Guia da Semana

Foto: Getty Images


Com os trâmites da ceia de natal, creio que a maior parte dos leitores chegarão a este texto quando faltar menos de uma semana para a chegada do ano novo de 2011.

Final de ano é sempre tempo de retrospectiva e de listas de melhores do ano. Tempo de balanço. Meio difícil fugir disso. Mas prefiro não fazer listas fechadas. Porque se no cinema se diz que todo enquadramento é uma subtração, não é diferente nas listas. Cada escolha é um esquecimento, um filme que se abandona. Por isso prefiro ficar mais no acaso, no que me vem à memória agora, sem escala e sem número fechado.

Se é para destacar alguns filmes que `ficaram comigo` esse ano, cito A Origem, de Christopher Nolan, Estrada para Ythaca, dos primos Parentes e irmãos Pretti, Insolação, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas, Ilha do Medo, de Martin Scorsese, Tropa de Elite 2, de José Padilha, e Uma Noite em 67, de Ricardo Calil e Renato Terra.

Como grande decepção do ano fica A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor, um filme bem ruinzinho de quem se esperava mais. E, por fim, como um filme que me intrigou e ainda está revirando na minha cabeça sem que eu consiga defini-lo e opinar, fica Tetro, de Francis Ford Coppola. Um filme que preciso urgente rever para tentar entender.

Mas, sendo o novo ano um renovar de esperanças, deixemos um pouco de lado o passado e olhemos para a frente.


Das esperanças renovadas para a experiência do cinema em 2011, elenco alguns desejos que tenho e quero compartilhar com os leitores aqui do Guia da Semana. São desejos meus, mas que, sendo eles presumivelmente nobres e válidos, estendo-os para que se realizem também nas vivências de cinema dos queridos leitores.


Primeiro de tudo, bons filmes a todos. Que, no final de 2011, o balanço seja positivo, com uma maior riqueza de experiências e filmes vistos.

Que as salas de cinema cheguem a mais cidades do país. Um dado estarrecedor é que 98% das cidades brasileiras não têm uma sala de cinema.

Que o preço dos ingressos não aumente. Já está caro demais e, como baixar é algo meio difícil, resta torcer para que não suba.

Que se coma menos, se fale menos e se desligue o celular durante as sessões. Ainda assusta a falta de educação das pessoas dentro do cinema. Pretendo falar mais sobre isso num texto futuro, mas vivemos uma era do individual, onde as pessoas estão desaprendendo a conviver em espaços coletivos.

Que cinemas de rua não fechem. Já tão escassos, esses redutos ainda são a única sobra para a exibição de filmes que jamais chegariam aos cinemas de shopping.

Independentemente de se gostar ou não de filmes de arte ou alternativos, a boa inteligência não pode negar a importância de diversidade e do pluralismo na evolução de uma arte e de uma sociedade. É preciso preservar o espaço para o não-comercial, sob pena de deixarmos morrer a pouca inteligência que resta no cinema.

Que abandonemos preconceitos. Que eu, enquanto "chato da crítica", que despreza blockbusters, aprenda a ver nesses filmes qualidades que muitas vezes passam despercebidas. E outros, que desprezam o cinema de arte e dito "difícil", vençam essa barreira e se permitam ver um filme "esquisito", ao menos de vez em quando. Ninguém perde com isso.

Por fim, que vejamos muitos filmes, que tenhamos novas sensações, novas experiências e novos horizontes. Que a sala de cinema seja sempre e cada vez mais o espaço de descobertas e vivências. E que essas vivências se convertam em lágrimas, risos, medos, alegrias, sustos, almas lavadas, emoções, tristezas, felicidades.

Iluminadas ou sombrias, que as imagens nos brilhem as retinas como tradução do mundo e de nossos próprios sentimentos. Que sejamos felizes, não apenas na experiência do cinema, mas também na experiência da vida.

A todos que me leram este ano aqui no Guia da Semana ou nos meus blogs, minha mais profunda gratidão. Obrigado por compartilharem comigo, durantes este ano, não só o prazer do cinema, mas o prazer de boas conversas. Até 2011.

Leia as colunas anteriores de Rogério de Moraes:

Os indomáveis

Os mercenários e o conflito de gerações

O Segredo do Grão

Quem é o colunista: gordo, ranzinza e de óculos.

O que faz: blogueiro, escritor e metido a crítico de cinema.

Pecado gastronômico: massas.

Melhor lugar do Brasil: qualquer lugar onde estejam meus livros, meus filmes, minhas músicas, meus amigos e minha namorada.

Fale com ele: [email protected] ou acesse seu blog



Atualizado em 6 Set 2011.