Guia da Semana

Gabriel Oliveira
Galeria do Rock: um dos redutos emos da atualidade

A febre ocasionada pelo estilo emo em todo o país revolucionou, chocou e, principalmente, incomodou muitas pessoas de diferentes tribos presentes nas grandes metrópoles. O jeito quase inocente da juventude, que exaltava aos quatros ventos suas franquezas e suas emoções mais íntimas provocou rebuliço na internet, em revistas, jornais e em alguns programas da televisão, servindo como pano de fundo para dividir a opinião do grande público e gerando ainda mais discussões. Outro fator que chama atenção é a identidade visual adotada pelos adolescentes, que se esforçam para destacar-se dentre os demais.

Tantos materiais e tantas possibilidades, presentes em corredores labirínticos de galerias, shoppings e a cada esquina repleta de barracas dispostas nas calçadas, geram uma infinidade de combinações na busca sedenta pela aparência mais próxima da perfeição. Enquanto Eric Ricardo, de 17 anos, estudante e promoter da casa The Boy Club, esperava na entrada da Galeria do Rock para ser entrevistado e assim revelar os segredos e as artimanhas do estilo, conheceu a Paola Morente, de 14 anos, também adepta. Os dois novos amigos aproveitaram o convite para mostrar sem medo as diversas lojas voltadas para o gênero. Em alguns momentos durante o percurso, eles eram encarados de maneira pouco convidativa pelos demais roqueiros.

"Toda sexta-feira, a partir das 15h, a galera que curte vem aqui para conversar, conhecer pessoas e aproveitar para fazer compras, o lugar fica lotado e é difícil até de andar. Não é muito aconselhável freqüentar nos outros dias da semana por que o pessoal não gosta", afirma de maneira descontraída o rapaz de madeixas pretas e azuis. Dentre uma vitrine e outra, os acessórios mais atrativos para incrementar o aspecto são explicados, "Não há restrição no uso das cores, elas podem ser usadas de diferentes maneiras, principalmente aquelas que estiveram em conjunto com peças quadriculadas ou estampas. Colares prateados com pingentes de estrelas, cintos de caveira, bolsas grandes repletas de rebite nas alças, pulseira de plástico e calças apertadas não podem faltar no guarda-roupa. Piercings e a franja de lado também são essenciais".

Sentimentos reclusos

Em relação a opinião dos pais, Paola explica que muitas vezes sua mãe fica envergonhada de andar ao seu lado devido suas roupas, em alguns ocasiões chamativas. Seu pai não se preocupa tanto, chega até gostar de sua exuberância. Para Eric a situação é um pouco diferente, pois mesmo achando estranho o estilo adotado pelo filho, eles o apóiam, "Minha mãe acabou aceitando com o passar do tempo e hoje ela até me ajuda a tingir o cabelo. Ela acha que tudo é apenas uma fase", esclarece o jovem em meio a risadas. A conversa dos recém-conhecidos flui de modo descontraído enquanto proferem uma longa lista de nomes em busca de amigos em comum.

Bandas como CPM 22, Simple Plan, Arctic Monkeys, Dance of Days, Funeral for a Friend, fazem parte do vasto repertório musical, porém uma em especial consegue tocar fundo no coração do garoto, "Minha banda favorita é Fresno, as letras das músicas são como poesia para mim e conseguem traduzir todos os meus sentimentos. As vezes é difícil controlar as emoções, a adolescência é um período conturbado, difícil de lidar com os anseios", revela. Ao ser indagado sobre a bissexualidade presente entre um certo número de integrantes do grupo, comenta, "Esse negócio é mentira, não tem nada a ver. Eu vejo da seguinte maneira, como não temos nenhum tipo problema em relação a isso, as pessoas que já possuem certa tendência ao bi ou ao homossexualismo se identificam, aproveitando para ficar à vontade em relação a sua opção sexual".

O preconceito é bastante grande e atinge toda a classe emotiva. As constantes ameaças e a promoção de uma verdadeira caça aos seguidores não chega a acuá-los, pois a maioria segue ignorando as provocações e continua suas vidas normalmente, "Todos se acostumaram de tal maneira com a monotonia dos estilos mais tradicionais que discriminam tudo diferente do habitual. Julgam pela aparência, nos colocam rótulos e não gostam de nossa presença. Eles sempre procuram arrumar confusão e até parece que nos perseguem. Certa vez fui cercado por muitos caras sem fazer nada, fui salvo da briga por um conhecido do mesmo segmento do bando inimigo".

Atualizado em 6 Set 2011.