O japonês Kiju Yoshida filma para o longa Bem-Vindo a São Paulo. |
Para retratar a sensação dos estrangeiros ao visitar a capital paulista, os organizadores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Leon Cakoff e Renata de Almeida, decidiram convidar alguns deles para um filme em que cada um cria seu olhar sobre a cidade. Bem-Vindo a São Paulo conta com grandes participações, como o alemão Wolfgang Becker, o iraniano Amos Gitai e o malaio Tsai Ming Liang. O desejo em retratar a capital através de cineastas que não vivem nela, porém, não é original.
Há poucas semanas estreava no Brasil outra produção seguindo a mesma lógica, mas na França. Em Paris, Te Amo (foto), a cidade-luz foi dividida em distritos e cada diretor contou uma história sobre um deles. Ao contrário do filme brasileiro, um documentário, neste os segmentos eram fictícios. A cidade já havia recebido uma homenagem parecida em 1964, quando foi mostrada através de pequenos filmes de diretores da Nouvelle Vague, como Jean-Luc Godard, Jean Rouch e Claude Chabrol, em Paris Vista Por.
A França, aliás, é a maior realizadora desse tipo de filme. Dois anos antes, jovens cineastas criaram outra obra por lá, mas dessa vez o tema era outro. Em O Amor aos Vinte Anos, cineastas como Andrzej Wajda e Renzo Rosselini falam sobre as conquistas dessa idade. O episódio mais lembrado é o de François Truffaut, uma continuação de seu filme Os Incompreendidos.
Ainda hoje os franceses criam essas homenagens. A última delas foi neste ano, no Festival de Cannes, em que diversos cineastas falaram sobre seu amor pela sétima arte. Chacun son Cinema contou também com as participações de Amos Gitai (foto) e Tsai Ming Liang, além de nomes como Wim Wenders e Alejandro González Iñárritu. Em dúvida sobre o que fazer no seu segmento, o brasileiro Walter Salles criou dois filmes, ambos bastante aplaudidos em sua exibição. Walter, aliás, também já havia rodado um dos episódios de Paris, Te Amo.
Outro filme que foi produzido recentemente em conjunto foi o português O Estado do Mundo. Feito para o fórum cultural de mesmo nome, o longa permitiu que seis cineastas mostrassem um pouco de seu universo para que pudessem tentar achar pontos em comum. A nacionalidade dos diretores foi escolhida de forma a mostrar grandes diferenças culturais, tendo, por exemplo, gente como o tailandês Apichatpong Weerasethakul e o brasileiro Vicente Ferraz.
Também para tentar entender o mundo, mas desta vez partindo de um tema específico, foi realizado outro francês, 11 de Setembro (foto). Onze diretores foram chamados para fazer um filme de onze minutos e nove segundos, que tivesse como tema a fatídica data. Além de contar com a direção de Sean Penn e Ken Loach, a obra de 2002 também teve episódios de Iñarritu e Gitai. Outro que também foi chamado mas que teve de recusar o convite foi Water Salles, que estava preparando Abril Despedaçado, deixando o Brasil fora nesta oportunidade.
Quem representou o país em Crianças Invisíveis foi a co-diretora de Cidade de Deus, Kátia Lund. Junto a ela, diretores como John Woo, Ridley Scott e Spike Lee deram seu ponto de vista a respeito das crianças que sofrem maus tratos, seja pela pobreza, ou por casos mais graves, como a guerra. Realizado em 2005, o longa destinou seus lucros para entidades como a UNICEF e a ONU.
Mas não é só em Bem-Vindo a São Paulo, ou em participações nas produções francesas, que o Brasil aparece em filmes coletivos. No mesmo ano em que era produzido O Amor aos Vinte Anos, 1962, era realizado aqui outra obra de grande importância. Cinco Vezes Favela (foto) conta com diretores do Cinema Novo, para mostrar as condições de vida na periferia, em um projeto do Centro Popular de Cultura da UNE.
Um desses diretores é Cacá Diegues, que agora promete ir além disso. O cineasta anunciou que em breve começa a produção de uma nova versão de Cinco Vezes Favela. Enquanto o da década de 60 revelou nomes como o dele e o de Leon Hirszman e Joaquim Pedro de Andrade, na época jovens de classe média, o atual projeto pretende revelar talentos nos morros. Diegues vai selecionar os diretores em comunidades pobres para que eles se retratem, formando assim novas gerações de cineastas.
Atualizado em 6 Set 2011.