Guia da Semana

Politicamente incorreto é coisa do passado: a moda agora é ser incorreto por todos os lados. A quem estamos enganando, afinal? O público gosta, mesmo, é de ver piada étnica, sexista ou escatológica. Ou tudo junto, como na nova comédia de Pedro Amorim, “Superpai.

O nome, à primeira vista, sugere uma comédia dramática familiar - algo como “pai desleixado é obrigado a cuidar do filho e descobre o verdadeiro significado do amor paterno”. Não é o caso: “Superpai”, na verdade, é sobre um homem que provavelmente engravidou a namorada por acidente, casou por obrigação e nunca conseguiu se perdoar por ter abandonado a vida de “pegador”.

Vinte anos depois de formado, Diogo (Danton Mello) tem a chance de reviver seus momentos de “glória” numa festa de reencontro, mas para isso precisa convencer a esposa chata de que ele está cuidando bem do filho bobo. O que ele não está, é claro.

Na verdade, ele tem prestado tanta atenção no menino nos últimos seis anos que conseguiu confundi-lo com outro, totalmente diferente, só porque a criança estava usando uma máscara. Agora, precisa correr contra o relógio para devolver o menino errado e reencontrar o certo, antes que a mulher chegue em casa.

“Esposa chata” e “filho bobo” não são julgamentos maldosos de quem vos escreve, mas clichês da comédia americana e brasileira. A fórmula é a seguinte: tudo conspira pelo sucesso do protagonista, exceto sua família, tratada como um fardo imposto pela sociedade. Com a ajuda de amigos tão “legais” quanto ele (normalmente solteiros ou cujas famílias não aparecem), esse homem vai perceber que não seria feliz sozinho e/ou que há coisas piores do que a vida conjugal. Grande lição!

“Superpai” tenta enriquecer o roteiro e redimir o protagonista inserindo um tema polêmico (a exploração do trabalho de crianças imigrantes – “Crô”, alguém?), como se quisesse ser levado a sério – coisa que não combina em nada com o tom despojado do filme.

Entre os atores principais, quem se destaca é Dani Calabresa, que interpreta uma ninfomaníaca, amiga de Diogo e membro feminino na turma dos meninos. Com um humor autêntico e timing perfeito, ela oferece um alívio aos diálogos decorados trocados por alguns dos outros atores.

Lamentavelmente, porém, a personagem de Dani se encaixa, como todas as outras mulheres no filme, em um dos dois únicos pólos possíveis numa comédia desse tipo: ou é alguém com quem um ou mais personagens quer fazer sexo, ou é a esposa/mãe chata.

Os homens não são poupados de estereótipos também: ou são ingênuos e atrapalhados, ou machões armados (policial ou bandido). Ironicamente, quem foge dessa rotulação é justamente o personagem gay, que se mostra mais sensato e verossímil que todos os outros.

O filme ainda oferece um festival de piadas de mau gosto envolvendo orientais e pessoas com deficiência. O resto das risadas fica por conta de trapalhadas nojentas ou dolorosas, como um jato de vômito, um choque elétrico, uma queda de escada, etc.

“Superpai”, apesar do gosto duvidoso, tem boas sacadas (como o traficante que mora com a mãe ou as referências a Jaspion e Spectreman), mas a sensação geral é de déjà-vu: já vimos essas piadas, já ouvimos esses palavrões. Mostrem-nos algo novo.

Por Juliana Varella

Atualizado em 26 Fev 2015.