Guia da Semana

Um filme é como um pedaço de vida que ganha verdadeiras feições de um ser humano durante o tempo em que a fita dura na tela. Alguns são como amigos em uma mesa se bar: despretenciosos e divertidos. Outros são como uma sessão de terapia: convidam o espectador a desbravar os mais antagônicos sentimentos da existência. Os melhores, entretanto, são aqueles que enganam: desprovidos de pistas, colocam-nos em um terreno vazio, sem nenhuma expectativa; têm o poder de envolver aos poucos em um árduo desafio de conquistar até o momento em que os créditos anunciam o final. Poucos deles conseguem, mas quando o fazem, acertam em cheio.

Foi essa a sensação que Vic+Flo Viram um Urso deixou. O filme, que chega ao Brasil na próxima quinta, 19 de junho, não passou despercebido por festivais mundo afora. Foi aliás, o vencedor do Alfred Bauer na edição de 2013 do Festival de Berlim. O prêmio é parte das gratificações do Urso de Prata, estátua que contempla e abre porta para os novos talentos do cinema. E não para por aí: Toronto, Istambul, Melbourne e o BAFICI, em Buenos Aires, foram apenas algumas das paradas em que o filme fez pelo mundo dos festivais. Por aqui, chega tímido, apenas no circuito alternativo. Não se deixa enganar. Vic+Flo é uma verdadeira pérola que, como toda a joia, é acessível a poucos. Consegue, entretanto, encantar àqueles que têm a sorte de a possuir.

Vamos ao enredo: Em uma afastada cabana nas floretas canadenses, Victoria quer levar uma vida tranquila após deixar a prisão. Na casa do tio, já doente e inválido, ela convive com a namorada Florence, com quem dividiu as celas e os anos de intimidade na prisão. Desta vez, Vic quer fazer a coisa certa e ficar em paz. Entretanto, o sombrio passado de Flo passa a assombrar a vida das duas e uma iminente ameaça começa a dar lugar. A floresta já não é mais um lugar seguro e, quando menos esperam, estão lutando pela coisa mais preciosa que lhes restou: as suas vidas.

O sexto longa de Denis Côte, um dos mais talentosos cineastas canadenses de sua geração, conquista pelo mistério do enredo. As coisas caminham lentas, sem indícios de onde vão terminar. Quando o enredo toma forma, nos deparamos com uma instigante história, digna de um thriller comercial. O curioso título é explicado e o final é de cair o queixo. Como em "Bestiaire", de 2012, e "Curling", de 2010, Côté coloca não só o seu trabalho, como o cinema de seu país, mais uma vez, nos mais exigentes holofotes da crítica internacional.

ASSISTA SE VOCÊ:

  • Gosta de filmes com ritmo lento
  • Não se importa com finais chocantes e abertos
  • Aprecia o cinema alternativo de festivais

NÃO ASSISTA SE VOCÊ:

  • Procura o filme excitante do começo ao fim
  • Prefere enredos que explicam suas reviravoltas
  • Não é fã dos filmes provenientes de festivais

Por Ricardo Archilha

Atualizado em 18 Jun 2014.