Guia da Semana



Vi há pouco o excelente Children of Men, que chegou recentemente às locadoras. Alguém por aqui resolveu chamar o filme de Filhos da Esperança. Para mim, dá a impressão de se tratar de uma coisa fofa, de um romance ou drama familiar. Mas a moça que comprar um pote de sorvete e sentar na frente da TV esperando por esse tipo de entretenimento vai se dar mal. O filme é cruel. De esperança eu vi muito pouco. Talvez mais no final, ainda assim de uma maneira ambígua. Esse tipo de equívoco pode detonar um filme, mas, infelizmente, é muito comum. Veja o exemplo de mais antigo de Nunca Te Vi, Sempre Te Amei ( Charing Cross Road), título que entrega de bandeja o final do filme.

Também é comum a escolha de termos "Sessão da Tarde" para os títulos em português, vide Um Tira da Pesada ( Beverly Hills Cop) e Um Hóspede Do Barulho ( Harry and the Hendersons), ambos dos anos 80. Mais recentemente, parece que os responsáveis pelos nomes dos filmes no Brasil deram uma reciclada no vocabulário e deixaram expressões como "da pesada" e "do barulho" para trás. Agora eles criam coisas como Sexta-Feira Muito Louca ( Freaky Friday) de 2003 que, admito, não é uma tradução das piores.

Piores mesmo são aqueles nomes que pegam caronas em sucessos anteriores. Já que A Hora do Pesadelo ( A Nightmare on Elm Street) foi tão visto, por que não dar o nome de A Hora do Espanto para Fright Night? Mas não pára por aí: as distribuidoras nomearam o filme House como A Casa do Espanto, talvez para fisgar os fãs da Hora do Espanto, que, como eu disse, parecia se aproveitar da A Hora do Pesadelo... Bom, acho que ficou claro.

Não que eu seja contra dar nomes em português para os filmes. Acho algumas escolhas realmente muito estilosas, principalmente as mais antigas. Quer algo mais sonoro que o título do clássico do western Meu Ódio Será Sua Herança ( The Wild Bunch)? Outros bons exemplos são os nomes O Sol É Para Todos ( To Kill a Mockingbird) e Crepúsculo dos Deuses ( Snset Blvd. ) que, apesar de não terem nada a ver com o título original, casam perfeitamente com as histórias.

Uma tendência mais recente, já que não se criam mais títulos em português como antigamente, é manter o nome original e adicionar um subtítulo. Assim surgiram coisas escabrosas como Ghost - Do Outro Lado da Vida, Pulp Fiction - Tempo de Violência e, adoro este aqui, Forrest Gump - O Contador de Histórias. Veja bem, a ocupação do pobre Forrest não é contar histórias. Só porque um dia, enquanto esperava seu coletivo, resolveu falar de sua saga (alguns dos ouvintes nem estavam muito interessados), bum, já virou "o contador de histórias". Nem vou falar dos redundantes como Closer - Perto Demais e Taxi Driver - Motorista de Táxi.

A tarefa de criar nomes para filmes estrangeiros é complicada mesmo. Imagino que deva ser do mesmo modo em todo lugar do mundo, até nos Estados Unidos. Lá, o nosso Central do Brasil vira Central Station e Abril Despedaçado torna-se Behind the Sun. Sim, são bons títulos, mas também eles precisam fazer isso num volume bem menor do que a gente. Como o nosso mercado é dominado pelo cinema estrangeiro, é inevitável que algumas discrepâncias surjam de vez em quando. De qualquer modo, é sempre melhor quando as distribuidoras escolhem os títulos com bom senso, em vez de debandar para o tosco ou apelar para o oportunismo.

Leia a coluna anterior do Robinson:
? Invasões bárbaras: Como o comportamento alheio tira a paz de qualquer cidadão no cinema

Fotos ilustrativas: www.photocase.de Quem é o colunista: : Robinson Melgar, 29, não estudou e por isso ganha a vida escrevendo sobre informática. Seu sonho é virar a maior autoridade em cinema de sua rua.

O que faz: é jornalista.

Pecado gastronômico: x-calabresa.

Melhor lugar de São Paulo: Rua Augusta.

Acesse o site dele: www.morfina.com.br.

Atualizado em 6 Set 2011.