De Los Angeles
O Procurado tem tudo que um bom filme de ação precisa: armas, tiroteios, cenas impossíveis, perseguições de tirar o fôlego e, claro, Angelina Jolie. James McAlvoy e Morgan Freeman estão ali, mas o show visual é dela, que vai fazer muito marmanjo pagar o ingresso só para ver sua cena seminua. De qualquer forma, o filme funciona dentro de seu gênero, mesmo com alguns problemas notáveis de edição. Para fãs dos quadrinhos vai sobrar a frustração por conta de uma história radicalmente diferente do roteiro criado por Mark Millar.
Não há novidades em O Prourado. Os efeitos das balas não atualizam o bullet time de Matrix e a trajetória do personagem principal - James McAvoy, sempre bem - é uma saga do herói ao avesso, que é prejudicada por uma montagem confusa e inconstante. A ação, porém, é tão intensa, que o ritmo acelerado compensa suas deficiências. O que pode, e deve, frustrar muitos dos fãs da HQ que inspirou o filme, em 2003, no mercado norte-americano.
Os personagens são construídos rapidamente e suas habilidades também. Eles são capazes de curvar as balas, ou seja, atiram de qualquer lugar, de qualquer distância e, normalmente, atingem seus alvos. O mais novo membro dessa elite de assassinos é Wesley (James McAvoy), que é recrutado por Fox (Angelina Jolie) para vingar a morte de seu pai, também membro da tal Fraternidade. Mas há o inimigo, Cross (o competente ator alemão Thomas Kretschmann), um renegado disposto a destruir o grupo. A sinopse vai ser o maior problema para quem conhece a HQ. O conceito dos supervilões e toda a luta com os super-heróis foram completamente expurgados e o que surgiu nos quadrinhos como uma versão bizarra de Watchmen ganhou tons de armação simplista e luta básica pelo poder no cinema.
Assistir ao filme sem a referência da HQ acaba se tornando a melhor arma de O Procurado nas bilheterias, pois somente assim se pode valorizar a construção de uma grande mentira em torno da real função de Wesley e a verdade por trás da Fraternidade. Quem lidera o grupo, tornando-se o grande pivô de toda a reviravolta do filme, é o personagem de Morgan Freeman, em destaque apenas por algumas frases fortes, palavrões hilários e uma careta impagável. Comédia? Quase, mas tem por objetivo valorizar seu trabalho e evitar um personagem meramente ilustrativo ou repetitivo.
O Procurado é aquele tipo de filme feito para a nova geração: boca suja, disposta a mudar o mundo com um headshot e que sonha em descobrir que é filho de um milionário! Claro que a "apologia" às armas vai despertar os incautos, claro que os radicais vão detestar por causa das diferenças gritantes entre HQ e cinema, mas claro que tudo isso soa cool para diabos. E é isso que o filme pretende, ser cool. A "Geração MTV" cresceu e esse filme é para ela.
O Procurado, porém, tem seu pior inimigo em sua própria campanha de marketing. Foi-se o tempo em que um filme grande tinha um teaser e um trailer. Agora existem os "promos" e os vídeos para internet. Com isso, se você acompanhou toda a trajetória que a Universal Pictures realizou para divulgar seu produto, você não se surpreende no cinema. As grandes cenas de ação já foram vistas. Angelina já fez o carro rodopiar para resgatar Wesley; que, por sua vez, já cometeu um assassinato aéreo atirando pelo teto solar de um veículo blindado onde estava sua vítima; e por aí vai. As bilheterias não vão sentir o efeito disso, mas, sem dúvida, muita gente vai sair da projeção com a sensação de que já tinha visto quase tudo ali. É aquela velha história "a melhor piada estava no trailer". Ela pode se repetir neste filme. O resultado soa como uma montagem desses clipes, ou melhor, um grande videoclipe dirigido pelo russo Timur Bekmambetov (do ótimo Night Watch).
Mas será que alguém vai se preocupar com isso depois de passar algumas horas com Angelina? O curioso é que muitos fãs dos quadrinhos já se perguntam: é possível que a Fox seja interpretada por alguém que não a Halle Berry? Ou que Wesley não seja vivido por Eminem? Trata-se de outra história, portanto, outros personagens e referências visuais para mostrar que existe certa independência desse produto em relação ao seu original.
O Procurado cumpre o que promete: ação do começo ao fim, tiroteios impensáveis e, claro, dar mais um exemplo da sensualidade voraz de Angelina Jolie em cena. É bacana e empolgante, mas não chega a fazer sombra aos grandes lançamentos do ano. Mas claro o longa-metragem deve faturar algum daqueles prêmios nonsense que o MTV Awards entrega: Melhor Cena de Carro Rodopiando, ou algo assim. Justo dizer que o filme também entrega alguns elementos secundários de grande valia: um novo grande trabalho de James McAvoy (os personagens principais neste caso são as cenas de ação, sendo que o fato de ele aparecer em todas elas não o torna mais importante que a adrenalina das cenas), que se consolida cada vez mais; uma ótima participação de Terence Stamp; e uma mensagem tapa na cara para quem se contenta com uma vidinha medíocre.
Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.
O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.
Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!
Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.
Atualizado em 6 Set 2011.