Guia da Semana

,Foto: Divulgação

A preparadora Fátima Toledo no seu studio, em São Paulo

De cinco anos para cá, o cinema nacional vem conquistando seu espaço no mercado, além, claro, dos aplausos do público mais exigente: os brasileiros. O longa Tropa de Elite, por exemplo, é um dos destaques da nova safra de grandes títulos. Dirigido por José Padilha, o filme arrebatou o público pela crítica social latente e por conta do protagonista Capitão Nascimento - vivido pelo ator Wagner Moura. O jeito estourado do personagem, ao lidar com o crime e com as questões pessoais, cativou os espectadores de forma definitiva. Para qualquer ator, é sempre um desafio chegar até sua personagem. Como fazê-lo de uma maneira crível para que este chegue até os espectadores e os façam entender a vida daqueles que eles veem nas telas?

Além de jornalista, sou atriz e já fiz alguns cursos de interpretação. Grande parte deles são voltados para o método do russo Constantin Stanislavisk, que propõe uma atuação realista, na qual o ator deve estudar e buscar sua personagem dentre algumas "regrinhas" que esse sistema impõe, como ação exterior e interior - tudo aquilo que fazemos tem que ter um propósito - círculo de atenção e gênese da figura dramática. Há sempre, de alguma maneira, uma barreira que limita o ator e a do papel a ser interpretado.

Contudo, um novo método vem tomando conta do cinema nacional. Desenvolvido por Fátima Toledo, muitos diretores buscam o trabalho dessa alagoana na hora de preparar os atores que farão parte do elenco. Descoberta por Hector Babenco, Fátima pôde trabalhar com os jovens atores do filme Pixote, a Lei do Mais Fraco. Foi a partir daí que seu nome repercutiu e conquistou muitos diretores. Seu trabalho pode ser visto não apenas nas duas edições de Tropa de Elite, mas também em Cidade de Deus, Central do Brasil, Linha de Passe e Besouro.

Mas o que difere Fátima no mercado? Curiosa do jeito que sou, fui até seu studio na Vila Mariana, em São Paulo, para fazer um de seus cursos. Quem é ator, aposto que já deve ter ouvido algumas histórias estranhas sobre as aulas, como sair machucado e que o ator é exposto a situações-limite. Inclusive muitos têm medo. A própria atriz Alice Braga, que fez parte do elenco de Cidade Baixa, admitiu que chegou para a preparação receosa. Preciso confessar que eu tinha um certo medo, mas meu interesse em descobrir e vivenciar coisas novas era muito maior. O primeiro curso que fiz foi um workshop de apenas cinco dias. Quis primeiro sentir o gosto da coisa antes de investir em algo que não me agradasse.

Na primeira parte da aula, o preparador busca a limpeza do corpo do ator, com exercícios da bioenergética que ativam um estado de vibração exterior e interior. O corpo deve vibrar, literalmente, fazendo que ele fique vivo e pronto para o que for necessário. Em diferentes posições, vamos buscando esse ápice. Mas o mais importante, aqui, é você estabelecer uma conexão com seu parceiro. Todos os exercícios são feitos em dupla, e nunca pode haver uma quebra entre os olhares. Depois de suar a camisa, vamos para a meditação da kundalini que, por meio da movimentação do quadril, ativa-se uma energia adormecida em nosso corpo que está localizada no períneo, sendo percorrida por todo nosso corpo.

Na segunda parte da aula, vamos para as dinâmicas, ou seja, o preparador trabalha com alguns pontos cruciais do ser humano por meio de situações colocadas, como perda, solidão, busca de sonhos e conquistas - na qual os atores devem vivenciá-las sem construir histórias ou personagens; é o que a pessoa precisa e vive naquele momento.

Ai está o diferencial. Fátima busca a verdade e a sinceridade de nossos sentimentos. Sem histórias e sem personagens. Ela pede você ali, naquela situação, naquele momento, naquele dia. Tem que ter muito peito pra encarar seus medos e ser condizente com aquilo que você realmente é. A conexão que fazemos com nosso corpo e nossas sensações é imprescindível nessa busca. Foi assim que o Capitão Nascimento nasceu. Ao ser pressionado por um comandante do Bope, quando teve que ouvir coisas não muito agradáveis sobre sua família, Wagner explodiu de uma tal maneira que foi naquele momento que a personagem veio à tona.

Mesmo não estando na preparação para um filme, eu tive a oportunidade de me conhecer de um outro ângulo. Dos dois cursos que fiz no studio, vi a Marilia em um momento extremamente frágil que só chorava mas, em um segundo momento, uma outra pessoa forte que busca conquistar seu espaço. Você é constantemente acionado a vivenciar tudo o que guarda dentro de si próprio.

Se você já pensou em fazer curso na metodologia criada pela Fátima, vá. Não é preciso ser ator. O primordial é você estar disposto a embarcar em uma jornada de encontro e experimentação de um você que ainda não conhece - ou, pior, que tem pavor de ser apresentado. O studio oferece cursos mensalmente. Quebre seus tabus e você não irá se arrepender.

Quem é a colunista: Uma pessoa que nasceu para viver várias vidas em uma só.

O que faz: Jornalista e professora de inglês.

Pecado gastronômico: Sorvete.

Melhor lugar do mundo: Meu mundo se limita ao Brasil, mas se é pra escolher, fico com Salvador.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Glee e Aerosmith.

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Atualizado em 1 Dez 2011.