Guia da Semana


Há 12 anos, o médico Dráuzio Varella (foto) visita a região amazônica. Embora belíssimo, o passeio tem fins científicos: coletar amostras de plantas para descobrir novos medicamentos. A bordo de um barco-escola, passa por comunidades e conhece pessoas e suas histórias, que beiram o mundo da fantasia diante de tantas lendas e mitos da Amazônia. Numa destas expedições, em 2001, Dráuzio Varella e o cineasta estreante Luciano Cury se conheceram por acaso. Depois de tantos anos de idas e vindas e ouvindo histórias na região, surge a idéia de fazer um documentário: "O ponto de partida foi a experiência do Dráuzio, mas o formato final foi concebido em conjunto", conta Cury, que dirige o longa-metragem batizado de Histórias do Rio Negro.

Estes dois paulistas empreenderam uma aventura Rio Negro adentro em busca de depoimentos. "O objetivo era falar de questões cotidianas e mitologia. Não é um filme sobre saúde ou ciência, é sobre a população que vive à beira do rio", destaca o diretor. Entre os assuntos estão botos, curupiras, crenças e costumes. A viagem começa em São Gabriel da Cachoeira, no extremo noroeste do Brasil, e termina em Manaus. Foram 1,1 mil quilômetros percorridos no barco Escola da Natureza, num total de 20 dias de filmagens.

Para que toda a estrutura necessária para filmar na região estivesse pronta, houve um intenso trabalho de pré-produção. Cury (foto) relata que uma equipe passou cerca de seis meses na região procurando os possíveis personagens. "Foram mapeados 60 personagens e 17 foram selecionados. Alguns desapareceram no meio do caminho, mas ao fazer um documentário é preciso estar totalmente aberto para a improvisação", conta o cineasta. Depois da edição, o documentário conta com depoimentos de 13 pessoas, que falam sobre os temas que igualmente foram amplamente pesquisados para serem abordados durante as entrevistas.

Um detalhado planejamento foi fundamental para garantir toda a infra-estrutura necessária para rodar um filme num canto tão remoto do Brasil. "Qualquer eventualidade destruiria o cronograma, não há como voltar do meio do Rio Negro para conseguir outra câmera", diz Luciano Cury. A equipe se esforçou para calcular deslocamentos, fazer estimativas e sair de São Paulo com todo o equipamento necessário. No local, a rotina era intensa, pois os trabalhos se iniciavam bem cedo e terminavam somente quando a luz natural acabava.

Imagens da paisagem local compõem o longa-metragem entremeando os depoimentos dos moradores das comunidades ribeirinhas. O Rio Negro tem águas escuras e abundantes. Em parte das cenas, há uma inversão de imagens, no qual o reflexo das águas forma uma ilusão e não se sabe onde começa o céu e o rio. Segundo Cury, essas sequências ajudam a retratar com realidade e fantasia se misturam no local. A inversão foi feita durante a montagem do longa, já durante a pós-produção.

Histórias do Rio Negro estréia em São Paulo e Rio de Janeiro em 1º de junho.

Fotos: Divulgação

Atualizado em 6 Set 2011.