Guia da Semana

Foto: Google

Programadores da empresa na unidade de Dublin, Irlanda, discutindo aplicativos

Os mais antenados (conhecidos pelo termo early adopters, em inglês) já estão dentro e querem fazer dele o mais novo clubinho da Internet. Outros, no entanto, se perguntam por que diacho mais uma rede social. No entanto, a força do maior buscador do mundo é avassaladora e, em menos de um mês, há estimativas de que o Google Plus alcançou mais de 20 milhões de visitas de usuários únicos - 62 mil só no Brasil. Os dados são da empresa de pesquisa ComScore.

Só que, com o novo produto, a forma de brincar mudou. Enquanto no já distante ano de 2004 foram as comunidades, com seus mais diversos motivos e temas, e a aceitação mútua entre os participantes que alavancaram o sucesso do Orkut (também da Google), no Plus (ou G+) o conceito-chave é o círculo.

Funciona mais ou menos assim: ao ser convidado, você separa seus amigos em grupos de interesse e/ou afinidade e/ou categoria: os viciados em séries, parceiros da escola, amigos mais confiáveis, membros da família, ou como você quiser: mais malas, super-fofos, etc. Não importa mesmo, pois ninguém vê como cada um divide e nomeia seus círculos. As publicações seguem a mesma lógica. Logo, se você quer falar sobre aquela menina chata da escola, apenas os amigos do círculo onde você colocou essa informação verão e poderão comentar, sem chegar aos olhos dos contatos alocados nos demais. É possível compartilhar informações em diferentes círculos e marcar um contato em mais de um agrupamento. Há também a postagem pública, na qual todos os contatos saberão suas opiniões, fotos e ideias.

Outro aspecto que chama a atenção no G+ é a assincronicidade, nome estranho, mas bem conhecido daqueles que gostam de dar piados de 140 caracteres do Twitter. Para navegar no G+, ninguém é obrigado a acompanhar as publicações daquele contato que te adicionou. O video feito pela Epipheo Studios exemplifica bem o funcionamento do G+ e vai além, mostrando de forma divertida os verdadeiros objetivos de Larry Page: barrar o domínio quase absoluto do Facebook, hoje, com mais de 700 milhões de terráqueos conectados.



Pique-esconde virtual

Nesse mundo onde todos estão conectados - pais, mães, familiares, professores e chefes de trabalho - todos têm as mesmas condições de acompanharem a sua vidas. "Sempre tem aquela mãe de um amigo que comenta logo depois dos colegas, deixando o filho constrangido", lembra Isabela Cabral, 18 anos. A mãe dela tem conta no Facebook e acompanha, como todos seus 400 amigos virtuais, seu cotidiano. Isabela não se incomoda e nunca passou por perrengues, mas confessa que já excluiu uma ou outra atualização feita no Twitter e publicadas automaticamente no Facebook. "Quando não quero que saibam, simplesmente não publico em lugar nenhum", ri a jovem.

Miguel Peroza, psicólogo com mais de 20 anos de experiência no trabalho com adolescentes e professor de PUC-SP, vê que as redes sociais buscam cada vez mais se aproximar do cotidiano das relações humanas, tornando-se mais complexas. "Não que seja novidade pensar a vida em círculos. Só que antes, o jovem buscava uma comunidade para interagir, e agora ele passa a perceber que já faz parte de comunidades a priori, anteriores a ele mesmo".

Para Peroza, a preocupação com o que se fala ou mostra na Internet é extremamente contraditória para quem abraça uma rede social, principalmente para os adolescentes, mas faz parte da fase de vida. "Os jovens querem esconder tudo dos pais ao mesmo tempo em que devassam a intimidade para os amigos, justamente os que apresentam julgamentos éticos e estéticos muito mais fortes do que a família. Numa fase da vida em que pertencer é mais importante do que conhecer, pois ainda se está em processo de formação, não sei até que ponto essa nova ferramenta vai pegar entre os mais jovens".

Foto: Acervo pessoal

Presente em mais de sete redes sociais, Isabela encontra interesses diversos em cada uma delas

Moradora de Paracambi, no estado do Rio de Janeiro, e prestes a encerrar o Ensino Médio, Isabela acredita que a rede tem chance de pegar por conta da grande base do Google. Ela está no G+ e já conta com 700 contatos, mesmo que desconheça a maioria. Além da nova rede, Isabela usa o Twitter, Facebook e mais outras quatro redes específicas em filmes, seriados e livros. Ela vê potencial nos círculos pela relação assincrônica, mas sabe que nem todo entende isso bem. "Tem gente que fica de fato chateada e de cara feia quando não é seguido, mas aí é que está a vantagem, pois ninguém é obrigado a me seguir senão se interessa pelo que compartilho", sintetiza.

O professor Miguel Peroza reforça que tais sentimentos de exclusão ficam minorados na rede em relação à "vida real", mas não são menos sentidos. "As pessoas vão vendo sinais dessa menor consideração aos poucos, e não com todas as letras. Em quem aperta o sofrimento, tem de se pensar quais valores são identificados no outros e questionar porque sofrer tanto com isso. Estamos falando de idealizações, que sempre levam à frustração e ao medo de julgamentos sem menor garantia de acolhimento".

Excessos e repetições

Ao mesmo tempo em que o jovem gosta de carregar no peito oque pensa e evita sofrer negativas no mundo virtual, eles sabem também como aproveitaros excessos a seu favor. "Acredito que o Twitter é uma coisa mais rápida e mais tranquila de se falar o que quiser, pois depois de 10 minutos, milhares demensagens surgem na timeline e ninguém verá o comentário. Já no Facebook, as publicações têm maior visibilidade", argumenta Vinícius Padalino, paulistano de18 anos, e que tem a família inteira na rede social de Zuckerberg.

Foto: Acervo pessoal

Já o paulistano Vinícius Padalino prefere concentrar seus contatos em poucos lugares

Ele está por dentro de tudo do G+ e até enxerga as funcionalidades particulares da nova rede, mas não quer ingressar nesse primeiro momento. "De fato, não se conversa sobre os mesmos assuntos com todos os grupos da vida. A ideia do círculo é de ir direto ao ponto, sem precisar saber o que o outro disse para a mãe, por exemplo. Mas não sei se há necessidade em se ter mais uma rede, não vejo motivos para ter os mesmos contatos em dois, três lugares", explica ele, que iniciou neste ano a vida universitária no curso de Audiovisual.

Seja para estar na moda, ou aproveitar as ferramentas sociais para fazer amigos, jogar, aprender mais do mundo e se divertir, o importante e mais saudável é fazer da multiplicação de redes uma soma para a individualidade, e não uma maior divisão. "Vivemos num momento da cultura que cada vez mais estamos sendo solicitados para olhar o mundo com superficialidade, sem o contato genuíno com os acontecimentos, com os outros e conosco mesmo. As redes podem ser espaços para se encontrar interesses comuns a medida que te aproximam do outro e de si mesmo. Se elas só permitem um olhar superficial causam um grande desserviço", vaticina Miguel Peroza, emitindo opinião que levaram nove entre dez usuários a abandonar o Orkut - repetição e pouco conteúdo nas conexões. Se o Google acertou dessa vez, só o tempo de navegação e o número de cliques dirá.

Atualizado em 11 Fev 2014.