Guia da Semana

Por Giuliano Tierno



Por entender que as histórias (sejam elas quais forem) são registros fascinantes da experiência humana, é que há alguns anos venho pesquisando processos que envolvam de alguma forma a arte de contá-las. Essa pesquisa sempre teve como ponto principal a busca por caminhos e métodos que fazem de alguém um contador de histórias.

Não é raro ouvir de algum participante de uma oficina, a seguinte pergunta: "o que devo ter para ser um bom contador de histórias?", ou, ainda: "é possível aprender a contar histórias?". As respostas não são exatas, mas para ser um bom contador de histórias é preciso, antes de tudo, ser um bom ouvinte, alguém capaz de mobilizar tempo e dedicação para estimular, ao invés do pensamento linear racional, o imaginário de forma criativa. Além disso, é possível sim aprender a narrar. Não existem receitas.

Portanto, o que é possível no campo da aprendizagem dessa atividade é o despertar do indivíduo, que, na prática, é um ouvidor de histórias sempre pronto a organizar suas experiências e contá-las de maneira significativa.

Estou cada vez mais convencido que a forma de descrição é fundamental na arte de contar histórias. Para se apropriar desse "como" é necessário refletir sobre a relevância histórica e humana dessa arte. E na seqüência parta para atividades vivenciais concretas, para entender como funcionam os princípios básicos de um contador. Por exemplo: a espontaneidade do corpo; a estrutura do pensamento em relação à história que escolheu para contar; ou ainda, as inúmeras possibilidades de entonação de voz. Com isso, se reforça a valorização dessa atividade como um meio de preservar e criar uma memória afetiva familiar e coletiva.

A conclusão que chegamos é que essa arte resiste há mais de 3 mil anos por compartilhar experiências humanas como nenhuma outra. Fascina ouvintes de todas as idades porque desperta, no plano poético, dores, pavores e alegrias. O que tem sentido numa história não são as explicações, mas o desconhecido revelado em uma imagem, em uma metáfora. Talvez o escritor João Guimarães Rosa, nos ajude nessa compreensão quando diz que "(...) o mais importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas ainda não foram terminadas. Afinam e desafinam. Verdade maior!".

Giuliano Tierno é ator e já dirigiu peças teatrais como Otelo e Romeu e Julieta. Em 1996, começou a realizar trabalhos de arte-educação com crianças e jovens. Atualmente, realiza palestras e workshops em escolas e universidades.

Atualizado em 6 Set 2011.