Guia da Semana



Antes de falar de Entre os muros da escola, o mais recente filme do diretor Laurent Cantet (Em Direção ao Sul), vamos voltar no tempo.


Desde o governo de Jacques Chirac (1995 - 2007), a situação dos imigrantes na França era tensa, com repressão e deportação para seus países de origem. Após a posse de seu sucessor, Nicolas Sarkozy, a situação tornou-se mais grave, com invasão de casas de estrangeiros para extraditá-los. O atual presidente defende a implantação da educação para adaptar os imigrantes aos costumes do país. Nesse período, a França registrou um crescimento de quase trinta por cento nos incidentes violentos ligados à xenofobia.


Assim, baseado no livro do escritor - e ator no longa - François Bégaudeau, o filme de Cantet já é considerado a ficção mais realista sobre a atualidade sócio-cultural francesa.


Entre os muros da escola se passa em um colégio no subúrbio da França, onde o professor François (o próprio François Bégaudeau) tem de lidar com as intempéries dos alunos, um caldeirão de etnias e personalidades prestes a entrar em ebulição. Com diálogos rápidos e constantes, o professor luta com as armas que têm (a autoridade e o diálogo) para controlar os jovens estudantes.Porém, a história vai além da edificante mensagem "ao mestre com carinho" de outras produções do gênero e toca em um assunto muito mais delicado: a diferença étnica que se faz presente durante as aulas, com presença de alunos orientais, árabes e africanos, por exemplo.


Tratando dos problemas educacionais e políticos da França dos anos 2000, Catent aborda a imposição de uma identidade nacional nessa sociedade que possui outra língua, outros costumes e outras opiniões. Enfim, outra realidade.


Entre as afrontas aos professores e discussões em sala, Entre os muros da escola mostra que todos eles possuem sonhos e medos similares, tornando-se extremamente confiantes uns com os outros em classe, porém totalmente vulneráveis quando confrontados pelos adultos.


A história, que chega a se tornar claustrofóbica por se desenrolar apenas dentro da escola, pode cansar os mais desavisados, porém as mais de duas horas trazem personagens que não são divididos entre vilões e bandidos. São apenas personagens confinados em uma falha de comunicação, cheia de conflitos pessoais e sociais.


François dialoga com os alunos o tempo todo, incitando-os a pensar, a discutir todo tipo de assunto, não se resumindo, apenas, a gerar um monólogo entre professor e aluno. A câmera sim, essa transita por entre as diferenças: quando foca o professor, em boa parte do tempo temos a impressão de ocupar o lugar dos alunos; quando são os alunos conversando, a câmera está ali, bem no meio, como se fizesse parte da discussão. E é aí que o espectador cria essa empatia tanto pelos alunos como pelo professor de francês.


Entre os muros da escola, indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes, tornou-se o primeiro filme francês a receber o prêmio desde Sob o Sol de Satã, de Maurice Pialat, em 1987. Isso mostra como o tema é de forte relevância, não só para os próprios franceses.

Leia a coluna anterior de Leonardo Freitas:

Canções de Amor

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Atualizado em 6 Set 2011.