Guia da Semana



Longe das telonas há 26 anos, o diretor Jeremias Moreira volta ao cinema com a refilmagem de O Menino da Porteira. Junto com o produtor Moracy Durval, ele agora tenta resgatar o sucesso de bilheterias (4 milhões de espectadores) protagonizado por Sérgio Reis em 1976, desta vez apostando no cantor Daniel como protagonista. O filme, inspirado na canção homônima, conta a história de um boiadeiro que tenta tocar seu trabalho humildemente, em meio a injustiça latifundiária de uma cidade do interior.

Com José de Abreu, Vanessa Giácomo e Rosi Campos no elenco, a projeção entra em cartaz no dia 6 de março, em 300 salas no país inteiro. Durante os preparativos para a estreia, conversamos com Jeremias, que falou sobre seu retorno, as perspectivas para o novo trabalho e como fazer cinema de qualidade (e barato) para atrair o grande público.

Guia da Semana: Por quê fazer o remake de um filme que você já havia dirigido em 1976?
Jeremias Moreira:
Ele fez muito sucesso, mas sempre me incomodou pelas limitações técnicas, como falta de dinheiro e minha limitação na estreia como diretor de um longa. A primeira equipe contava com nove pessoas. Essa refilmagem tem 84. Outro ponto que influenciou foi a não manifestação da crítica na primeira versão, parece que tinha vergonha do filme. Não saiu nenhuma matéria falando sobre ele. Alguns anos depois, quando o Nelson Pereira dos Santos fez Pela Longa Estrada da Vida, saíram várias artigos. Por causa disso, citaram O Menino da Porteira de uma maneira muito boa, o que me balançou um pouquinho e me fez repensar.

Guia da Semana: Quando surgiu a ideia da primeira versão do filme?
Jeremias:
Nos anos 70, vi uma matéria na Folha de S. Paulo, com a dupla sertaneja, Tonico e Tinoco, que se apresentava em circo cantando músicas e encenando peças. O público lotava o espaço para ver a peça e a dramatização musical, com temática sertaneja. Quem escreveu o artigo usava isso como um exemplo para o pessoal do teatro, mostrando uma forma de angariar público. Pensei que seria uma boa idéia transpor isso para o cinema.

Guia da Semana: Assim como em o Menino da Porteira, você se baseou em outra canção popular dos anos 70 para fazer o filme Fuscão Preto. Qual é a razão dessa temática?
Jeremias:
Sou caipinha, nasci na cidade de Itaquaritinga, região de Araraquara, então estes eram assuntos que conhecia muito, até porque naquela época cidade e campo se confundiam.

Guia da Semana: Assim como na música, você acredita no cinema popular?Jeremias: Acredito. Para uma cinematografia de um país se firmar, penso que seu público precisa adotar e consumir os próprios filmes. Até a retomada do cinema nacional, com Carlota Joaquina, o cinema brasileiro trilhou um ostracismo. Após a retomada, acho que temos bons diretores fazendo excelentes filmes, só lamento que esses filmes não estão atraindo o público para o cinema. Se você ver, em média levam 300 a 400 mil espectadores, o que deveriam angariar 1 milhão, pela qualidade e comunicação, já que não são mais filmes herméticos.



Instalação que fez parte da cidade cenográfica do filme, no Pólo Cinematográfico de Paulínia

Guia da Semana: Você acha que a temática popular sertaneja ainda sofre um certo preconceito. Não temos muitas produções do gênero...
Jeremias:
Quando se fala em popular, temos vários filões nesse segmento. Não precisa ser necessariamente um filme rural, caipira. Você pode fazer um filme de surfista popular, um urbano popular. O contrário também pode ser feito, com um filme caipira erudito. Quando falo em cinema popular, me refiro a algo que se comunique facilmente com o público, que motive as grandes massas a irem ao cinema. A formação do Brasil é agrária, então é um segmento que tem futuro. A gente vê no sucesso de público dos rodeios. Boa parte da população tem essa coisa atávica com o campo, essa cultura passada através dos avôs e tios. O cinema americano se firmou no western, que é a história da colonização americana. Tem alguns estereótipos, mas são filmes sérios. Eu acho que esse filão, que fala da formação da nossa gente, salvado os regionalismos, é muito parecido. O Menino da Porteira é ambientado nos anos 50 e é um retrato aquele momento. Ele está produzido com fidelidade e tem um valor histórico.

Guia da Semana: Assim como o western americano, você acredita que essa temática caipira é um gênero que pode ser melhor explorado?
Jeremias:
É uma boa comparação. Acho que pode ser desenvolvida e aproveitada, com outros cineastas bebendo dessa fonte. Só lamento de viver em um momento de escassez de salas de cinema de rua, que foram muito importantes na época da primeira versão, pois o espectador não precisa ir ao shopping, entrar e pagar estacionamento. Pensamos futuramente em trabalhar novos espaços, com preços mais acessíveis, levando o filme para rodeios e para o interior.

Guia da Semana: Você tem em vista novos projetos com essa temática popular?
Jeremias:
Como a gente já sabia que apenas um filme com esse gênero não mudaria a situação, lançamos o projeto Por um cinema popular brasileiro, que aborda a produção de longas populares, voltados ao grande público, com boa qualidade. Temos outros projetos, mas vamos esperar o resultado do filme, por enquanto.



Bate-Bola

Nascimento: 21/12/1942

Livro: Os meninos da rua Paula, que me motivou a fazer cinema

Filme nacional: Antonia

Filme estrangeiro: Era uma vez no Oeste, de Sérgio Leoni

Diretor: Samenes

Ídolo do cinema: Paul Newman

Ator: Leonardo Medeiros

Atriz: Fernanda Montenegro

Vício: Correr

Virtude: Sinceridade

Pecado Gastronômico: Gostar muito de comer



Fotos: Gabriel Oliveira

Atualizado em 6 Set 2011.