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Tempos da vulgaridade, do baixo ventre? Seriam nossas ambições gerais, todas derivações do hedonismo? Existe algum motivo que nos impele à vida, se não a busca pelo éden do prazer e da felicidade? O que esperar da vida? O pretensioso, que suscita complicação, intuição mais profunda, é rejeitado em favor do descartável, do simplista, do que pode trazer gozo instantâneo? O culto hoje é a Dionísio, deus das festas e do vinho? O ideal Apolíneo, da beleza equilibrada e das luzes, ainda motiva as energias cotidianas? Tempos de decadência? Não sabemos, só o tempo irá julgar. Mas existe decência na vulgaridade, no profano. A despretensão do drama do cotidiano é virtuosa, afinal, homens são feitos de carne e paixão, não pertencemos somente à dimensão das idéias. Os heróis de vários tempos já foram sacrificados pelo asco das aristocracias. A vulgaridade pode ser revolucionária. Existiu algo de vulgar, de pornográfico, nas pinturas do renascimento, na força do jazz, na potência do samba.

Todos os caminhos levam aos EUA quando pensamos o estado da cultura ocidental. Foram eles que definitivamente casaram arte e business, que inventaram a histeria pelos ídolos pop. Foi nos EUA que o engenheiro, criador da máquina de lavar louça automática, e o empresário, verdadeiro herói, ofuscaram os intelectuais, Foram nos EUA que o a busca pelo conforto, pelo enriquecimento material virou a lei máxima. Eles nos ensinaram finanças e modelos eficientes de gestão corporativa, nos ensinaram que a competição é a única e verdadeira forma de inter-relacionamento pessoal. Aprendemos a comer cheddar e a ficar prostrado em frente a telas gigantes de cinema, enquanto efeitos especiais surrealísticos nos tiram do tédio do dia-a-dia. Somente os EUA conseguiram criar fenômenos de massa e exportar cultura de massa. A Europa, sempre inclinada à produzir "alta cultura" para poucos iluminados, assistiu a irresistível ascensão da vulgaridade americana. Os EUA é a vulgaridade. A vulgaridade do rock, de Madonna, do rap "bling-bling" e da diva definitiva dos tempos do baixo ventre: Miss Britney Spears.

A decadência parece nos fascinar. É irresistível o binômio glamour-poder-dinheiro-sucesso-sexo-fama e drogas-desgraça-vítima-da-fama-e-dos-paparazzi. Seria a estética da Hyper-vulgaridade? Por quê Miss Spears aparece tanto nos jornais?

Muitos dos auto-proclamados intelectuais ou "cults" diminuem a importância da cultura americana. Revivem a seu modo o espírito aristocrático das cortes dos nobres, algo muito pouco americano. Têm prazer sádico em apontar a imbecilidade daqueles desligados dos círculos supremos da "alta cultura". A beleza dos EUA e do "pop" é justamente seu aspecto vulgar, mundano.

Mas existe algo de podre no reino dos EUA, evocando Shakespeare. Há algo demasiado mundano, fútil e medíocre no ar. Talvez, é hora de revolução, e como a história é sempre irônica, hoje o vulgar é não aceitar a vulgaridade. Não há nada mais subversivo do que literatura clássica, nada mais punk do que Michelangelo, nada mais progressista do que Beethoven. O profano é reacionário. Voltemos ao Sagrado.


Leia as colunas anteriores do Ibrahim:

? Guerra de classes, a coxinha e o fim da civilização: com o fim do socialismo, os conflitos agora acontecem no cotidiano das pessoas.

? Saint Patrick´s day: considerações sobre as frias e competitivas relações dentro do mundo das grandes corporações.

? A internet e a verdade: você acredita em tudo que lê? Na era da internet fica difícil distinguir a verdade da mentira!

? Estrangulamento estético: São Paulo é um exemplo de que o brasileiro não cuida do espaço público!

? As vaias nos jogos Pan-americanos: a brasilidade e o homem cordial explicam as vaias dos torcedores brasileiros nos jogos Pan-americanos.

? Tiozão way of life: o colunista desvenda o estilo tiozão, tipo cada vez mais identificado pelas noites da vida!

? Brasil, o mais antigo modernoso: um país de estilo moderno-antigo, formado por uma cultura alegre e despretensiosa!

? Big Mac responsável: está na hora de mudar o estilo de vida e de consumo, em prol da saúde do planeta!

? O bom gosto e arte na vida: a definição de bom gosto perdeu o sentindo com a inversão dos valores da sociedade.

Quem é o colunista: Ibrahim Estephan

O que faz: Cursa administração de empresas

Pecado gastronômico: quibe assado da minha avó libanesa

Melhor lugar de São Paulo: Minha casa

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Atualizado em 6 Set 2011.