Guia da Semana

Fotos: Divulgação

Mayara Constantino (esquerda), que interpreta Thereza, na série de Rafael Gomes (direita)

Thereza é uma garota de 15 anos que descobre no universo da literatura um meio de lidar com seus medos e alegrias, de amadurecer, sonhar e refletir. Convivendo com a solidão e perdas características da fase adolescente, em cada um dos 13 episódios ela viaja de forma onírica por obras clássicas de Machado de Assis, Clarice Lispector, Gil Vicente, Shakespeare e Fernando Pessoa. Em meios aos dilemas pessoais e às obrigações de estudante, a série dialoga com o público jovem e traça um paralelo entre as obras clássicas e a vida, mostrando que é possível associar os dois mundos.

Seriado exibido pela TV Cultura e produzido pelo jovem Rafael Gomes, de 28 anos, Tudo o que é sólido pode derreter também virou (Editora Leya, R$ 39) e recriou nas páginas o ambiente de Thereza e seus amigos em que a adolescência e a literatura caminham lado a lado.

Origem

"O tema apareceu porque nessa fase da minha vida eu lia bastante e, assim como eu, achava que muitos jovens também faziam isso ou poderiam ser motivados sem aquela obrigatoriedade das escolas". O seriado surgiu com um curta metragem de Rafael Gomes, que venceu diversos prêmios, e participou em um dos mais importantes festivais infantojuvenis do mundo, o de Oberhausen, na Alemanha.

Quando foi testado nas escolas, o vídeo logo ganhou identidade com o público jovem. Com a direção de Esmir Filho ( Os Famosos e Os Duentes da Morte) e a ajuda de uma equipe de roteiristas, o projeto foi adiante, com cada episódio citando um autor diferente e um dilema que acompanhasse a narrativa. Como os personagens da série estão no ensino médio - onde a leitura das obras clássicas é necessária - Rafael afirma que a série acabou se transformando em uma prestadora de serviço, já que tentava despertar o interesse pela literatura em um universo tipicamente adolescente.

Confira as obras de autores contemporâneos indicadas por Rafael Gomes para o público jovem
Apanhador no Campo de Centeio: livro contestador, escrito pelo americano J.D. Salinger, narra de uma forma muito sensível os acontecimentos quase banais ocorridos com um adolescente que não tem nada de extraordinário. A obra, que se transformou em um best-seller e influenciou gerações, fez o público jovem buscar em suas páginas o direito a uma voz e a uma visão do mundo particulares.

Extremamente alto & Incrivelmente Perto: embora narrado por uma criança, o livro de Jonathan Safran Foer utiliza uma linguagem muito estimulante. A obra tenta entender sentimentos de uma perda irreparável que um garoto tem devido ao ataque terrorista às torres gêmeas. O uso de foto, cor e textos grafados de diferentes maneiras enriquecem a narrativa, fazendo a linguagem se debruça sobre si mesmo.

Teatro - apesar de não achar o escritor adolescente, por fazer uma literatura bastante elaborada e intrincada, Bernardo Carvalho é um autor que recomendo para essa fase da vida. São duas histórias distintas: uma de um terrorista solitário que mata executivos com um produto químico; o outro é um ator de filmes pornográficos envolvido no assassinato de um político. O dualismo entre a loucura e razão, o bem e o mal transformam essa obra labiríntica em um suspense impressionante.

Na grade da TV Cultura, a série, que teve iniciou de 2009, ainda hoje tem seus episódios reprisados nas tardes do sábado, às 15h. Além disso, a emissora disponibiliza os capítulos na integra e gratuitamente, através de seu site. A segunda temporada já foi confirmada, com previsão de estreia para 2012.

Repercussão

Apesar de seu programa passar em uma emissora sem visibilidade nacional, Rafael Gomes aponta que a repercussão da série foi muito mais qualitativa do que quantitativa. "O sucesso foi gradual, mas o que me deixa feliz foi ver as pessoas realmente se envolverem. Tem muita gente só foi gostar de literatura depois que viu o programa". A repercussão foi tão positiva que muitos professores de escola acabaram incorporando os vídeos nas aulas para incentivar a leitura.

Foto: divulgação

O sucesso da sua série gerou um livro e o contrato para a segunda temporada


Embora o público alvo seja de 14 a 17 anos, o autor enfatiza que o público universitário e até as mães viraram fãs de carteirinha. "Sem sombra de dúvida, quando a obrigação existe, mas chata e repulsiva a literatura vai aparecer. Por isso tentei mudar a abordagem, em vez de obrigar, apresentar as obras e mostrar os paralelos que elas fazem com o seu cotidiano e quantas coisas você vai aprender e refletir. Tratar como se fosse um amigo", resume o autor.

Outras vias

Apesar de trabalhar na série e no livro somente com obras clássicas, o produtor enxerga que, embora tratem de valores diferentes, a iniciação da leitura para o jovem também pode se dar por meio de best sellers. "É uma ótima porta de entrada para a literatura, no sentido que abre universos e estimula a imaginação. Para uma pessoa que toma gosto por Harry Potter, o caminho para chegar a Machado de Assis é muito mais curto do que parece, porque adquire hábito e costume com a linguagem escrita".

Mesmo seguindo as tramas do seriado, para escrever o livro, o autor teve que reler as obras para tentar encontrar novos assuntos e possibilidades. "Ser autor de literatura foi meio que um acidente, já que não tenho uma formação acadêmica. O principal dilema do livro é através da leitura atrair esse público jovem para as obras clássicas".




Ficha Técnica
Título: Tudo o que é sólido pode derreter
Autor: Rafael Gomes
Nº de páginas: 464
Preço: R$ 39,90

Atualizado em 6 Set 2011.