Canção e é autor do blog Verdade Alternativa

Top 5

1- A Fita Branca - Apesar de ter deixado escapar o Oscar de melhor filme estrangeiro para o argentino O Segredo dos Seus Olhos, este drama do alemão Michael Haneke é, na minha opinião, o melhor longa lançado por aqui em 2010. A fotografia em preto e branco, a acidez do roteiro, a crítica social e política, tudo ajuda na criação de uma obra de arte.

2- Ervas Daninhas - Aos 88 anos, o francês Alain Resnais, um dos inspiradores da Nouvelle Vague, não precisa provar nada a ninguém. Assim, aqui ele faz um filme totalmente despretensioso e nonsense com diversas referências e críticas à própria sétima arte.

3 - Ilha do Medo - Enquanto muitos preferem A Origem, o filme de Leonardo DiCaprio que realmente coloco entre os melhores é este, assinado por outro grande nome do cinema, Martin Scorsese. Aqui, em vez de entrar na mente dos outros, ele tenta entender o que acontece na dele quando investiga um desaparecimento em um hospital psiquiátrico. Mesmo que o final não seja tão imprevisível, ótimos roteiro e direção fazem desta uma obra espetacular.

4 - Tudo Pode Dar Certo - Apenas Woody Allen para fazer um dos filmes mais otimistas já realizados usando para isso um protagonista pessimista e suicida. O filme, um dos melhores da carreira do diretor, é daqueles para se ter sempre por perto e assistir novamente quando bate aquela tristeza ou aquele sentimento de que as coisas não estão indo bem.

5 - Toy Story 3 - Poucas vezes a terceira parte de uma trilogia consegue o feito de superar as duas primeiras, como acontece na animação da Pixar, a melhor lançada no ano de 2010. Desta vez com um tom muito mais pesado, o filme pode encantar as crianças, mas dá aos mais crescidos um sentimento de nostalgia pela infância que não volta mais.


O longa é mais uma parceria do ator Leonardo DiCaprio e Martin Scorsese


Não foi desta vez...


1- Alice no País das Maravilhas - A junção de um dos mais inventivos diretores do cinema comercial com um clássico da fantasia poderia ter resultado em uma obra comentada por muito tempo. Infelizmente, neste caso, o filme de Tim Burton baseado no livro de Lewis Carrol só foi falado antes de estrear. Sem nenhuma novidade, o longa caiu no esquecimento pouco depois de ser lançado.

2 - Furia de Titãs - Batalhas épicas da mitologia grega em 3D também poderiam render uma obra interessante, mas não foi desta vez. Com um roteiro bastante superficial, o filme já perdeu metade de sua qualidade, que seria a história. Para completar, os efeitos em terceira dimensão foram feitos de qualquer jeito, com o objetivo de ganhar dinheiro, e não valem a pena.

3 - A Vida Durante a Guerra - Se Todd Solondz chamou a atenção com seu ousado Felicidade, em 1998, desta vez gerou uma grande decepção em seus fãs com esta continuação. Com atores bem menos carismáticos do que no primeiro, o longa também traz um roteiro também bem mais fraco e mesmo a direção deixa a desejar. Passou despercebido e não merecia mais.

Cyntia Calhado

Repórter e crítica do Guia da Semana, autora do site de cinema nacional contemporêneo Caleidoscópio e do blog A Cinéfila.

Top 5

1 - O Profeta - Este longa francês que levou o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes de 2009 é, na minha opinião, o melhor filme de 2010. Com seu virtuosismo, domínio da narrativa clássica, habilidade em manutenção da tensão e ritmo cinematográficos, Jacques Audiard parte dos gêneros dos filmes de máfia e de prisão para contar esta história que fala sobre criminalidade, religiosidade, filiação, racismo e educação. O longa discute a configuração de forças política e social na França por meio da história de um jovem de origem árabe que se transforma em chefe da máfia corsa.

2 - A Fita Branca - Vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2009, o longa elabora poderosa reflexão sobre as raízes do nazismo ao mostrar estranhos incidentes vividos por moradores de uma pequena aldeia alemã. Autoritarismo, submissão e violência permeiam esta opressiva sociedade retratada por Haneke em uma belíssima fotografia em preto e branco.

3 - Polícia, adjetivo - Depois de A Leste de Bucareste, que ganhou a Camera D'Or de Cannes em 2006, o diretor Corneliu Porumboiu lança este filme policial que foge à regra, já que em vez das perseguições cheias de adrenalina, mostra o tedioso cotidiano de Cristi, que segue e observa três estudantes usuários de haxixe para descobrir qual deles é o traficante. O filme se desenvolve de forma previsível até a cena final em que o delegado usa a semântica para aniquilar o questionamento ético que o protagonista apresenta sobre o papel da subjetividade na atuação profissional. Neste momento, o título fica claro, e, o filme, absolutamente brilhante.

4 - Tudo Pode dar Certo - Interessante comparar os dois lançamentos de Woddy Allen este ano. Este que integra a lista é otimista, cômico e se filia às comédias da década de 80 do cineasta (e à sua declarada influência dos Irmãos Marx), enquanto o cínico e cruel Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos se alinha a seus filmes mais sombrios, como Match Point e Crimes e Pecados, reflexo de suas pretensões dramáticas. Como a vida é muito dura e os bons comediantes raros, fico com este longa estrelado por Larry David, o melhor alter ego de Woody Allen.

5 -Tetro - Apesar de um certo exagero melodramático e alguns tropeços, Tetro é uma poderosa obra em homenagem às artes. Filmado na Argentina com refinada fotografia em preto e branco, o longa sobre rivalidade familiar é protagonizado por Vincent Gallo, em notável interpretação. A ousada produção representa a volta de Coppola ao cinema autoral que o consagrou com obras como O Poderoso Chefão e Apocalipse Now.

Não foi desta vez...

1 - Nine (Rob Marshall) - Fellini se mexeu no túmulo quando este filme foi lançado.

2 - Preciosa (Lee Daniels) - Melodrama forçadíssimo construído com base no ditado "nada é tão ruim que não possa piorar".

3 - Sex and The City 2 (Michael Patrick King) - Consumismo desenfreado e conflitos rasos fazem desta sequência um dos micos do cinema em 2010.

Atualizado em 6 Set 2011.