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Rodrigo Tavares e Marcelo Galvão nos sets de A Rinha. |
Enquanto a maioria dos cineastas brasileiros busca apoio do governo para produzir seus filmes, sem se preocupar com o resultado da bilheteria, o paulistano Marcelo Galvão tenta fazer o caminho contrário. Finalizando A Rinha, seu quarto longa, e já de olho no próximo, ele falou ao Guia da Semana sobre sua carreira, de pouco mais de três anos, e de como prefere criar uma estrutura industrial de cinema a depender das leis de incentivo. Com projetos polêmicos, ele vai marcando seu nome no cinema nacional.
Inicialmente, Galvão era redator de publicidade, mas logo desistiu da carreira. "Eu vi que 90% do meu trabalho estava sendo jogado no lixo", explica. Seu novo plano era ser cineasta, para isso vendeu seu carro e foi para Nova Iorque estudar. Para se sustentar, ganhava a vida como lutador de Jiu-Jitsu. Ao final do curso, com apenas um curta no currículo, Marcelo volta ao Brasil para começar a nova vida. Após trabalhar novamente em publicidade, desta vez como diretor, decidiu fazer o primeiro longa-metragem pago do próprio bolso.

O sucesso inicial do primeiro filme rendeu o convite para ser roteirista e diretor de Bellini e o Demônio, com Fábio Assunção. A grande produção ajudou a dar projeção ao seu nome, mas o resultado não foi o que ele esperava. "Eu montei o filme do meu jeito, em uma linha mais David Lynch, Cronemberg, uma coisa viceral, orgânica, e o produtor descaracterizou isso, deixou o filme superficial, com coisas que não tem a ver", revela Marcelo, que lamenta o mau uso de sua ampla pesquisa no ocultista Aleister Crowley para a produção. Agora, ele garante que pensará duas vezes antes de aceitar ser um diretor contratado novamente.

O filme, de R$ 250 mil pagos pela GataCine, de Marcelo e Rodrigo Tavares, e produzido com a ajuda de 12 alunos do curso realizado pela produtora, tem um projeto bem ousado. "Eu associei tudo o que pode ser interessante comercialmente para poder gerar dinheiro mesmo". Assim, o filme mostra um grupo de playboys que apostam alto em lutas de jovens pobres, em festas regadas a álcool e sexo. Tudo falado em inglês, para vender para o mercado internacional. Para isso, na seleção, que contou com mais de 800 atores, era imprescindível a fluência, além do apoio de um coach nas filmagens.

E é assim, de filme em filme, que Marcelo Galvão pretende construir a carreira. O cineasta, que quer lançar suas obras no Brasil e fora dele, acredita que essa gradação possa até ajudar os filmes anteriores, e até pensa em relançar Quarta B nos cinemas. Quanto às leis, acha que o Estado deveria financiar o ingresso, que anda muito caro, e não a produção, deixando de beneficiar filmes que não atraem público. "Eu prefiro fazer filmes que me dêem dinheiro e que com o dinheiro eu possa fazer outros filmes, de modo que eu crie uma indústria, sem precisar ficar dependendo do governo, de aprovação, do dinheiro dos outros".
Atualizado em 6 Set 2011.