Guia da Semana

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Recentemente, uma pesquisa realizada pela Universidade de Campinas (Unicamp) com crianças na faixa etária entre 2 e 9 anos, revelou que 44% apresentaram valores alterados para o colesterol total, 36% para o LDL (o colesterol ruim) e 56% para os triglicérides. Entre os adolescentes, de 10 e 19 anos, 44% apresentaram alterações para o colesterol total, 36% para o LDL-colesterol e 50% para os triglicerídeos.

Esse aumento pode ser relacionado a uma série de fatores.

Em primeiro lugar, há uma maior atenção ao diagnóstico e a um controle médico mais adequado sobre a evolução de peso e de hábitos das crianças.

O colesterol é uma substância parecida com a gordura, presente no nosso organismo, produzida pelo fígado, que ajuda no funcionamento normal do nosso corpo, atuando na formação das membranas de células e hormônios, da vitamina D (importante na formação e manutenção de nossos ossos) e dos sais biliares (que ajudam na nossa digestão). Além disso, o colesterol chega ao nosso corpo pela alimentação. As triglicérides são outro tipo de gordura vinda essencialmente da dieta (carboidratos como pães, massas, doces, álcool etc.).

O colesterol viaja no nosso corpo por meio de dois tipos de "carregadores" (lipoproteínas). Uma é o HDL (High Density Lipoprotein), que tem alta densidade e é o mocinho dessa história, pois pega a gordura das nossas células e as leva para o fígado. E esse as elimina através do intestino. O HDL eleva-se quando praticamos atividade física constante e regular ou quando recebemos essa bênção geneticamente.

A outra é o LDL (Low Density Lipoprotein), de baixa densidade, que é, verdadeiramente, o vilão. O colesterol dos alimentos (ovos, carnes vermelhas, leite e derivados) é pouco absorvido no nosso corpo. Se sua quantidade livre no sangue está elevada ou se o LDL está muito aumentado, o LDL leva o colesterol do fígado para nossas células. Essas células utilizam aquilo que precisam e o excesso que não é utilizado se deposita, por dentro, na parede de nossas artérias, dificultando e obstruindo a passagem do sangue para órgãos nobres do nosso corpo (coração e cérebro).

O colesterol aumentado desde a infância pode contribuir para uma deposição maior de gordura nos vasos sangüíneos e um índice maior de aterosclerose, mais tendência à hipertensão arterial e outros quadros cardíacos. Normalmente (mas nem sempre) a dislipidemia está associada à obesidade.

Crianças obesas passam a ser adolescentes obesos e transformam-se em adultos obesos. Com isso, aumenta a frequência de patologias cárdio-circulatórias (hipertensão, infartos, varizes etc.), ortopédicas (problemas de coluna e problemas posturais), dermatológicas (assaduras e micoses), além de questões psicológicas e emocionais (gozação na escola, frustrações por dificuldade nas atividades físicas, rejeição e apelidos por parte dos amiguinhos e namorados, por exemplo).

Não há sintomas que mostrem esse depósito excessivo a não ser quando as artérias já estão entupidas ao ponto de não permitir que o sangue passe de forma adequada e diminui o aporte de oxigênio para estas áreas podendo provocar infartos ou derrames. Assim, para saber disso, há necessidade de fazer exames, quando o médico suspeitar que eles possam estar alterados.

Infelizmente, ainda é uma realidade muito presente a ideia de que criança gordinha é criança bonitinha saudável. A saúde não está só em quanto a criança come, e sim em como ela se alimenta. Nós adoecemos pela boca e nos curamos pela boca.

Obesidade, pressão alta, histórico de problemas com colesterol na família, no coração entre outros, são alguns fatores de risco que merecem ser pesquisados com exames.

Hoje em dia, as queixas de aumento de peso, com aumento do nível de triglicérides e de colesterol em crianças na faixa de 4 a 7 anos, já ocupam cerca de 20% do espaço das consultas pediátricas.

O diagnóstico precoce (história clínica familiar, pessoal e exames de laboratórios adequados), a descoberta das causas para esse quadro (tendências hereditárias e genéticas, alimentação inadequada, sedentarismo e outras co-morbidades) é o começo da orientação para uma alimentação adequada e saudável. A atividade física regular e um tratamento medicamentoso, quando necessário, que pode ser realizado através da homeopatia (sempre) ou alopatia (com certas restrições orientadas pelos médicos e pelo tipo de medicamentos utilizados) fazem parte do "pacote-saúde".

Conscientização

Aqui também, mais uma vez, é melhor prevenir do que remediar.

Tudo começa pelo aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida. Até essa idade, a criança não precisa de água, chás, sucos, frutas, nem qualquer outro tipo de alimento a não ser o leite materno.

Essa é a principal razão para que tenha sido aprovada a licença-maternidade de 180 dias (era 120 dias). Assim, a mamãe poderá amamentar seu filho até o 6º mês de vida. Só peito. Mais nada.

A partir daí, a introdução de outros grupos alimentares deve ser gradual e orientada pelo pediatra. Sempre que se seguir uma alimentação equilibrada, tanto em quantidade quanto em variedade, respeitando as proporções adequadas de proteínas, gorduras e carboidratos, com as fibras alimentares, as chances de termos dislipidemias às custas do que se come é muito reduzida.

Além disso, o exemplo parte de casa.

Se a casa é obesa, dificilmente a criança não o será.

Se a "casa não emagrecer", será difícil a criança emagrecer.

Se a família não tiver hábitos alimentares saudáveis, será muito mais penoso para essa criança ser a diferente da história.

Assim, todos devem colaborar e fazer a sua parte, sempre sob orientação médica.

Quem é o colunista: Dr. Yechiel Moises Chencinski

O que faz: Médico pediatra e homeopata

Pecado gastronômico: Brownie da padaria Bella Paulista quente com sorvete de creme

Melhor lugar de São Paulo: Qualquer lugar num feriado prolongado (Avenida Paulista, por exemplo)

Fale com o colunista: [email protected] ou acesse seu site .

Atualizado em 6 Set 2011.