Guia da Semana

Foto: divulgação/Zeca Guimarães


Depois de seis anos fora do ar, o casal mais maluco da televisão volta ao cinema. Desta vez, Rui e Vani sentem o desgaste dos 13 anos de noivado e procuram uma terceira pessoa para apimentar a relação. Em meio a peripécias, Os Normais 2 - A Noite Mais Maluca de Todas, estreia em 28 de agosto com grande elenco - Cláudia Raia, Daniele Winits, Drica Moraes e Alinne Moraes. Serão distribuídas 400 cópias, marca inédita para uma produção nacional.

Vasculhando a madrugada carioca em busca de alguém que tope a aventura, o longa recupera a agilidade do sitcom e sexualiza mais as cenas. Na semana de lançamento no circuito nacional, o Guia da Semana bateu um papo com os roteiristas Alexandre Machado e Fernanda Young, criadores dos seriados Os Normais, Os Aspones, Minha Nada Mole Vida, O Sistema e Nada Fofa. Eles falam do sucesso do público, da volta à TV e das saudades que os espectadores estavam com as loucuras da dupla.

Guia da Semana: Depois de tanto tempo sem o sitcom na TV e com o filme lançado há 6 anos, o casal volta a cena para falar sobre o desgaste da relação. Por que a escolha desse tema?
Alexandre Machado: F
oi meio que inevitável. Quando a gente fazia as contas de quanto tempo eles ficaram juntos, vimos que hoje teriam 13 anos de noivado. E mesmo aquele casal tão ligado à sexualidade, passaria por problemas como esse. Seríamos muito cretinos se voltassem agora com o mesmo ritmo que tinham há seis anos.

Guia da Semana: Quais são as principais diferenças entre os personagens do primeiro e segundo filme?
Alexandre: N
o primeiro a história precisava ser maior do que os personagens e a tradição do programa, para mostrar como chegaram lá (seriado). Assim colocamos como eles se conheceram, com aquela troca de casais e tudo mais. Aquilo comandou o filme, mas não tinha a base do programa, que é o casal vivendo junto o problema, dividindo as soluções, se estrepando mais seguindo um do lado do outro. Nesse filme, eles estão o tempo todo juntos e isso faz com que seja mais parecido com o seriado.

Guia da Semana: Seria esse um gancho para voltar com o sitcom na televisão?
Fernanda:
Não pensamos nisso, mas tenho um desejo pessoal de que isso aconteça. Mas isso são só planos, já que envolvem muitas pessoas e depende das agendas. Ainda não sentamos para falar, mas sinto a sensação que pode rolar uma temporada e estou empenhada para que isso aconteça.

Alexandre: Tudo depende do público mostrar pra gente que vale a pena (com o filme). Pode ser desafiador, mas é legal voltar com eles para a televisão.

Foto: Leonardo Filomeno


Guia da Semana: Vocês escolheram como tema o ménage à trois, que é uma coisa que passa frequentemente na cabeça do homem, mas a mulher é mais reticente em discutir ou opinar sobre o assunto. Isso pode resolver o problema de um casal?
Fernanda:
Todas as pessoas que me contaram sobre o ménage à trois deu merda. É o tipo de coisa que não dá certo. Pode dar quando as pessoas se conhecem no instante, uma coisa bem casual. A não ser que seja da natureza pervertida do casal. Agora como um paliativo para o tempo e o tédio que o tempo trás, não funciona. O que acontece no filme é que o homem fica com a viagem de duas mulheres juntas e não nos custa nada incluir essa mulher na jogada. É uma coisa meio que natural. Por isso a escolha da mulher e não de outro homem. Até porque o Rui nunca aceitaria um negócio desse e a Vani não teria coragem de propor.

Guia da Semana: Quais são as diferenças entre escrever um roteiro para a TV e para o cinema?
Alexandre: É
um misto de facilitadores e dificultadores. No cinema tenho que prender a atenção do público por 1h30, mas gozo de liberdade para usar termos que não seriam possíveis na TV. No formato comédia você tem que ter muita atenção para manter o roteiro afinado, por outro lado, a película facilita porque - para o nosso tipo de humor - pode se falar normalmente gírias e palavrões.

Guia da Semana: As situações narradas no cinema e na TV não são em parte vivência do próprio casal que escreve?
Alexandre:
Tem tudo e não tem nada ao mesmo tempo. Os personagens podem ser até um pouco parecidos, mas as situações fazem parte da imaginação dentro do que a gente viveu, dentro do que a gente sabe que é uma roubada.

Fernanda: Não tem nenhum episódio que a gente possa dizer que aconteceu com a gente. O que pode ter são roubadinhas, maluquices, mas não há nenhum exemplo no macro. Um exemplo e que o dedo estragador de coisas da Vani é o meu. Qualquer aparelho eletrônico que coloco o dedo, quebro (risos). Tem esses deboches, mas na trama não podemos dizer que vivemos tudo aquilo.

Guia da Semana: Como vocês definiriam o casal Rui e Vani?
Fernanda:
Eu acho que o Rui é um cara que gosta muito de mulher e encontrou uma no amplo sentido. A Vani aparece como o caos e para um cara aguentar a sua loucura feminina tem que amar muito. Assim, aquilo que poderia incomodar os homens comuns, ao Rui não afeta nem um pouco, porque ele ama essa coisa do desequilíbrio, dos ânimos altos e baixos, certo e errado, tudo muito limítrofe. Ele representa o homem atraído e por isso mesmo aguenta esse excesso de maluquice, se diverte e é tão bonito.

Foto: Leonardo Filomeno


Guia da Semana: A que vocês creditam o sucesso do sitcom e da simpatia do público pelos personagens, mesmo fora do ar?
Fernanda: E
u fico encantada. Pessoas que não viram na época e estão vendo agora adoram. Eu, por exemplo, não me canso de rir. O sucesso é uma matemática, a televisão é uma coisa coletiva e dar certo em um grupo não é uma coisa tão comum. E esse mesmo grupo manter essa unidade e continuar bem, é mais difícil ainda.

Alexandre: Mesmo porque o texto com outros atores poderia dar errado. É um otimismo diante dos problemas que só a maluquice permite.

Fernanda: Eu adoro ver a Fernanda Torres interpretando a Vani. São atores que fazem personagens muito bem, mas quando estão de Rui e Vani isso me alegra e deve ser uma coisa que todo mundo sente. Eles são otimistas e esperançosos, pode até ser cafona, mas eles têm uma química entre os atores que conduzem os personagens que alegram a gente. Esse é um motivo para se fazer sucesso. A maluquice tem uma certa beleza. É tão lindo ver a Vani na praia pedindo para tentar, ela está acreditando tanto naquilo e não é cínico. Ela de fato acha que vai salvar o grande amor da vida dela com uma proposta boba dessa que é o ménage à trois. Ela torce por isso e ele aceita por ela. É por isso que é um casal de personagens tão atraentes e se dão por causa dessa coisa que eles têm.

Guia da Semana: Como é o processo de escrever a quatro mãos?
Alexandre: N
ão é bem a quatro mãos, tem gente que escreve em dupla, sentado na sala discutindo o tempo todo. Com Os Normais nós criávamos as histórias juntos e isso dependia do tempo e da sorte. Dividíamos as cenas e cada um ia para o seu quarto escrever. Depois era só voltar e juntar.

Fernanda: Alexandre é uma pessoa matinal, eu sou mais vespertina. Ele acabou sendo meu redator final. Sou muito disrítmica e não tenho noção nenhuma de tempo. Sou capaz de fazer um monólogo enorme no primeiro bloco e depois fechar em poucos minutos. Ele é a pessoa que une todas as cenas. Como ele é o roteirista final e acaba passando o texto adiante, dá-se a impressão de que seria o único roteirista, que é uma grande injustiça. Costumo não ligar, mas estou em uma fase de indignação com isso.

Guia da Semana: O cinema agrada vocês? Aceitariam novos projetos para trabalhar nas telonas?
Fernanda:
Cinema é uma coisa longa, que demora, e você tem que se envolver politicamente nos projetos, isso não temos condições. Convites são bem vindos, embora negamos a maioria por falta de tempo. Nós adoramos fazer televisão e não sentimos nenhuma culpa por isso. É um meio rápido e eficiente.

Alexandre: É uma coisa complicada de fazer mais estamos aí. Geralmente é difícil, pois para o cinema a concentração é maior e você tem que parar com projetos paralelos por meses. Isso é inviável para quem tem que fazer o caixa rodar.

Atualizado em 10 Abr 2012.