Guia da Semana

Foto: John
Fernanda Ribeiro interpreta Yue, da série Sakura Card Captors

Heróis misteriosos, garotas exóticas e monstros bizarros, habitantes dos mundos fantásticos geralmente presentes nos mangás e nas animações japonesas, embarcam na vida real na pele dos milhares de fãs espalhados pelo Brasil e no mundo, em um movimento que não pára de aliciar mais adeptos com o passar do tempo. Os Cosplayers, termo utilizado para as pessoas fantasiadas da mesma maneira dos heróis favoritos, abusam da criatividade e do trabalho artesanal para alcançar a perfeição das vestimentas utilizadas, exibindo-as em convenções do gênero realizadas em diversos pontos do país, entre elas, a etapa JBC Brasil do WCS, na qual o vencedor garante uma vaga para participar do World Cosplay Summit, maior campeonato de cosplay do mundo.

A febre em torno de Star Trek deixou muitos adolescentes nostálgicos nos anos 80. A fama da produção norte-americana espalhava-se pelo mundo e, junto com ela, a mania de imitar os personagens da ficção cientifica. Os Trekkers, como eram conhecidos, usavam roupas semelhantes às usadas pelos atores da série e utilizavam da imaginação para recriar no mundo real as parafernálias tecnológicas encontradas nos diferentes episódios apenas pela emoção de fazer parte de outro universo.

A moda logo se espalhou e englobou boa parte da cultura teen da época, não demorando muito para alcançar o arquipélago nipônico, onde se estabeleceu e foi responsável por divulgar a cultura japonesa nos outros continentes. Hoje, o Japão é considerado ícone do movimento cosplay. No entanto, em território nacional, a moda chegou com força total somente em 2001, depois das empresas começarem a investir mais no mercado de quadrinhos japoneses.

Caio Kenji / Editora JBC
Como conseqüência desta rápida popularização e do profissionalismo empregado pelos fãs na construção de suas fantasias, a brincadeira tornou-se seria. Iniciado em 2003 pela TV Aichi no Japão, o World Cosplay Summit reúne os melhores cosplayer das 12 nações participantes para disputarem o título de campeão mundial. O Brasil, logo em sua estréia em 2006, consagrou-se vitorioso, deixando os favoritos da equipe japonesa em segundo lugar, graças à determinação de Maurício e Mônica Somenzari, que interpretaram Rosiel e Alexiel do mangá Angel Sanctuary. A editora JBC é responsável pela organização das eliminatórias da etapa brasileira do WCS e todo o ano seleciona os vencedores para participarem da convenção internacional.

Da ficção para a realidade

Fotos: Michel Ikeda e Mubarack
Fiéis adeptas da brincadeira e participantes assíduas dos eventos espalhados pela cidade de São Paulo, Fernanda Oliveira Ribeiro e Laura de Paula (foto) explicam aos curiosos como conheceram a modalidade e quando iniciaram a produção das primeiras fantasias que hoje se transformaram em suas maiores paixões. "Tive contato em 1997 na Mangacon. Achei muito legal ver pessoas homenageando personagens, transportando-os para a realidade. Apenas em outubro de 2006 comecei a fazer cosplays e desde então não parei", comenta Fernanda. Sobre o processo de produção da vestimenta acrescenta: "O trabalho é em 90% dos casos artesanal. Começa com a escolha dos tecidos que vão dar o melhor caimento pra roupa que você quer fazer e se complica ainda mais na hora de trabalhar os acessórios. Um fator limitante é o custo dos materiais, você tenta transpor os acessórios pra realidade usando materiais que estejam dentro de sua realidade financeira: papelão, jornal, papel machê, fibra de vidro".

Laura, de 21 anos, conheceu em 2002 através de sua irmã e foi paixão a primeira vista, ficou encantada com todas as pessoas que se dedicavam a esse hobby incomum e foi uma questão de tempo para que ela começasse a criar suas próprias roupas. "Cada um tem o seu próprio critério, eu gosto de optar por personagens diferentes um dos outros. Para mim, o desafio é me olhar no espelho e não me reconhecer, ver ali apenas o personagem".

O cosplay veio para ficar, trazendo moda, design, música e teatro à comunidade jovem do país. Conceitos nacionais e internacionais são integrados, misturados, modificados, em um movimento que esbanja criatividade e imaginação, além de exigir muita determinação, porém, o árduo trabalho tem uma recompensa satisfatória para esse pessoal, a diversão de participar e integrar um mundo de fantasia em plena realidade.

Atualizado em 6 Set 2011.