
Sopro da vida, este é o significado de Baraka (1992). O longa-metragem, criado por Ron Fricke e Mark Magidson, percorreu 24 países em pouco mais de um ano. Trata-se de uma seqüência documental de imagens de alta qualidade, não há elenco e nem texto. A interpretação acaba se tornando livre e varia conforme o repertório de cada indivíduo. No entanto, é comum a todos que o filme aponta a beleza da natureza e a destruição do homem.
O recomendável é assisti-lo, mas já aviso que esse é o tipo de filme que exige comprometimento do espectador. Se não acompanhar o ritmo de Baraka, você fica para trás. As cenas não possuem legenda, de forma que fica difícil definir a localização. Isso acontece de propósito, pois, segundo Fricke, o local não é o mais importante e sim o que está lá. Para isso há a trilha sonora, que conduz as cenas de maneira majestosa. Não há como verbalizar, é preciso sentir.

A quebra disso vem com a primeira imagem de um centro urbano como conhecemos, com construções, avião, automóvel e trem. A natureza reaparece para estabelecer uma comparação e mostrar que está sendo substituída pela urbanização. Outra coisa que sempre penso é que a freqüência com que aparecem as paisagens, que desaparecem gradualmente, representa a velocidade do processo. Mais adiante não há sequer um quadro da natureza, que foi engolida. A seqüência volta para as construções antigas da Indonésia e Camboja como um princípio da intervenção humana. Começa então a fase das forças tribais com exemplos de ritos indígenas, africanos e indianos. Eu tenho sempre a impressão de que as imagens dos animais em bando dialogam com o homem e sua tribo.

Nesse ritmo de exploração do mais fraco não podia ser diferente senão chegar à condição miserável do humano. A pobreza e o lixão como sustento, criança que cuida de outra criança, pessoas que moram em locais públicos, a negligência, a exploração de menores, o tráfico sexual, a marginalização. Ou seja, a satisfação do eu à custa do outro. A cada imagem um desgosto, um horror. E tem mais: indústria bélica, terrorismo de Estado, guerra, destruição, poluição, queimada, campos de concentração, holocausto, tortura, vítimas, medo, morte.

Fotos: http://www.spiritofbaraka.com/baraka.aspx
Leia a coluna anterior da Vanessa:

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Atualizado em 6 Set 2011.