Guia da Semana

Foto: Mario Miranda

Plateia assiste à filme da Mostra ao lado da Avenida Paulista

Encantar-ser com o jovem James Stewart vestido de cowboy e empunhando sua espingarda em defesa de crianças raptadas por índios em pleno vão livre do Masp ou assistir a documentários experimentais disponibilizados na Internet? Para uma emoção grandiosa, o contato com uma das obras-primas do século XX em um parque público com orquestração ao vivo. Para outra mais pessoal, ver vários filmes à sua escolha dentro de uma carta com mais de 450 produções. A cada ano, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo aprofunda seus laços com a cidade e investe em plataformas para a disseminação da sétima arte e criações paralelas.

A organização da 34ª edição ainda não conta com dados fechados de bilheteria, mas nada que impeça de avaliar os resultados visíveis do evento.

Já consagrada, a Mostra consegue mudar o clima da cidade. Pessoas e mais pessoas passam a andar correndo com planilhas impressas e revistas de programação por entre 20 salas de cinema e demais pontos de exibição. Na mira delas, recentes produções, clássicos restaurados ou experimentos entre o inovador e o bizarro. Esse movimento, já tão bem absorvido pela metrópole, consegue ao mesmo tempo dar um respiro a São Paulo como poucos eventos fazem.

No entanto, tudo tem de ser consumido em duas semanas e mais alguns dias de repescagem. Fastio e preguiça são substantivos comuns para descrever as filas e situações vividas pelos menos cinéfilos e mais impacientes.

São Paulo, uma grande sala de cinema

Para fugir de um modelo de evento comprovadamente cansativo, a organização vem buscando ampliar as ações, o que tem dado certo. Mais do que filme A ou B, foram as ações públicas, exposições e novas plataformas da Mostra que renderam mais comentários, mais burburinho na mídia e entre os expectadores.

A lista é grande. As exposições Lugares, Estranhos e Quietos e Kurosawa - criando imagens para cinema mostram como a relação entre espaço urbano e cinema são fundamentais nas obras dos cineastas Wim Wenders e Akira Kurosawa, respectivamente. O Festival da Juventude levou a locais pouco relacionados com o cinema a oportunidade de refletir sobre as políticas públicas e histórias dos jovens da atualidade.

Foto: Mario Miranda

Filme, orquestra e público em comunhão no Parque do Ibirapuera

Nas ruas, outro diferencial da edição. A estrutura oferecida no vão livre do Masp foi digna das melhores salas, dadas as condições. Já a exibição de Metrópolis, no Parque do Ibirapuera, contou com o acompanhamento da orquestra Jazz Sinfônica e foi um exemplo de civilidade e respeito ao vizinho com quem se dividiu o gramado naquelas duas horas. A quem passava, o estranhamento do inusitado. Para aqueles que lá estavam, além de curtir os filmes, fez pensar em como é possível aproveitar o espaço urbano com arte.

Arte também vista no espaço privado. Pioneira desde o ano passado, a Mostra on line exibiu 12 curtas, um média e 53 longas em streaming, democratizando o acesso e ampliando as perspectivas do vivenciar o cinema e suas criações.

Arte que você encontra aqui, com as observações das repórteres Cyntia Calhado e Gabriela Guimarães, que assim como eu e você, tentaram ver quantos filmes foram possíveis em meio ao caos e poesia da metrópole que não dorme.

A Rede Social
Se há algo interessante em A Rede Social é descobrir que a origem do Facebook, a maior rede social do mundo, é tão humana quanto eu e você, pois nasceu de uma história feita de intriga, solidão, ciúmes, ambições e disputas judiciais vividas pelo mais jovem bilionário do planeta Mark Zuckerberg e seu ex-sócio e amigo Eduardo Saverin. O ritmo da câmera de David Fincher tenta ser tão impactante quanto em Clube da Luta, seu maior sucesso. Pena que da metade para frente a obra vire apenas mais um filme de tribunais. As atuações dos jovens (e desconhecidos) atores ficam apenas no necessário, para não chamar de fracas. Melhor para o cantor Justin Timberlake, único a se destacar ao encarnar Sean Parker, atual presidente da empresa. Filme de encerramento da 34º Mostra. (Bruno C. Dias)

Bróder
Apesar do roteiro, trilha sonora e algumas interpretações boas, a construção da mise-en-scène de Jefferson De é fraca e Caio Blat, que vive o mano Macu, parece tentar compensar seu distanciamento social com uma atuação exagerada. Este longa provocou interesse da mídia pelo fato de estabelecer uma espécie de inversão de forças, uma vez que o diretor filma uma realidade, a do bairro periférico paulistano Capão Redondo, que ele próprio viveu. Assim como o (fraquíssimo) 5x Favela - Agora Por Nós Mesmos, esta produção quebra a lógica que rege a produção nacional, em que o cotidiano das classes baixas é visto pela ótica da classe média. Esta argumentação soa frágil, já que, além do âmbito político, o fato de uma pessoa retratar um universo conhecido não é garantia de maior autenticidade a uma obra. (Cyntia Calhado)

Foto: Divulgação

Juliete Binoche e William Shimell sob o olhar de Kiarostami

Cópia Fiel
Quem acompanha a carreira do cineasta iraniano Abbas Kiarostami estranha esta produção que, além de ser filmada na Toscana, a princípio parece uma despretensiosa comédia romântica. À medida que a narrativa avança, as marcas do autor vão sendo reveladas e o longa assume um jogo de representação que remete a Close-Up (1990). A leveza e graça de Juliete Binoche, que levou o prêmio em Cannes por esta interpretação, e a frieza de William Shimell dão tom ao filme. (CC)

Howl
Mais um tema da geração beat nesta 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dirigido por Jeffrey Friedman e Rob Epstein, o longa Howl aborda este polêmico poema do escritor Allen Ginsberg, contemporâneo de Jack Keroauc e William S. Burroughs. Esta obra gerou grandes confusões na época em que foi lançado, em 1957, nos Estados Unidos, ao ponto de seu editor, o poeta Lawrence Ferlinghetti, dono da City Light Books, ser acusado de publicar um livro de conteúdo pornográfico e este caso ser levado aos tribunais para discutirem se esta obra continha ou não trechos obscenos. Ginsberg foi interpretado brilhantemente pelo ator James Franco. (Gabriela Guimarães)

Minha Felicidade
O diretor ucraniano Sergei Loznitsa traz sua experiência como documentarista para esta que é sua primeira incursão no universo ficcional. Verdadeiro soco no estômago, o longa de título irônico é um retrato desolador da Rússia pós-comunismo, uma terra sem lei, marcada pelo abuso da autoridade e violência, por onde perambulam homens-zumbi. (CC)

Rosas a Crédito
Amos Gitai se distancia do conflito árabe-israelense presente em toda sua filmografia para falar, em seu novo longa, da influência norte-americana, que se deu de forma prática por meio Plano Marshall, na França do pós-guerra. O consumismo e a busca pelo novo, marcas da personagem de Marjoline, e o apego às tradições já decadentes, do marido Daniel, servem como metáfora das novas configurações da Europa. O filme retrata também as transformações da mulher, passando por temas como aborto, divórcio e emancipação. (CC)

Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas
Conduzido por um mal-estar constante, o espectador é convidado a mergulhar em um universo fantástico, povoado de lendas e misticismo, neste mais recente filme do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, que ganhou a Palma de Ouro no festival de Cannes. Transcendência e contemplação, pilares do budismo, são dois conceitos-chave que permeiam esta obra. (CC)

Foto: Divulgação

A relação pai e filha é o objeto do novo filme de Sofia Coppola

Um Lugar Qualquer
Mais um belíssimo filme da cineasta Sofia Coppola, abordando o tema solidão de uma forma não convencional. O filme mostra a relação de um astro do cinema, Johnny Marco, em uma forte e ao mesmo tempo sensível interpretação do ator Stephen Dorff. No papel de sua filha Cleo, está a atriz mirim Elle Fanning, que criou uma química muito bacana com Stephen. Uma das características dos filmes de Sofia são os destaques às trilhas sonoras e neste longa não seria diferente, contando com as músicas My Hero, da banda Foo Fighters, e Cool, sucesso da carreira solo de Gwen Stefani, vocalista do No Doubt. (GG)

William S. Burroughs: Um Retrato Íntimo
Para quem não conhece profundamente ou não sabe nada sobre o que os estudiosos chamaram de "Geração Beat", este documentário é uma ótima forma de vivenciar este movimento. William S. Borroughs foi um importante escritor, poeta e por que não dizer, um agitador cultural à frente de seu tempo. Em depoimentos de artistas como Patty Smith, Thurston Moore ( Sonic Youth), do escritor e fiel amigo Allen Ginsberg, entre outros. Todos mostram um pouco deste polêmico autor homossexual, que tinha medo de encontrar um grande amor e renegou seus próprios filhos. São muitas histórias ao longo de 83 anos de existência, que jamais poderiam passar despercebidas. (GG)

Atualizado em 6 Set 2011.