Guia da Semana



Divã de José Alvarenga Jr. estreia com o desafio de repetir o sucesso da peça de Marcelo Saback, que ficou em cartaz por três anos e foi vista por 175 mil espectadores. Assim como a peça, adaptação do livro da gaúcha Martha Medeiros, o filme acompanha a vida de Mercedes, mulher de classe média na faixa dos 40 anos, casada, com dois filhos, que decide ir ao terapeuta por curiosidade. Ao longo da história, percebe-se que a vida perfeita, então descrita pela personagem na primeira sessão com o analista, esconde doses de comodismo e marasmo. A análise faz com que Mercedes promova uma reviravolta em sua vida, com direito à traição, divórcio e namorado 20 anos mais novo.

O longa garante muitas risadas. As interpretações de Lília Cabral e de Alexandra Richter, amiga da protagonista, são pontos altos do filme. O diretor comete alguns deslizes, como o incidente com a amiga, que introduz uma quebra no ritmo da comédia completamente dispensável ou a cena em que Gianecchini termina com Mercedes, enquanto uma tempestade se forma no céu, gerando um clichê terrível. Assim como estes, há outros momentos bastante toscos, mas que não chegam a comprometer a diversão.

O elenco estelar, composto por Lília Cabral, José Mayer, Reynaldo Gianecchini e Cauã Reymond, se alia à trama universal - um casal em crise - e grandes doses de humor na tentativa de conquistar o público. Essa combinação não lembra Se Eu Fosse Você 2? Sem dúvida. Divã guarda várias semelhanças com o recordista de bilheteria da retomada. Ambos os filmes são produzidos pela Total Entertainment, responsável também por Avassaladoras, Sexo, Amor e Traição, A Guerra dos Rocha, entre outros longas com perfil comercial. A produtora aposta na estratégia do cross-over, filmes que atinjam todas as classes sociais e idades para obter sucesso de público. Outro ponto em comum entre Divã e o último longa de Daniel Filho é o grande investimento em publicidade, indispensável para que eles cheguem em seu potencial espectador. Mas a equação não é tão simples. É muito difícil conseguir o feito de Se Eu Fosse Você, pois não há como prever a recepção do público.

Assim como Daniel Filho, José Alvarenga Jr. se formou na televisão, dirigindo seriados de sucesso, como Os Normais, Sai de Baixo, A Diarista e, atualmente, Força Tarefa. Já no cinema, foi responsável pela direção dos últimos filmes dos Trapalhões que, junto com os longas da Xuxa, são as franquias mais bem sucedidas da história do cinema nacional.

Divã marca a estreia de Lília Cabral como protagonista no cinema, o que é de se espantar, afinal uma grande atriz da televisão só agora interpreta um papel de destaque em um longa. E ela não é a única. Assim como os diretores da televisão migram para o cinema, os atores de novela devem fazer o mesmo, pois é uma forma de alavancar público para o cinema nacional. Não que filmes experimentais e com propostas mais artísticas não devam ser feitos. Eles devem coexistir com produções que se comuniquem com o grande público para a construção de uma indústria cinematográfica nacional. Ainda precisamos de muitos Divã, Se Eu Fosse Você, O Auto da Compadecida e Dois Filhos de Francisco, pois os brasileiros só vão deixar de ir ao cinema para ver comédias norte-americanas, quando tivermos uma boa oferta de títulos nacionais. Afinal, para a maioria das pessoas, o cinema é exclusivamente uma forma de entretenimento e escapismo.


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Quem é a colunista: Jornalista e cinéfila Cyntia Calhado.

O que faz: Repórter do Guia da Semana.

Pecado gastronômico: Pizza, chocolate, açaí...

Melhor lugar do Brasil: Onde se tem paz.

Melhor filme que já assistiu até hoje: Como é impossível escolher um, fico com a obra dos diretores Pedro Almodóvar e Eric Rohmer

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Atualizado em 6 Set 2011.