Guia da Semana

Biografias musicais formam um gênero curioso no cinema: o roteiro quase sempre é o mesmo (a infância sofrida, a luta por oportunidades, o sucesso e a queda) e o público, quase sempre, já conhece o final. Se é assim, o que de faz “Tim Maia”, de Mauro Lima, melhor que outros musicais semelhantes? Como na música, o segredo está no ritmo.

A história de Sebastião Rodrigues Maia é contada em ondas, cada fase correspondendo a uma cor, um tom e um ator diferente. Na infância, Tim ainda é Tião, a vida anda em preto e branco e o humor do menino ainda é apenas uma travessura de criança. Mais tarde, o garoto começará a sonhar alto, arrumará um jeito de se despachar para os Estados Unidos e, lá, arrumará suas primeiras encrencas.

A fase americana de Tim Maia é um daqueles momentos curiosos, pouco informativos mas interessantes, que servem para dar leveza e, ao mesmo tempo, preparar o público para trechos mais pesados no filme. Descobrimos que Maia (interpretado por Robson Nunes) se hospedou com uma família que nem conhecia, penou para aprender inglês e se enfiou numa viagem de carro que o levaria direto para a prisão e para a deportação. Mas o mais importante – o contato com o soul e com a música negra que batizaria seu trabalho – passa como uma brisa, discreta demais.

O filme também aborda a parceria (e as desavenças) com outros músicos brasileiros, em particular com um Roberto Carlos mesquinho e caricato interpretado por George Sauma. Membro da mesma banda de Maia no início de carreira, Roberto logo teria aproveitado uma oportunidade do grupo para vender-se como artista solo ao produtor Carlos Imperial (Luis Lobianco).

São personagens fictícios, porém, que ajudam a contar essa história e amarrar todos os seus pontos. Cauã Reymond é Fábio, que narra a vida do colega como um amigo íntimo e parceiro criativo. Fábio funciona, no filme, como alguém próximo o suficiente para conhecer as anedotas desse personagem tão polêmico – como Nelson Motta, que escreveu o livro citado como principal fonte para o roteiro, “Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia”, ou como um cantor paraguaio conhecido como Fábio, autor de “Até Parece que Foi Sonho – Meus Trinta Anos de Amizade e Trabalho com Tim Maia”.

Já Alinne Moraes é Janaína, groupie por quem Maia seria apaixonado desde a adolescência e com quem acabaria se casando. Ela é inspirada, obviamente, na esposa do cantor, mas teria traços de outras personagens reais.

A biografia se prolonga por mais de duas horas, mas a riqueza do personagem justifica a demora: confiante demais, o músico deixa-se levar numa crescente destrutiva de atitude, drogas e impulsos infiltrados até culminar num pedido desesperado de socorro. Como toda biografia musical, o colapso é um capítulo obrigatório.

Essa última fase é interpretada por Babu Santana e carrega as transformações mais profundas do artista. É quando ele alcança, finalmente, o sucesso, mas também é quando se afunda nas drogas, briga com a mulher e se afasta do filho. Buscando redenção, cai numa armadilha religiosa que coloca sua carreira em banho-maria e, quando enfim descobre o caminho de volta, seu corpo inchado cobra seu preço.

“Tim Maia” acerta ao mirar o público leigo, buscando uma audiência jovem que cresceu ao som de “Descobridor dos Sete Mares”, mas sabe pouco ou nada sobre seu compositor, sobre as raízes do soul no Brasil ou sobre a jovem guarda. Para os fãs, o filme traz curiosidades e aposta na nostalgia, mas não espere ver um grande videoclipe na telona: os números musicais, ironicamente, são bastante contidos. O que vale é a história.

Assista se você:

  • Quer saber mais sobre a vida de Tim Maia
  • Gosta de filmes de época
  • Gosta de biografias

Não assista se você:

  • Não gosta de filmes de época
  • Não gosta de biografias
  • Não gosta de filmes longos

Por Juliana Varella

Atualizado em 30 Out 2014.