Guia da Semana


Um dos líderes de bilheteria no Brasil é Eu Sou a Lenda (2007). Essa é terceira adaptação do livro I am Legend de Richard Matheson. A primeira foi Mortos que Matam (1964), estralada pelo rei dos filmes de terror Vincent Price. A segunda, A Última Esperança da Terra (1971), tem Charlton Heston e zumbis-albinos que usam capas pretas e óculos Ray-Ban. O tema comum a todas as obras, que mostram um mundo em que a população foi dizimada por uma doença mortal, é o fim do mundo. Uma enfermidade, dessa vez causada por um vírus, também devasta a Terra em 12 Macacos (1995), grande filme de Terry Gilliam. O apocalipse já está há tempos na pauta do cinema e é, quase sempre, garantia de blockbusters. Algumas vezes esse mote também resulta em bons filmes.

Os EUA são, notadamente, o país que têm o maior apreço por películas desse tipo. Já em 1979 lançaram Meteoro, filme em que um - veja você - meteoro está para destruir a Terra. Essa mesma idéia foi retomada nos ruizinhos Armageddon e Impacto Profundo, ambos lançados em 1998 e ambos grandes sucessos de bilheteria. Já em Independence Day (1996) quem quer destruir o nosso planetinha são os alienígenas, que dessa vez chegam até a desintegrar a Casa Branca com um raio (mas perdem no final). Em 2001, porém, o ataque ao WTC fez com que os americanos dessem um tempo em filmes como esses, que transformavam o fim dos tempos em um espetáculo de efeitos especiais. Esse conceito só foi retomado com força por Hollywood em 2004, ano de lançamento de O Dia Depois de Amanhã, no qual o novo agente da aniquilação é o aquecimento global.

Essa categoria de filmes mostra também uma mudança na idéia de como a nossa raça pode ser extinta, de acordo com as paranóias da época. Em filmes mais recentes como Armageddon, Impacto Profundo e Independence Day a humanidade é salva pelas bombas nucleares. O mesmo acontece no bom Sunshine - Alerta Solar (2007), filme de Danny Boyle que, infelizmente, não fez muito sucesso por aqui. Na época da Guerra Fria, porém, essas armas faziam parte dos pesadelos das pessoas e acabaram com o mundo em filmes como A Hora Final (1959), The Day After - O Dia Seguinte (1983) e Dr. Fantástico (1964), uma das obras-primas de Stanley Kubrick.

No filme de Kubrick, aliás, a Terra é realmente destruída, nós não conseguimos salvá-la. O mesmo acontece no Guia do Mochileiro das Galáxias (2005), em que a terra é destruída sem muita cerimônia por uma raça alienígena para a construção de uma via interestelar. Mas acho que o único filme em que não sobra nem um ser humano para contar história (apesar de seu final ser aberto a interpretações) é o deliciosamente demente Save The Green Planet (2003). Na obra sul-coreana, a Terra é um experimento alienígena, que acaba por ser destruído por seus criadores, que consideram o planeta um teste mal sucedido.

Essa obsessão pelo fim do mundo é provavelmente um reflexo do constante questionamento da humanidade sobre o seu destino e o seu papel na história. A moral da maioria desses filmes é a de que o homem sempre luta, adapta-se, improvisa, enfim, encontra uma maneira de sobreviver. Esse tema continuará retornando ao cinema periodicamente enquanto isso for verdadeiro e até o dia em que, de fato, a Terra deixar de existir.

Leia as colunas anteriores do Robinson:

  • Fino humor americano: Filmes e piadas que só eles entendem

  • Cinema de alto orçamento: O preço do ingresso não anda ajudando os fãs da sétima arte

  • Movie Titles: Nomes escolhidos para alguns filmes que beiram o mau gosto

    Fotos ilustrativas: Divulgação Quem é o colunista: : Robinson Melgar, 29, não estudou e por isso ganha a vida escrevendo sobre informática. Seu sonho é virar a maior autoridade em cinema de sua rua.

    O que faz: é jornalista.

    Pecado gastronômico: x-calabresa.

    Melhor lugar de São Paulo: Rua Augusta.

    Acesse o site dele: www.morfina.com.br.
  • Atualizado em 6 Set 2011.