Guia da Semana

De Los Angeles


Amadurecimento, guerra e despedida. Esses três temas são os conceitos básicos por trás de As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian, a segunda parte da série adaptada da obra de C.S. Lewis. Não há muita alegria no retorno dos irmãos Pevensie ao mundo de Nárnia, onde, desta vez, eles se deparam com o reinado de uma civilização violenta e militarizada de homens que destruíram seu antigo reino. Receita de bolo pronta para garantir boas cenas e ação, apresentar novos personagens e, claro, inserir um pouco de romance na, até agora, infantil transposição dos livros para o cinema.

Os irmãos Pevensie ainda não se decidiram se aceitam o fato de precisar viver eternamente em Londres, desta vez, sem bombardeios nazistas, ou se continuam a sonhar com um eventual retorno a Nárnia, onde podem voltar a ser reis e rainhas. Peter é o que mais sofre uma vez que não desceu do seu pedestal de Rei Supremo de Nárnia e, por isso, encontra dificuldades a se comportar como um mero adolescente. Apenas a pequena Lucy não sente muitos problemas, pois ela "sabe" que voltarão ao reino de Aslan.

O roteiro de Andrew Adamson e Christopher Markus foi inteligente ao mostrar a Inglaterra como um lugar tedioso, pois não há nada de marasmo em Nárnia. O nascimento do herdeiro do lorde protetor do reino Telmarino decreta a morte de Caspian, herdeiro legítimo ao trono. Ele escapa, mas demora até que o público possa se enamorar pelo personagem. Foi seu povo que invadiu Nárnia, destruiu o castelo de Caer Paravel e matou a maioria dos narnianos, por considerar que eram criaturas demoníacas.

Seguindo a tradição de Lewis, tudo é muito bem definido na história. Todos os elementos estão lá, a dualidade entre Bem e Mal, o duro amadurecimento provocado pela traição e perda e, claro, a importância da fé. Os Telmarinos são soturnos, usam máscaras que transformam todo o exército numa única entidade, sem emoções e imbatível. O povo de Nárnia preza por sua diversidade visual, com centauros, faunos, anões e duas novidades: árvores lutando e uma raça de ratinhos espadachins.

Esses ratos, aliás, garantem as melhores cenas de humor do filme. Reepicheep é o líder do grupo e seu sarcasmo se iguala a sua habilidade com a lâmina. Ele é figura constante no livro, mas acabou perdendo um pouco de espaço no filme, porém, compensa pelas boas risadas e por ser um dos melhores guerreiros nas batalhas. Curiosamente, o personagem foi vivido por Warwick Davies (Willow, Guerra nas Estrelas) em uma versão feita pela BBC para a TV e que foi lançada no Brasil pela Focus. O veterano retorna ao tema, porém, no papel de Nikabrik, o anão que trai os narnianos. O anão que rouba a cena, no entanto, é Trumpkin, vivido por Peter Dinklage, o novo guia dos Pevensie nessas terras violentas. Bom nas cenas de luta e perfeito nas piadas, ele garante ótimos momentos dramáticos.

A grande batalha campal vista no final de O Leão, a Feitceira e o Guarda-Roupa foi apenas um ensaio para as novas pelejas em Príncipe Caspian. Um duelo memorável entre Peter e o Miraz, o rei Telmarino, concentra boa parte da ação, contudo os planos não funcionam corretamente e toda a força dos inimigos é jogada contra os bravos narnianos, garantindo assim a grandiosidade da produção e cenas de tirar o fôlego.

Entretanto estamos falando de C.S. Lewis e nada se resolve sem fé. É aí que a pequena Lucy entra em cena, pois ela é a única que crê no ressurgimento do poderoso Aslan. Novamente com a voz de Liam Neeson, o leão surge em auxílio a seu povo, depois de séculos no esquecimento, e graças à pureza de Lucy.

E seu surgimento não salva apenas aos narnianos, mas também garante um final inesquecível para o público, que embarcou num filme muito melhor do que seu antecessor, torce pelos personagens principais, fica triste quando tem que ficar e, claro, sai do cinema satisfeito e com a certeza de que assistiu a um bom filme.

  • Confira a matéria especial sobre a experiência de assistir ao filme em um cinema exclusivo da Disney, em Los Angeles!


    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 6 Set 2011.