Guia da Semana

Fotos: divulgação

Anticristo, de Lars Von Trier

"Adeus ano velho, feliz ano novo..." Com mais este período que passa, vão diversos lançamentos que ocuparam as telonas ao longo desses 360 dias. Entre estréias surpreendentes, retumbantes fracassos e longas elogiados pela crítica, muita coisa se salvou - outras, nem tanto. Para acalentar a discussão na fila da bilheteria, nada melhor do que convidar críticos e cinéfilos para eleger o que passou de melhor e pior nas telas.

Dentre os queridinhos, o polêmico Anticristo, do dinamarquês Lars Von Trier, foi presença garantida, assim como Deixa Ela Entrar, em que o diretor Tomas Alfredson fez questão de buscar na convencional temática vampiresca um outro olhar. Quando o assunto é brasileiro, o fascinante documentário Cidadão Boilesen traz à tona a história de um homem que apoiou a ditadura militar de 64. E para fechar, nada melhor do que mostrar a renovação do cinema nacional com o despretensioso longa Apenas o Fim, do jovem cineasta Matheus de Souza. Confira a lista completa:

Christian Petermann

Crítico de cinema, colaborador do Guia da Folha de S. Paulo, da revista Rolling Stone e do programa Todo Seu (TV Gazeta/SP).

Top 10

1 - Anticristo, de Lars Von Trier. Um pesadelo estético sobre a maternidade, o ser feminino e a culpa, levado a extremos, tanto de beleza quanto de horror; grande presença de Charlotte Gainsbourg.

2 - Apenas o Fim, de Matheus Souza. O longa-metragem de conclusão de curso do jovem realizador carioca, filmado na própria universidade, tem o frescor e a simpatia de uma obra apaixonada por cinema - e conta uma história de amor muito crível e atual.

3 - Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. O cineasta das referências parte de dois subgêneros cinematográficos, o filme de guerra e o faroeste spaghetti, para fazer do cinema a lei absoluta de sua obra - seu mundo existe apenas pelo prisma da Sétima Arte.

4 - Cidadão Boilesen, de Chaim Litowski. Numa linguagem e ritmo fascinantes, este exemplar documentário traz à luz uma das figuras menos mencionadas dos anos negros da ditadura militar, e que inclusive é nome de rua em São Paulo - Henning Albert Boilesen, então diretor da Ultragaz, envolvido com repressão e tortura e assassinado em 1971.


Cidadão Boilesen, de Chaim Litowski

5 - Desejo e Perigo, de Ang Lee. O cineasta realiza um ambicioso e sensual épico de espionagem e romance na Xangai da Segunda Guerra, com o luxo e o esmero que o melhor cinema pode oferecer; neste mesmo ano, também foi lançado o simpático e pessoal Aconteceu em Woodstock, de Lee.

6 - Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet. Um professor conduz exercícios de convivência social numa classe da periferia de Paris, com alunos de diferentes crenças e etnias; este docudrama mantém uma linha de tensão constante, pois nem todos os exercícios se mantêm em controle e é filme obrigatório.

7 - Horas de Verão, de Olivier Assayas. Depois da morte da mãe (a grande atriz Edith Scob), três irmãos encontram-se ocasionalmente para conversar e resolver problemas familiares; nada de muito relevante acontece nesse filme, mas este atinge o sublime pelo olhar delicado e maduro do cineasta e também pela ótima trinca de veteranos franceses como os irmãos - Juliette Binoche, Charles Berling e Jérémie Renier.

8 - Katyn, de Andrzej Wajda. Este belíssimo e contundente drama ambientado na Polônia durante a Segunda Guerra mostra a vigorosa vitalidade de um dos mais veteranos cineastas em atividade, na ativa desde 1950 e hoje com 83 anos.

9 - Se Nada Mais Der Certo, de José Eduardo Belmonte. O diretor e roteirista consolida-se como um dos mais interessantes realizadores brasileiros do momento, com mosaicos humanos de cores realistas e moralidade flexível; ele contou aqui com ótimos atores, como João Miguel, Caroline Abras e Milhem Cortaz.

10 - Valsa com Bashir, de Ari Folman: este documentário apresenta-se na forma de desenho, de traços e colorido fascinantes e impiedosos, e resgata memórias e reminiscências do diretor israelense na Guerra do Líbano, em 1982 - um filme de beleza cruel.

Não foi desta vez... (ordem alfabética)

1. Fama, de Alan Parker. Um dos mais importantes musicais da virada dos anos 1970/80 transforma-se em rala cópia para a geração High School Musical, sem personagens ou músicas dignas de menção.

2. Lua Nova, de Chris Weitz. Chato, chato, chato.

3. Os Normais 2, de José Alvarenga Jr. A inteligência da série de TV (e talvez até um pouco do primeiro longa para cinema) foi reduzida a uma série de piadas chulas, primárias e popularescas.

4. Sinédoque, Nova York, de Charlie Kaufman. O roteirista de Eterno Brilho de uma Mente sem Lembranças, Charlie Kaufman, estreia na direção e realiza uma das mais irritantes e insuportáveis parábolas já feitas da vida e do teatro.

5. Transformers 2, de Michael Bay. Bobo, hiperativo e ensurdecedor


Sérgio Rizzo - Mestre em Artes e Cinema e Crítico da Folha de S. Paulo

Melhores 2009:
Amantes
, de James Gray

Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino

Deixe Ela Entrar, de Tomas Alfredson

Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet

O Equilibrista, de James Marsh

Ervas Daninhas, de Alain Resnais (estréia 25 de dezembro em São Paulo)

Gran Torino, de Clint Eastwood

A Partida, de Yojiro Takita

As Praias de Agnes, de Agnès Varda (estréia 25 de dezembro em São Paulo)

Vocês, os Vivos, de Roy Andersson



Ravi Santana
Repórter de cinema do site Guia da Semana

Top 10

1 - Quem Quer Ser um Milionário?, de Danny Boyle. No começo do ano só se falava neste grande fenômeno. O grande vencedor do Oscar perdeu um pouco da força com o tempo, mesmo assim ainda se mantém como um dos melhores do ano. Difícil não se emocionar com esta fábula moderna.

2 - Entre Muros da Escola, de Laurent Cantet. Misto de documentário e ficção, o filme é uma aula de convivência. A ausência de atores, e a opção de usar personagens reais ajudam a dar força. Como em uma escola real, os conflitos são muitos, mas não podem ser levados até o fim.

3 - Valsa Com Bashir, de Ari Folman. O documentário em animação é, sem dúvida, um dos melhores filmes da década. A narrativa é tão bem construída que culmina em um enorme choque no espectador ao fim, principalmente com a opção pela animação, que ameniza alguns eventos e evidencia outros.


Valsa com Bashir, de Ari Folman

4 - Apenas o Fim, de Matheus Souza: O filme de estreia do jovem Matheus Souza conquistou o posto de grande sensação nacional de 2009. Leve, sem grandes pretenções, o longa sinaliza uma renovação para o futuro do nosso cinema.

5 - A Teta Assustada, de Claudia Llosa. Forte, o filme peruano não é para qualquer público. Mais do que contar a história de uma mulher com uma estranha doença, o longa expõe a doença dos países latinos, que nas gerações pós-ditadura parecem paralisados por um medo sem motivo.

6 - Anticristo, de Lars Von Trier. O polêmico filme de Lars Von Trier é outro de difícil digestão. O diretor, que teve problemas com a maioria de suas atrizes, se aprofunda em um terreno perigoso do universo feminino, mas consegue se sair bem.

7 - Deixa Ela Entrar, de Tomas Alfredson. Em tempos de Crepúsculo, o filme de vampiros sueco foi uma das grandes boas surpresas de 2009. Melancólico do começo ao fim, e por muitas vezes angustiante, o longa expõe com maestria um grande problema da juventude atual.

8 - O Fantástico Sr. Raposo, de Wes Anderson. A primeira animação de Wes Anderson superou as expectativas com o humor ácido do cineasta. Com um ótimo e bem amarrado roteiro, o filme é uma daquelas comédias que desarma o espectador do início ao fim.

9 - Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski: Necessário, o documentário que demorou 16 anos para ser realizado expõe um grande tabu da ditadura. Com um assunto tão duro nas mãos, Chaim Litewski compensa criando jogos de edição e música, com um humor difícil de se encontrar em documentários.

10 - Há Tanto Tempo que Te Amo, de Philippe Claudel. Pouco falado, o filme francês sobre a mulher que acaba de sair da cadeia é uma bomba de emoções. A cadencia narrativa da obra, que aos poucos explica os motivos da prisão, é extremamente eficaz para compensar a suposta apatia do início.

Não foi desta vez...

Os Normais 2, de José Alvarenga Jr. O cinema brasileiro não precisava disto. Mais do que ruim, o filme é vergonhoso e não havia motivos para ser feito.

2012, de Roland Emmerich. Mais do mesmo. Todo mundo está cansado de saber que Roland Emmerich quer destruir a Terra. Ele podia se renovar um pouco.

Veronika Decide Morrer, de Emily Young. Chato, sem força e piegas. Podia ter ido direto para DVD que ninguém ia notar. Nem mesmo o Paulo Coelho.


O Exterminador do Futuro - A Salvação, de McG

O Exterminador do Futuro - A Salvação, de McG. O filme estava ok até o momento em que aparece uma versão em computação gráfica de Arnold Schwarzenegger. Depois disso é uma queda vertiginosa.

Gamer, de Brian Taylor e Mark Neveldine. Mais uma prova de que boas ideias nas mãos das pessoas erradas, pode acabar em grandes equívocos. Gerard Butler podia ter passado sem essa.


Cyntia Calhado

Jornalista e cinéfila

Top 10

1 - Desejo e perigo, de Ang Lee. Premiado com um Leão de Ouro em Veneza, repetindo o feito de Brokeback Mountain, Ang Lee retorna à sua terra natal para filmar esta história que mistura desejo, política e violência. Grandes atuações, solidez narrativa e reconstituição de época primorosa fazem do longa a melhor estreia de 2009, de acordo com a crítica.

2 - Anticristo, de Lars Von Trier. O diretor se mostra novamente surpreendente nesta produção rica em simbologias, que promove um embate entre misticismo, filosofia, história, psicanálise e cristianismo.

3 - A Princesa e o Sapo, de Ron Clements e John Musker. Para alegria dos que passaram a infância assistindo às animações 2D da Disney, o estúdio volta às origens neste desenho feito à mão que retoma a narrativa clássica. Como há muito tempo não se via, o filme, realmente feito para crianças, recupera a atmosfera de ilusão e fantasia, além de reparar a ausência histórica de uma princesa negra.

4 - Vocês, os vivos, de Roy Andersson. Composto por 57 vinhetas filmadas com câmera parada, o filme adota o ponto de vista de um morto que observa com distanciamento e certa ironia personagens em situações cotidianas. Este olhar, que garante a originalidade do longa sueco, transforma acontecimentos do dia a dia em fatos extraordinários e até surrealistas.

5 - Moscou, de Eduardo Coutinho. Em seu filme mais experimental, o documentarista retrata os ensaios da peça As Três Irmãs, de Tchekhov, (que não foi nem será encenada) dando prosseguimento à investigação entre ficção e realidade que já era a tônica em Jogo de Cena.

6 - Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski. Fruto de intensa pesquisa, o documentário faz importante revisão da ditadura militar brasileira mostrando a organização de empresários brasileiros para financiar a tortura. Ritmo dinâmico e uso de variados recursos audiovisuais, como animação, são alguns dos diferenciais deste filme.

7 - Apenas o Fim , de Matheus Souza. Despretensiosa, esta produção de baixíssimo orçamento faz um raio x da juventude contemporânea por meio da história de um casal que está se separando. O primeiro longa de Matheus Souza transpira renovação e despojamento.


Apenas o Fim, de Matheus Souza

8 - 500 Dias Com Ela, de Marc Webb. Esta deliciosa e criativa comédia romântica dá novo fôlego ao gênero graças a uma série de procedimentos narrativos, como a quebra da linearidade e intenso uso de flashbacks e flash fowards, a inserção de um número de dança em referência aos musicais clássicos e na sequência em que as expectativas do protagonista e a realidade dividem a cena.

9 - Deixa Ela Entrar, de Tomas Alfredson. Longe das convenções cinematográficas do gênero, o drama sueco explora a complexa relação entre uma jovem vampira e um menino que sofre com o bullying na escola. Em um ano de filmes de vampiros adolescentes a la Romeu e Julieta, Deixa Ela Entrar oferece abordagem obscura do amor entre sugadores de sangue e humanos.

10 - À procura de Eric, de Ken Loach: O ponto alto desta comédia é o roteiro que abre espaço para a fantasia. O protagonista cheio de problemas vê sua vida tomar outro rumo quando, como em um passe de mágica, começa a receber visitas do polêmico jogador do Manchester e da seleção francesa dos anos 90, Eric Cantona. As engraçadas metáforas que o jogador usa para encorajar o xará são uma atração à parte.

Sérgio Alpendre - Editor da Revista Paisà e crítico de cinema da Contracampo, Cineclick e Folha de S. Paulo

Melhores 2009:
Amantes
, de James Gray

Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes

Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino

Deixa Ela Entrar, de Tomas Alfredson

Gran Torino, de Clint Eastwood

Moscou, de Eduardo Coutinho

Guerra ao Terror, de Katheryn Bigelow (saiu no Brasil direto para o DVD)

Atualizado em 10 Abr 2012.