Guia da Semana

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Os pais devem dar atenção às queixas de dores dos filhos, principalmente se forem recorrentes, e levar os pequenos ao médico

Sabia que sentir dor pode ser sinal de saúde? Pelo menos se você for criança e tiver entre três e quatorze anos. A sensação dolorosa nesse período da vida pode ser sinal da dor de crescimento. "Estima-se que 12,5% das crianças, ocasionalmente, tenham esse sintoma. A maioria aos seis anos de idade ou entre dez e 14 anos, quando elas passam pelo estirão", revela o ortopedista e presidente do Instituto Ortopedia & Saúde - IOS -, Fábio Ravaglia.

A dor de crescimento costuma manifestar-se principalmente durante a noite e, com mais frequência, se o pequeno tiver sido muito ativo durante o dia. De acordo com o ortopedista e diretor da Clínica Lage, de São Paulo, Lafayette Lage, uma das hipóteses para acontecer esse fenômeno no período noturno é que os ossos costumam desenvolver-se mais nesses horários, durante a fase de crescimento.

As dores musculoesqueléticas costumam acontecer, principalmente, nos membros inferiores: canelas, panturilhas, coxas, pés e atrás dos joelhos, com duração de alguns minutos ou de horas. O fato de a criança ser acometida por esse problema não tem a ver com probabilidade de crescimento dela, ou seja, não importa se vai ficar alta ou baixa, da mesma maneira como não há relevância em relação ao sexo, pois meninos e meninas possuem as mesmas chances de desenvolverem a dor.

Doenças similares

A dor de crescimento é provinda de um diagnóstico de exclusão, após muita investigação médica, quando já são descartadas todas as outras doenças prováveis para acometer os pequenos nessa fase e que tivessem os mesmos sintomas. Mas, segundo Lage, a maioria das crianças que chega ao seu consultório com queixas da dor de crescimento apresenta, na verdade, lombociatalgia. A patologia manifesta-se como uma dor irradiada da coluna lombar, é hereditária e acontece quando a criança tem uma perna menor do que a outra.

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A dor de crescimento costuma manifestar-se nos membros inferiores, geralmente, durante a noite

Há outras prováveis doenças que podem ser confundidas com a dor de crescimento, como a febre reumática. Esse conflito pode ser causado por interpretações errôneas do exame ASLO, que é uma análise de sangue utilizada para diagnosticar essa doença inflamatória das articulações. "A hipermobilidade também pode ser uma outra diagnose errada. No entanto, ela é um problema clínico nas articulações, que surge no final da adolescência", conta Ravaglia.

Para o ortopedista Lafayette Lage, das doenças confundidas com a dor de crescimento, 90% são por desigualdade nos membros inferiores, 2% são casos de leucemia e 1% pode ser atrite reativa ou verminose, na qual o organismo irradia dor no joelho ao combater o protozoário.

Tratamentos

Primeiramente, não há exames para fechar o diagnóstico de dor de crescimento. Mas, a prática adotada pelos médicos é realizar todas as análises necessárias, como exames laboratoriais, de imagem e cintilografia óssea, para excluir as outras doenças. Como a patologia é benigna, passageira e não deixa sequelas, o tratamento costuma ser feito com o uso de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides.

"Os pais podem recorrer a compressas ou banhos quentes e massagens na tentativa de aliviar a dor da criança e conforta-la", sugere Ravaglia. O médico ainda indica que a criança faça atividade física com alongamento muscular, se não houver o aumento da dor ao realizar exercícios. A alimentação saudável, rica em vitaminas e cálcio, também pode auxiliar no combate da dor, mesmo não tendo prova científica de sua eficácia.

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O médico precisa explicar bem o curso natural da doença para as crianças e os pais, além de ressaltar que é benigna e passageira

Após o diagnóstico, a primeira coisa que o médico faz é explicar o curso natural da doença e ressaltar que trata-se de uma dor benigna, isto é, não deixa sequelas, o que contribui para reduzir a ansiedade e o medo da criança e dos pais.

Comprovação científica

O Centro de Pesquisas Clínicas da Associação de Assistência à Criança Deficiente - AACD - acabou de finalizar uma pesquisa inédita no país, que mapeou a incidência da dor de crescimento entre as crianças da cidade de São Paulo. O objetivo era identificar e tratar os portadores dessa doença, que é comum, mas ainda com diagnóstico obscuro. O resultado oficial será publicado na Revista Einstein do mês de dezembro.

O estudo prospectivo foi intitulado de Dores não Articulares na Infância - O Enigma das Dores do Crescimento e foi coordenado pelo reumatologista do Hospital Albert Einstein e diretor científico da AACD, Morton Scheinberg. "Comprovamos que dois terços dos casos das crianças que passaram pelo estudo possuíam de fato a dor de crescimento. Já um terço apresentava outros fatores que poderiam ser identificados e corrigidos", conta o médico.

Nesse um terço dos participantes que não tinha dor de crescimento de fato, foi diagnosticado problemas ortopédicos adquiridos ou congênitos, deformidade na coluna vertebral, transtornos oriundos da prática inadequada de atividade física e tumores ósseos.

Atualizado em 1 Dez 2011.