Guia da Semana

O cineasta André Sturm nos sets do filme Bodas de Papel.

Mesmo envolvido em inúmeras funções, sempre relacionadas ao cinema, André Sturm ainda consegue encontrar tempo para realizar seus filmes. O primeiro foi Sonhos Tropicais, em 2002, e agora ele retorna com Bodas de Papel, que conta uma história de amor entre um casal que se conhece por puro acaso. André falou sobre seu filme para o Guia da Semana, além de dizer o que acha das políticas de cinema no Brasil.

O acaso foi um dos elementos que originou o filme, que gira em torno da palavra Serendipity. Criado pelo inglês Horace Walpole, o termo representa uma grande descoberta feita sem querer. André conta que "a idéia inicial era um casal se encontrar de uma maneira completamente imprevisível, viver uma história de amor incrível e descobrir que tinham sido feitos um para o outro". Desta forma, surgiu a idéia de eles se conhecerem em uma cidade que deveria ter sido engolida por uma represa e que não era mais para existir.

Para isto, ele quis contar com atores que também não tivessem muito em comum. A escolha foi Helena Ranaldi, em sua estréia nas telonas, em um par com Darío Grandinetti, argentino que ficou conhecido em Fale Com Ela, de Pedro Almodóvar. A escolha da atriz, no entanto, não agradou a alguns. Na apresentação no Festival de Recife, "teve um cidadão que, quando o filme começou, com três minutos, não tinha nem passado os créditos, apareceu a Helena Ranaldi e o cara começou a gritar ´Novela! Novela!´", revela o diretor.

André Sturm dirige a atriz Helena Ranaldi, que estréia nos cinemas.

No entanto, ele acredita saber o motivo. "Tem uma parte da imprensa que tem uma visão muito preconceituosa, ou talvez pré-concebida de cinema. Basta você ter dois ou três elementos que entram em um conceito que pronto, o filme entra naquele conceito e não tem mais análise sobre ele". Além da presença da atriz, o elemento seguinte é o símbolo da Globo Filmes no início da projeção, o que, para muitos, dá a entender que é um produto da emissora, o que o diretor discorda.

O terceiro elemento criticado foi a linguagem, que não ousa. André rebate que Bodas de Papel "não é um filme social, não fala das misérias da vida contemporânea, é um filme sobre gente normal, de amor, de tristeza, e filmado de uma maneira clássica". Ele ainda completa dizendo que "eu não achei que era uma história que precisasse ficar fazendo virtuosismos estéticos", explicando sua opção por esta linguagem mais tradicional. Apesar da crítica, o filme foi aplaudido no festival.

Além de diretor e roteirista, Sturm é o responsável pela distribuidora independente Pandora Filmes e pelas salas do HSBC Belas Artes, em São Paulo, e ainda é coordenador da Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural da Secretaria da Cultura do estado de São Paulo. Apesar de ter menos tempo para realizar seus filmes, ele acredita que "como eu lido com muito filme, acabo tendo um olhar muito crítico, que eu acho que ajuda a ver certas coisas no meu próprio filme". Isto também faz com que este tempo a mais de realização o ajude a pensar melhor na forma de editar.

Equipe e elenco no set do filme Bodas de Papel.

Em Bodas de Papel, foram cinco anos entre a idéia do filme e ter ele pronto para ser lançado. Para o trabalho com o elenco, que conta ainda com Walmor Chagas e Cleide Yáconis, foi um total de sete semanas, principalmente com o casal principal. "Nós chegamos uma semana antes na cidade onde íamos filmar, ficamos os três em um hotel, que era um pouco afastado, e convivíamos 16 horas por dia", diz o diretor. Esta convivência ajudou a entrar no clima, além de criar uma química entre os atores.

As múltiplas funções de André também o fazem perceber o que pode ser melhorado no cinema do Brasil. "Acho que hoje o ponto fraco é a exibição, de dois lados. De um lado a gente tem menos salas do que poderia ter, no Brasil tem um cinema para cada 120 mil habitantes. De outro lado, em função de uma série de situações - meia-entrada, certos custos - o preço do ingresso acabou ficando alto", revela o exibidor. Uma boa solução, segundo ele, seria o subsídio de ingressos, além de "uma política de subsídio a abrir cinemas populares em regiões densamente povoadas, onde não tem salas e é difícil um empresário montar por conta própria".

Atualizado em 6 Set 2011.