Guia da Semana

Los Angeles


A realidade cada vez mais tecnológica e visualmente ousada do cinema parece insistir em tentar relegar os faroestes a filmes de época, afinal, qual a inovação em homens andando a cavalo, atirando com pistolas antiquadas e, invariavelmente, desbravando fronteiras físicas, geográficas e emocionais a cada dia? O faroeste, entretanto, não precisa de quase nada da parafernália hi-tech e chega ao século XXI como um dos poucos gêneros que merece atenção, justamente por ser "simples" e fiel às suas origens. Appaloosa - Cidade Sem Lei é um dos melhores exemplos disso. Bastou um bom roteiro, com Ed Harris e Viggo Mortensen liderando o elenco. O resto é lucro.

A última vez que Hollywood encarou um faroeste de sucesso foi com Os Imperdoáveis, destacando a fantástica dobradinha Russell Crowe e Christian Bale. Muita ação marcou o encontro desses dois sujeitos distintos, mas envolvidos numa curiosa relação por conta das circunstâncias. Appaloosa olha para o outro lado, ao analisar a amizade e lealdade do Velho Oeste. Baseado no livro de Robert B. Parker, o roteiro acompanha as andanças de Virgil Cole (Harris) e Everett Hitch (Mortensen), em um período em que os gatilhos mais rápidos mandavam nas ruas e ser xerife não era das profissões mais longevas. Os dois são homens da lei e se movem entre cidadezinhas conforme a necessidade. Appaloosa é a mais marcante delas.

Seguindo a estrutura obrigatória do faroeste, Jeremy Irons interpreta um rancheiro dominador da região. Seus capangas fazem o que bem entendem com os demais moradores. Portanto, a lei e a ordem precisam ser reestabelecidas. É aí que Virgil e Everett entram na história. Suas façanhas em tiroteios não dão tom a essa dinâmica, que se concentra nas raízes da parceria entre a dupla. Tanto personagens, quanto atores, correspondem às grandes expectativas criadas por um livro aclamado dentro dos westerns e, mais além, passam muito longe da repetitividade, mesmo respeitando o formato do gênero.

Encarar o modo como Everett e Virgil vêem o mundo desperta um certo senso de romantismo, especialmente, se comparando ao estilo de vida de hoje. Sem fugir da realidade bruta de seu tempo, eles conseguem agir com elegância e perspicácia, elementos impactantes e presentes graças ao elenco perfeito. Harris assumiu a identidade de Virgil. Foi ele quem teve a idéia de adaptar o livro para o cinema. Para isso, emprestou uma cópia do romance para Mortensen e produziu e dirigiu esse drama de época. Viggo, por sua vez, pode usar todo seu estilo calmo e paciente, sem deixar de ser intimidador, para criar Everett. Embora inspirado na literatura, esse é um daqueles felizes casos, em que um roteiro escrito sob medida para os dois protagonistas, faz toda a diferença.

O mesmo pode ser dito de Jeremy Irons e Renée Zellweger, que completam o elenco estelar de Appaloosa. Renée surge como um mistério e ponto de conflito amoroso, mas logo se envolve de maneira arrebatadora na trama. Atirar nos bandidos se torna algo fácil quando os brutos começam a amar. Barreiras são rompidas e amizades eternas são afetadas.

Claro que existe ação - e boa por sinal - em Appaloosa, mas esse é um filme com vocação e estrutura focada em seus personagens, em grandes atuações. Justamente por isso, o longa teve lançamento pequeno nos Estados Unidos, onde estreou depois de boa receptividade no Festival de Toronto, seguindo o mesmo exemplo no Brasil. Vale o ingresso para mais uma grande jornada ao Velho Oeste e aos homens e mulheres que o moldaram.


Quem é o colunista: Fábio M. Barreto adora escrever, não dispensa uma noitada na frente do vídeo game e é apaixonado pela filha, Ariel. Entre suas esquisitices prediletas está o fanatismo por Guerra nas Estrelas e uma medalha de ouro como Campeão Paulista Universitário de Arco e Flecha.

O que faz: Jornalista profissional há 12 anos, correspondente internacional em Los Angeles, crítico de cinema e vivendo o grande sonho de cobrir o mundo do entretenimento em Hollywood.

Pecado gastronômico: Morango com Creme de Leite! Diretamente do Olimpo!

Melhor lugar do Brasil: There´s no place like home. Onde quer que seja, nosso lar é sempre o melhor lugar.


Atualizado em 6 Set 2011.