Guia da Semana

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Discussões entre irmãos são rotineiras no dia a dia. Por causa do presente que um ganhou e o outro não, por achar que os pais dão mais atenção para um do que para o outro, por um dos irmãos terem mais amigos e ser mais popular do que o outro brother... enfim, tudo pode virar motivo para desencadear brigas entre os filhos.

A solução-chave para o problema é a divisão correta da atenção dos pais com cada um, não importa se já adolescente ou ainda criança. "Não adianta você passar 24 horas com seu filho e quando o outro nascer você ficar apenas duas horas por dia com ele", explica o psicólogo clínico, especializado em antropologia, Mauro Godoy. De acordo com o especialista, a atenção que os filhos recebem são sempre condicionadas pelos pais, independente da idade.

Evolução da personalidade

A personalidade de qualquer pessoa começa a ser moldada na infância. Para esse desenvolvimento é necessária a união das relações interpessoais - que se dá pela relação afetiva com a mãe - e as formais - estabelecidas entre as pessoas de fora do convívio cotidiano. Deve haver um equilíbrio entre as duas, independente das idade de cada um. Até os cinco anos, eles só vivem no seu mundo; já dos cinco aos dez anos, as crianças passam a se desenvolver e tomar consciência do mundo externo. Mas a estabilidade constante é que será responsável pela formação da mente, das expressões e das opiniões das pessoas, principalmente na adolescência.

O psicólogo informa que os debates, as discussões e as brigas entre os 'brothers' são manifestações normais das diferenças do mundo interno com o externo de cada um e demonstram a forma que as pessoas enxergam a vida exterior. Ele enfatiza que um filho único geralmente tende a ser menos flexível, pois nunca precisou dividir nada, nem mesmo a atenção dos pais com ninguém. Questões envolvendo esses conflitos aparecem em demasia na juventude, sobretudo nos relacionamentos amorosos, em que os teens percisam aprender a perder e a ouvir um não.

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Faces da rivalidade

A competição possui um lado bom, pois influencia a pessoa a aprender a compartilhar desde pequena e que nem sempre se pode conseguir tudo o que quer. Nos primeiros nove meses, o bebê começa a entender quem ele é e quem é sua mãe, sendo que não estão mais no mesmo corpo. A partir dos três anos, a criança começa a projetar sua imagem nos outros e também é o momento em que ela inicia seu processo de fala, em primeira pessoa.

Essa fase é decisiva na educação dos filhos e precisa ser bem lapidada. O primeiro vilão que pode trazer o sentimento de rivalidade para os filhos é o pai, já que ele é o que está dividindo sua atenção com a mãe. Como é mais difícil provocar confusões com o pai, o adolescente acaba descontando no seu irmão. A rivalidade é natural desde que não haja sofrimento, pois assim passa a ser patológico.

Assim como a comparação, a inveja é um dos sintomas do estabelecimento da rivalidade entre os irmãos. Como a razão é normalmente o afeto da mãe, se houver diferença de tratamento entre os filhos, o problema só tende a ficar mais discrepante. Isso pode acontecer tanto entre meninas, quanto com meninos, da mesma maneira como entre um casal de irmãos ou com gêmeos.

Auxílio pela literatura

Para ajudar os pais a resolverem esses conflitos de forma pacífica, foi lançado no Brasil, pela Editora Summus, o livro Irmãos sem rivalidade - O que fazer quando os filhos brigam (224 p., R$ 47,10), escrito pelas autoras americanas Adele Faber e Elaine Mazlish. A obra agrupa histórias de famílias que vivenciaram esse tipo de conflito, abordando situações como a competição pelo amor e pela atenção dos pais, a inveja de um das conquistas do outro, o ressentimento que um irmão sente dos privilégios do outro e as frustrações que eles acabam descontando entre si.

O livro propõe formas de soluções para que os pais resolvam os problemas, sempre levando em conta a individualidade de cada filho e o poder do diálogo. O maior diferencial da obra é considerar o conflito necessário para o desenvolvimento dos adolescentes. O livro é uma boa opção para orientação dos pais, que precisam acabar com a rivalidade entre os filhos e fazê-los entender que cada um está seguro, é especial e amado.

Outro livro que levanta a temática é Rivalidade fraterna: O ódio e o ciúme entre irmãos, lançado em 2002, pela editora Ágora. A obra é de autoria da psicóloga Nise Britto, que escreveu o livro baseando-se em uma grande pesquisa, na qual entrevistou 98 famílias de várias regiões do Brasil.

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Casos da história

Dizem que a novela é um retrato da vida cotidiana. Se for assim, os gêmeos Jorge e Miguel, interpretados pelo ator Mateus Solano, de Viver a Vida, da Rede Globo, é o exemplo típico de irmãos que continuam sendo rivais na vida adulta. Essa questão tende a diminuir quando o adolescente for forçado a conviver e a compartilhar sua vida com o mundo externo, mas também há casos em que esse problema não cessa com a idade.

Na história bíblica, a disputa acirrada entre irmãos é a marca dos personagens Caim e Abel. O ciúme e a inveja levaram Caim a matar seu irmão mais novo, Abel, pela disputa da atenção de Deus, de acordo com a narrativa religiosa. Verdade ou não, o fato retrata que a comparação entre irmãos pode ser muito perigosa e causar danos permanentes.

De acordo com o livro Irmãos sem rivalidade - O que fazer quando os filhos brigam, os pais, que possuem o dever de administrar a relação entre os filhos não podem 'jogar para baixo do tapete' a mágoa e a raiva provocada pela briga deles. Negar atenção às consequências da rivalidade, assim como rotular ou comparar os pequenos entre si, pode incentivá-los ainda mais a ter comportamentos errados.

Uma saída para os irmãos briguentos é incentivá-los a extravasar essa energia e raiva em atividades de lazer ou esportes, como futebol, natação, skate, tae kwon do e dança. Enfim, qualquer possibilidade que faça o teen se educar no ato de competir, já que ele não vai poder fugir disso em suas relações amorosas e com amigos, no futuro vestibular ou até mesmo em casa com seus irmãos.

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Atualizado em 6 Set 2011.