Guia da Semana

Foto: Divulgação


Incluí o filme "Tron - O Legado" em um programinha de criança que fiz com meu afilhado de sete anos. Vocês poderão imaginar o quanto gostei do filme se eu disser que os pontos altos do dia foram vômito no chão do Mc Donald`s e joelho ralado no jogo de futebol.

Na saída do cinema, meu pequeno acompanhante resumiu muito bem as nossas frustrações. Ele disse: "Era um filme de ação e em 3D... deveria ter sido bom!". O rapazinho tinha razão. Depois de Avatar e Shrek, ficamos com a impressão de que todos os filmes em 3D seriam bons. Espero que Tron seja apenas uma exceção à regra.


Existem vários sinais que indicam a má qualidade de um filme: o fato de o cinema reservar um único horário para sua exibição; pouca gente comentar que assistiu ao filme, e a pouca procura do público em um dia de domingo. Mesmo assim, resolvi investir R$ 22 no ingresso, pois acreditei no trailer do filme que prometia diversão pura em duas rodas em um cenário futurista. Me dei mal. E, pelo visto, não fomos os únicos frustrados. Os outros 20 espectadores também não estavam nada satisfeitos. Mexiam-se nas cadeiras, olhavam o relógio, se levantavam a toda hora para ir ao banheiro ou comprar mais pipoca.

"Tron - o Legado", dirigido pelo fã de computação gráfica Joseph Kosinski, é a continuação do sucesso de 1982 produzido pela Disney. Conta a história de Kevin Flynn - novamente interpretado por Jeff Bridges -, o dono de uma empresa de computação que descobre uma forma de viver dentro do mundo digital e fundi-lo com o mundo real. Ao criar um clone para ajudá-lo em sua empreitada, Kevin sofre um golpe e fica preso dentro do programa de computador. Após 15 anos sem dar notícias, seu filho Sam - interpretado pelo apático Garrett Hedlund -, tenta resgatá-lo.

O roteiro do filme é complexo e as poucas cenas de ação são confusas, a ponto de o público não conseguir distinguir os personagens durante as batalhas. Os diálogos são maçantes e cheios de clichês filosóficos que parecem querer justificar o pipocão. O ex-modelo Garrett Hendlund, que interpretou Pátroclo no filme Tróia, teve a oportunidade de ascender ao elenco principal deste filme, mas acredito que a atuação apagada e o roteiro não tenham contribuído muito para o seu sucesso profissional.

Se existe um ponto alto nesta obra cinematográfica é a computação gráfica, que transformou o sexagenário Jeff Bridges no mesmo ator de 35 anos que protagonizou o primeiro filme da série. Mas o fato de o filme não ser todo exibido em 3D me incomodou um bocado.

O ator Michael Sheen - que viveu na pele de Tony Blair em "A Rainha" - interpretou um personagem coadjuvante no filme. Até aí, uma bela surpresa para o público. Ele até se esforçou para emprestar algum estilo ao seu personagem Castor, mas sua atuação acabou ficando pelo caminho, apagada pela trama ruim.

Até que ponto vale a pena levantar a poeira dos filmes de ação que fizeram sucesso nos anos 80? Deixo essa reflexão para vocês, mas afirmo que até Sylvester Stallone seria capaz de reeditar coisa melhor do que este Tron, em cartaz nos cinemas. Pobre do meu afilhado. Vou ter que recompensá-lo! E isso significa mais um dia de joelhos ralados e vômito no chão.


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Quem é o colunista:"Sou um bandido corrompido pelas paragens do bem, muito além do homem descrito como poeta".

O que faz: Escritor, jornalista e ator. Autor de nove livros e peças de teatro. Faz palestras em escolas de todo o Brasil. É apresentador do programa "Rio Cultural", da Rádio Rio de Janeiro.

Pecado gastronômico: Todos, principalmente cerveja quando sai com os amigos!

Melhor lugar do mundo: Sua casa, principalmente na hora de escrever e/ou quando os parentes e os amigos o visitam.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: É muito fã de Chico Buarque. Também gosta de música clássica, ópera, rock e MPB.

Para falar com ele: [email protected], ou no seu site.

Atualizado em 6 Set 2011.