Guia da Semana

O fascínio dos franceses em relação ao Brasil vem de longa data. No século XIX, pintores vinham ao país para registrar cenas do cotidiano local e fazer um perfil da população brasileira. O mais famoso destes artistas foi Jean-Baptiste Debret. Em 2000, um herdeiro moderno de Debret passou 50 dias no Rio de Janeiro: era o cartunista Jano (pronuncia-se "Janô"). Seu trabalho chamou a atenção em uma Bienal de Quadrinhos na Cidade Maravilhosa, e os organizadores sugeriram que ele fizesse um livro de desenhos tendo o Rio como tema.

Os documentaristas Anna Azevedo, Eduardo Souza Lima e Renata Baldi acompanharam o artista durante sua permanência no Brasil. No Rio de Jano, as pessoas são retratadas com rostos de animais (característica de todos os seus cadernos de viagem, é preciso dizer): os ágeis meninos que se penduram no bonde que passa sobre os arcos da Lapa viram leopardos; as belas cariocas se tornam gatas e raposas; executivos na happy hour procurando uma garota são urubus. Os clichês, como o Pão de Açúcar e o Corcovado, são presença obrigatória, mas sempre sob um olhar diferente.

O documentário acompanha o processo de criação dos desenhos, até sua finalização na França. A abordagem bem-humorada de Jano, que não deixa de criticar aspectos como a sujeira nas praias e o tráfico nos morros, também fica evidente na sua interação com os cariocas, seja no meio de um Fla-Flu, tocando gaita em um show de rock ou passeando na feira de São Cristóvão (aproveite para matar as saudades do Bonde do Tigrão). Às vezes o formato câmera na mão cansa um pouco, mas este é um pecado mínimo em um filme muito interessante, divertido e que mostra um estrangeiro capaz de capturar a alma carioca em tempos onde o mais comum é a ignorância em relação ao Brasil no exterior.

Leia também a entrevista com Eduardo Souza Lima, co-diretor de Rio de Jano.

Rio de Jano

Diretor: Eduardo Souza Lima, Anna Azevedo e Renata Baldi

País de origem: BRA

Ano de produção: 2003

Classificação: Livre