Guia da Semana

Foto: Getty Images
A criança se sente desamparada, sozinha e pode se isolar das relações humanas


Quando os pais discutem, brigam, gritam e trocam agressões, os filhos se vêem desprotegidos e abandonados. O clima fica tenso e os pequenos sentem medo do que pode acontecer com a família no futuro. Para preservar a criança, é necessário tomar muito cuidado, pois, mesmo sem perceber, os pais marcam a vida da criança e interferem no modo como ela vai se relacionar com o mundo.

Como em todo relacionamento...

Para começar, é fundamental ressaltar este ponto: Discutir é normal. Mas, é preciso que os pais conversem com as crianças sobre o que é uma discussão. Segundo a terapeuta familiar Maria Helena Paulino, "é interessante fazer analogias com o cotidiano do pequeno, como, por exemplo, comparar a conversa do casal com uma briguinha que o filho tem na escola". Só porque ocorreu a discussão, não quer dizer que haverá um rompimento de relações, afinal, momentos de raiva também fazem parte de uma relação afetiva.

O problema é quando a situação fica mais hostil e os pais partem para a agressão verbal e até mesmo física. "Nesta hora a criança se sente em uma zona de guerra, afinal, suas duas figuras de apoio estão em conflito", diz a terapeuta familiar. E não adianta brigar longe do filho. Mesmo que o pequeno não presencie a cena, ele pode sentir a tensão no relacionamento.

Aliás, até dentro do útero, o bebê já é capaz de sentir as emoções que a mãe está vivenciando. Já as crianças menores, apesar de terem menos percepção do que está acontecendo, contam com a sensibilidade aguçada, isto de acordo com teorias da psicologia. Por não se expressar verbalmente, seu mundo é feito a partir daquilo que ela sente. Portanto, sons de gritos, choros e outras sensações desagradáveis podem interferir em sua formação, sobre isto, a psicóloga Carolina Nikaedo diz "os pais tendem a diminuir a percepção da criança, mas ela é mais sensível e capaz de sentir o que está acontecendo ao seu redor".

Conforme a criança amadurece, passa a compreender as situações, expressões e até mesmo o jeito de falar dos pais. Quando começa a falar, passa a compreender o teor das discussões. Geralmente, com 6-7 anos já consegue entender o que está acontecendo. Porém, tem grande dificuldade em relatar o que está sentindo, pois não sabe os nomes dos sentimentos.

No ambiente em conflito, o filho é afetado e tende a desenvolver mecanismos de defesa. As reações são diversas, mas variam entre agressividade com os colegas, mau-comportamento, desinteresse em atividades interativas, depressão e até um distanciamento do mundo e do contato com os outros. Outras vezes, as conseqüências são psicossomáticas, quando o psicológico interfere no corpo. Quem passa por momentos constantes de tensão e tristeza pode apresentar baixa imunidade e fica doente com facilidade.

Os professores percebem que há algo de estranho com criança. Algumas vezes, por estarem muito envolvidos nas brigas, os pais não conseguem notar a alteração no comportamento e não vêem que o problema está na tensão diária do lar.

Uma boa conversa

A terapia de casal é recomendada não só para quem decidiu "salvar o casamento", mas sim, aos que querem resolver algumas questões. O terapeuta pode facilitar a comunicação entre os dois, pois os cônjuges não conseguem mais dialogar e as conversas ficam estagnadas. Em alguns casos a presença do filho também é importante, então, acontece um tratamento que envolve toda a família.

A decisão

O divórcio pode ser difícil, mas, antes de tudo é preciso pensar como a criança está sendo afetada pelas constantes brigas, afinal, ela não tem estrutura para aturar tanta tensão. Depois de terem decidido pela separação, alguns pais optam por inventar histórias como modo de poupar o filho. Carolina diz já ter visto pais inventarem tramas absurdas, ela conta um caso, "Por uma traição a mãe resolveu se divorciar. À noite, enquanto a criança dormia, o pai arrumou as malas. Ela disse para o filho que o papai teve que partir às pressas em uma viagem de trabalho. Conforme foram passando os meses, ela ia aumentando a mentira e dizia que o marido prorrogou sua estadia". Esta história durou por dois ou três meses. Quando acontece a mentira, os pais quebram o elo de confiança com a criança, que custa muito tempo para se formar novamente.

A verdade sempre é a melhor saída, não é necessário dar detalhes sobre os fatos, mas contar o que está acontecendo, sempre respeitando a idade do pequeno. É importante ressaltar que, apesar de não formarem um casal, a família ainda existe e não há "ex-pai" e "ex-mãe". Outro detalhe importante, na separação, os pais tendem a usar o filho como moeda de troca e esquecem que se trata da vida de uma criança e não da divisão de bens.

Conseqüências

Os pais são os arquitetos da família, a criança precisa de suporte, de um referencial que seja exemplo de valores. Se os responsáveis não passarem um modelo de boa conduta, o pequeno pode reproduzir o comportamento desajustado ou buscar outros ícones.

Fontes:

Carolina Nikaedo
Psicóloga
Clínica Edac - Centro de Diagnóstico e Atendimento Clínico Telefone: (11) 3816-7540

Maria Helena Mazerbal Paulino
Terapeuta Familiar
Telefone: (11) 3062-8770



Saiba mais:
O que passa da mãe para o filho durante a gestação

Atualizado em 6 Set 2011.