Guia da Semana

De Los Angeles


A produtora Catherine Winder já tem bastante experiência com animação para nerds, pois foi a pessoa que realizou Spawn para a HBO. Seus trabalhos prévios foram fundamentais para que George Lucas a contratasse e desse a ela uma missão complicada: coordenar sua nova unidade de animação, a LucasFilm Animation, com escritórios em São Francisco e Singapura.

Além do filme que estreou na semana passada em todo o mundo e ficou em terceiro lugar nas bilheterias norte-americanas, a estréia do estúdio mostra que há mais um novo competidor no mercado mundial. Entretanto, além de ser uma nova powerhouse de animação, a LucasFilm Animation está à disposição de estúdios que queiram aprimorar suas produções como já fazem com o sistema de som THX e os efeitos especiais da Industrial Light & Magic.

Muito mais que falar sobre Star Wars: The Clone Wars, seu mais novo trabalho, Catherine Winder conversou com nosso correspondente internacional sobre os processos da animação moderna e sobre as dificuldades de se trabalhar com um produto tão complexo e idolatrado como Guerra nas Estrelas. Interessante notar que, embora tudo pareça fácil quando se fala de George Lucas e Guerra nas Estrelas, a estrada percorrida pela equipe de produção foi um pouco mais complicada do que imaginamos, afinal, animação requer muito mais organização, trabalho de longo prazo e, claro, sorte nas decisões.

Fábio Barreto: Qual a diferença entre produzir um longa animado e um filme tradicional?
Catherine Winder:
Comparar um filme tradicional com uma animação é como se comparasse uma maratona com uma corrida de curta distância. A animação leva mais tempo, é um trabalho muito mais cuidadoso. Uma série de TV como essa levou cerca de 3 anos para completar 20 episódios, enquanto se leva menos tempo para a produção de um filme com atores de verdade. O maior desafio aqui é manter a equipe motivada e, mais importante, ser capaz de olhar a linha de produção até o final, pois, às vezes, uma escolha não muito pensada no começo pode prejudicar todo o projeto lá na frente. Claro, também existe o lado bom que acompanha alguma decisão arrojada, mas tudo precisa ser analisado com calma ou o quebra-cabeça fica sem peças suficientes na reta final. Erros que voltam para assombrar a gente!

Foi complicado organizar uma produção em dois países diferentes, com fuso-horário e línguas diferentes?
Catherine Winder:
Para falar a verdade foram três times. Temos a equipe de São Francisco, o estúdio de Singapura e um terceiro núcleo situado em Taiwan, que foi nosso parceiro durante esses anos. Além de todas as diferenças que envolviam horários e culturas, também tivemos que nos adaptar ao fato de trabalharmos juntos pela primeira vez. Mesmo o pessoal de São Francisco tinha acabado de se reunir para montar o estúdio. Por conta disso, demorou um pouquinho para garantir que todo mundo se entendesse de verdade, pois as chances de erros de comunicação eram grandes e, como disse anteriormente, isso não poderia acontecer.

Mas o coração dessa operação fica em São Francisco, certo?
Catherine Winder:
Sim, o escritório em Marin, onde George Lucas também trabalha é uma espécie de centro nervoso. É lá que criamos as histórias, direção de arte e definimos os rumos do produto e enviamos tudo isso delineado para os estúdios parceiros. Então, eles animam, inserem elementos de iluminação e alguns dos efeitos e mandam de volta para a edição, produção de um primeiro corte e, logo depois, enviamos tudo para o Skywalker Ranch, onde acontece a pós-produção. Nosso compositor, por exemplo, também está distante fisicamente. Ele trabalha direto de Los Angeles.

Como funciona a integração entre o elenco de vozes e os animadores?
Catherine Winder:
Esse é um dos detalhes mais interessantes de uma animação, pelo menos no nosso caso. Criamos algo chamado "trilha tentativa", na qual várias pessoas da equipe de produção dublaram os personagens como referência. Com isso em mãos, conseguimos criar uma animação que funciona guia para as vozes definitivas. Depois, essas gravações são enviadas para os animadores, que vão criar seus trabalhos já apoiados nas vozes, mas isso não transforma o produto em algo inflexível. Temos espaço programado para adaptações baseadas em improvisações ou melhorias que os atores fornecem durante a última rodada de dublagens. E isso provou ser bastante proveitoso em termos de criatividade e interação.

Mas eles trabalham juntos em algum momento? Há interação entre os dubladores?
Catherine Winder:
Tentamos fazer isso o maior número de vezes possível, já que reunir a equipe envolvida em cada cena dentro de um mesmo estúdio cria uma atmosfera incrível e tudo fica energético.

E isso ajuda no resultado, certo?
Catherine Winder:
Com certeza.... e é difícil fazer isso com filmes tradicionais, por conta dos cronogramas ocupados de todos os atores. Normalmente, as estrelas dos filmes só se encontram nas cenas que fazem juntos e é isso, não existe muita preparação ou integração nesse sentido.

Anthony Daniels ajudou, além de ter novamente dublado C-3PO?
Catherine Winder:
Foi ótimo contar uma das vozes originais e, o principal, ele ensinou David [Filoni] e a mim sobre Star Wars. Afinal, ele está lá desde os primórdios, não é? Fiquei apaixonada por ele. Ele foi fundamental para a série.

Por falar em colaboração, como George Lucas participou do projeto?
Catherine Winder:
Ele está ali para as decisões mais pontuais, especialmente enquanto estávamos desenvolvendo o programa. É impossível contar com ele diariamente por razões óbvias, então, o projeto era convocá-lo em momentos específicos, quando precisávamos decidir a inclusão, ou não, de algum personagem ou mudanças de rumos na história principal. Por exemplo, ele aprovou o roteiro final, aprovou todos os personagens principais e alguns outros pontos maiores, mas tivemos bastante liberdade para trabalhar. No fim das contas, foi algo como uma vez por semana.

Como vocês fizeram para "entender" a visão de George Lucas?
Catherine Winder:
Um dos momentos mais importantes da série aconteceu enquanto George estava finalizando A Vingança dos Sith, ou seja, ele não tinha tempo para nada. Então, o jeito era tentar conseguir informações por pessoas próximas a ele, gente que entende bem como ele pensa, mas, sempre que pude, mostrava o material a ele.

Dá para comparar esse produto com a série do Cartoon Network?
Catherine Winder:
São interpretações diferentes. Acredito que a microssérie tenha sido algo mais fantástico e cheio de momentos dramáticos de acordo com a visão daquela equipe. No nosso caso, criamos episódios completos de 22 minutos, com bastante importância para a construção de personagens, além de humor e bastante comedia, o que é diferente. Outro elemento único foi o fato de podermos contar com muito mais desenvolvimento gráfico por conta do 3D. É justo dizer que fizeram um ótimo trabalho e temos que ver os dois produtos como diferentes versões. No fundo, a microssérie foi um tubo de ensaio para ver se Star Wars poderia continuar com a mesma magia em episódios semanais na TV.

O roteiro do filme permaneceu o mesmo desde o início da produção ou sofreu muitas mudanças?
Catherine Winder:
Olha, o roteiro ficou bem cravado desde o início. Fez tanto sentido realizar essa história com a idéia de apresentar Ahsoka, que ela se tornou uma personagem muito importante para nossa primeira temporada.

Leia as matérias anteriores do nosso correspondente:

  • David Filoni: O diretor de The Clone Wars fala do trabalho com George Lucas

  • O Grande Dave: Leia a crítica da novo longa e Eddie Murphy

  • Zack Snyder: Em entrevista, cineasta fala sobre adaptação de quadrinhos para a telona


    Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

    O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

    Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

    Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.

  • Atualizado em 17 Abr 2013.