Michael Moore em cena do novo filme, Sicko - $O$ Saúde. |
É difícil falar em documentaristas sem logo pensar no estadunidense Michael Moore. Longe de ser considerado o melhor profissional da área, ele é ao menos o mais famoso e polêmico. Com dois dentre os três documentários mais vistos de todos os tempos, o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2004 usa em seus filmes muito humor para atacar governos e organizações, principalmente o presidente George W. Bush, seu alvo favorito em Fahrenheit 11 de Setembro e no novo Sicko - $.O.$. Saúde .
Desde novo, Moore já é uma figura polêmica. Com 18 anos se candidatou ao conselho de diretores do colégio onde estudava e ganhou, se tornando um dos funcionários públicos mais novos de Flint, sua cidade. Aos 22, fundou o jornal Flint Voice, no qual já começava a fazer suas denúncias. Partir para o cinema não foi difícil. Logo ele começaria o documentário Roger e Eu, contra a automobilística General Motors.
Filho de um ex-funcionário da GM, que empregava grande parte dos moradores de Flint, Michael decidiu sair em busca do presidente da companhia, Roger Smith, para saber o motivo do fechamento da filial de sua cidade. O resultado foi Roger e Eu (foto), o crítico e cômico filme em que ele mostra como o encerramento das atividades da fábrica teve graves conseqüências ao povo. E no qual ele tenta, sem sucesso, entrevistar Roger.
Pouco depois, chamou atenção fazendo algo parecido no programa TV Nation, criticando instituições das quais não gostava. O homem multimídia então fez um filme de ficção, Operação Canadá, com John Candy, Escreveu seu primeiro livro, Enxugue Isso!, e voltou ao documentário com The Big One, no estilo do anterior, mas desta vez bem-sucedido. Nele, Michael conseguiu convencer a Nike a mudar sua postura quanto aos trabalhadores infantis da fábrica na Ásia. Isto fez com que ele criasse a série de TV The Awful Truth.
Quando adaptava ao cinema um quadro sobre saúde, que viria a se tornar Sicko - $O$ Saúde, uma tragédia o fez mudar de caminho e filmar Tiros Em Columbine (foto). Ganhador do Oscar, além de um prêmio em Cannes, o longa foi o que lhe deu fama internacional. Nele, Moore aproveita o massacre em uma escola em Columbine para analisar o fascínio do norte-americano por armas de fogo. Na cena mais famosa, o cineasta entrevista o ator Charlton Heston, presidente da Associação Nacional de Rifles, colocando o Moisés de Os Dez Mandamentos na parede.
A partir de então, a carreira do showman foi cada vez mais ascendente. Escreveu mais três livros de sucesso: Stupid White Man, Cartas da Zona da Guerra e Cara, Cadê Meu País?, além de ganhar a Palma de Ouro em Cannes por Fahrenheit 11 de Setembro, em que analisa a culpa de Bush pela explosão das torres gêmeas. Tanto o filme, quanto os livros com o objetivo claro de impedir a vitória do presidente nas eleições de 2004.
Outro lado
Porém, tudo parece ter sido em vão. Não só George Bush (foto em cena de Fahrenheit 11 de Setembro) foi reeleito, como diversos comentaristas deram o crédito ao próprio Michael Moore pela vitória. Dentre os críticos, o cineasta é sempre visto com ressalva. Ele aparece como alguém disposto a lutar por uma boa causa, mas que não se incomoda em usar as armas erradas para isso. Em artigo recente à revista Bravo, o cineasta João Moreira Salles, de Santiago, afirmou que ele acaba atrapalhando as causas pelas quais luta. Desta forma, não é difícil encontrar hoje quem não acredite no diretor, além de aparecer cada vez mais filmes contra ele.
Não é difícil cineastas de visão direitista produzirem obras contra o diretor, como Michael Moore Odeia a América, de Michael Wilson, Michael e Eu, de Larry Elder, em uma referência a Roger e Eu, ou Fahrenheit 411, de Bart Hook. Todos eles usando as mesmas técnicas do homenageado. Enquanto no primeiro o diretor tenta sem sucesso entrevistar Moore, o segundo consegue e o coloca contra a parede, com perguntas difíceis.
Já o último, se aproveita do fato do famoso cineasta usar montagens tendenciosas em seus filmes, e reedita Fahrenheit 11 de setembro de forma que fique contra seu próprio diretor. Mais neutro é Este Estado Dividido (foto), de Steven Greenstreet, que mostra como uma palestra de Michael Moore na faculdade de uma região pró-Bush provocou a ira dos moradores.
Mas não só os republicanos são contra o cineasta, mesmo seus fãs fazem filmes contrários a ele. Foi o caso de Dick Caine e Debbie Melnyk, diretores de Fabricando Discórdia. Ao tentarem filmar uma homenagem ao ídolo, o casal teve tanta decepção que mostrou o que viu na tela. Lá eles revelam, por exemplo, que Moore conseguiu uma entrevista com Roger Smith, mas que preferiu omitir esta informação.
De qualquer forma, o diretor recebe cada vez mais elogios pelos seus filmes, tanto pelos temas que aborda como pela sua evolução como documentarista. Um problema para Michael Moore, no entanto, é que grande parte de sua fama foi conquistada pelos seus constantes ataques ao governo George Bush, que está no fim. Resta saber qual será o alvo do cineasta quando o presidente se aposentar. Em Sicko - $O$ Saúde, ele ataca também Hillary Clinton, uma das candidatas a eleição. Bem, parece que ele já está pensando no futuro.
Atualizado em 6 Set 2011.