Guia da Semana


Assistir a Ilha do Medo pode nos dar a mesma sensação que tivemos quando nos deparamos com Má Educação, de Pedro Almodóvar, ou Match Point, de Woody Allen: à primeira vista, não parecem possuir as características tão autorais e peculiares de tais cineastas. Com uma análise mais profunda, começamos a desvenda as marcas desses gênios do Cinema. Ilha do Medo, embora pareça ir de desencontro à filmografia do diretor Martin Scorsese, tem as digitais do cineasta fincadas ali. Extremamente cuidadoso 100% do tempo, desde a narrativa, passando pela fotografia e trilha e culminando na interpretação, Scorsese criou uma obra única, mesmo tão "diferente" de seus outros trabalhos.

A trama, que se passa em 1954, conta a história de Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), um policial federal que, junto de seu colega Chuck Aule (Mark Ruffalo), vai investigar o desaparecimento de uma paciente com distúrbios mentais que, confinada em Aschecliff, um hospital psiquiátrico do governo, desapareceu. Rachel Solando (Emily Mortimer e Patrícia Clarkson), de acordo com as investigações e informações dos funcionários do hospital, matou os três filhos afogados, foi internada no local e fugiu. A questão do desaparecimento da moça instiga a dupla, que sente que todos ali escondem algo. Afinal, como uma mulher sozinha, conseguiu fugir de uma ilha sem a ajuda de ninguém? É a partir dessa questão, que permeia todo o filme, que Scorsese é, antes de mais nada, um ótimo contador de histórias.

Dr. Cauley, interpretado por Ben Kingsley, é o ponto central desse mistério e traz uma interpretação primorosa do ator. Di Caprio, novo ator fetiche de Scorsese pós Robert De Niro, mostra-se mais maduro, sério e, ouso dizer, tem em Ilha do Medo um dos papéis mais difíceis de sua carreira. Já Ruffalo, um ator limitado, não empolga, mas não decepciona. Teddy, que sofre com a morte da esposa Dolores (Michelle Williams), sente-se prestes a enlouquecer, tanto por causad de seus demônios internos - sua participação na Segunda Guerra Mundial - como daquele ambiente, que começa a consumi-lo.

Então, sufocado por aquele espaço, a dupla está literalmente ilhada, tendo segredos revelados com veracidade e para espanto dos espectadores. Desconfiado de operações extremamente cruéis que são aplicadas nos pacientes pelo governo norte-americano, DiCaprio vai atrás de respostas às suas perguntas, desvendando um emaranhado de fatos. Porém, até onde a verdade é real? Em um filme, no qual realidade e verdade podem não caminhar juntas, onde começa e onde termina a lucidez humana?

Scorsese conseguiu tocar no tema póstraumático na forma de um thriller policial dramático psicológico. Parece confuso? E é. Afinal, a complexidade da mente humana jamais será desvendada em sua totalidade. Em um lugar como Aschecliff, enlouquecedor por si só, a questão de quem é louco e quem é são leva a um questionamento do que é a loucura.

Com um roteiro inteligentíssimo baseado em romance de Dennis Lehane e adaptado por Laeta Kalogridis, as pistas são apresentadas sutilmente - ou nem tanto - e as explicações vão surgindo no desenrolar do longa. Além disso, as surpreendentes reviravoltas, uma direção de arte extremamente bem cuidada e uma trilha que remete aos sufocantes acordes dos filmes do mestre Alfred Hitchcock, Ilha do Medo traz uma aura incômoda e angustiante que enlaça todo o filme. E é nesse terror psicológico que a quarta parceria de Scorsese com DiCaprio se apoia, com ótimo uso dos sons e a criação de um clima atormentador. Com um final chocante, o filme crava as unhas no psicológico e todos os detalhes, que só Scorsese parece conseguir inserir, passam a fazer sentido.

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Está no sangue

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Cinema iraniano

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Atualizado em 6 Set 2011.