Guia da Semana

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Corajosas e destemidas nos primeiros anos de vida, as crianças não sentem medo de nada e se acham capazes de vencer o maior e mais feroz animal da floresta, aquele terrível mostro dos filmes ou, ainda, poder atravessar a rua e achar que nada de ruim poderá lhes acontecer. Este comportamento é muito comum na fase em que a criança ainda não tem noção dos perigos e suas consequências. É muito natural, mas que deixa alguns pais preocupados com a sua segurança.

Mais tarde, por volta de três ou quatro anos, essa situação começa a se modificar e a criança, antes tão corajosa, começa a sentir medos, muitos deles simples e aparentemente sem explicação.

Algumas podem começar a sentir temores exagerados preocupando seus pais, que estranham as mudanças e tentam atribuir o novo comportamento a algum acontecimento específico.

Na verdade, cedo ou tarde a criança passará por essa fase, em intensidades que variam de acordo com a personalidade de cada um.

E que bom! O medo faz parte dos comportamentos instintivos do ser humano e é através dele que as pessoas se protegem dos perigos do mundo.

Só passa a ser preocupante quando há exagero, ou seja, quando prejudica a vivência do indivíduo, que se priva de situações que deveriam ser normais em sua vida em função desses medos. Também diante de situações que não sejam, na realidade, dignas desse sentimento, como o famoso medo de pequenos insetos que não poderiam, de fato, fazer algum mal à pessoa.

O medo de situações novas e desconhecidas pode ser muito comum, não só em crianças, mas também em adultos. Sentir um medo inicial é perfeitamente normal desde que, apesar dessa ansiedade, a criança seja perseverante para enfrentar as inseguranças e a nova situação. É bom haver um canal de comunicação aberto na família, quando o filho possa extravasar suas ansiedades e preocupações diante da nova situação, pois através da conversa, muito deste medo será desmitificado (o medo torna a situação maior e mais aterradora do que realmente é) e a criança poderá acalmar-se em relação ao que virá.

Uma ideia que costuma dar certo, quando a criança não consegue exprimir claramente seus sentimentos a respeito da situação que a preocupa, é fazer jogos de dramatizações (e neste caso, quanto menor a idade, mais facilmente esta técnica funcionará). Utilize bonecos, brinquedos e o que mais estiver relacionado à situação e comece, simplesmente a brincar, dramatizando de forma positiva as situações que provavelmente virão. Esteja atento aos comentários e atitudes que a criança exprimir e tome proveito disso para trabalhar o assunto. Assim, fica mais fácil entender o que se passa na cabecinha de seu filho, podendo ajudá-lo.

E se ele já estiver frequentando uma escola, não pense duas vezes em pedir ajuda às educadoras neste processo de incentivo e encorajamento.

Medos relacionados ao mundo da fantasia são os mais comuns: de monstros, fadas, personagens fantasiados nas festinhase; se bem trabalhados, são os mais fáceis de sanar. Conforme o amadurecimento da criança, naturalmente ela passará a entender e diferenciar o que é fantasia e o que faz parte da realidade. Encorajar é a palavra, mas nunca, em hipótese alguma, force uma situação.

O medo do escuro também está relacionado à fase da fantasia, quando o apagar das luzes dá margem ao "aparecimento" de personagens assustadores em um momento em que seus pais não estarão presentes no ambiente. Neste caso, dê a ele todo o conforto, mantenha uma luz fraca acesa, a porta aberta ou mesmo algum boneco para ele abraçar. Colocar junto dele uma lanterna para que ele a acenda e apague sempre que sentir necessidade, além de dar-lhe segurança, será uma grande diversão enquanto o sono não vem.

Cuidado: há os que repetem os medos dos pais ou de outros adultos que convivem com eles. Se algo o incomoda, resolva! Não passe suas ansiedades e medos para seu filho. E não adianta tentar disfarçar, pois seu olhar e linguagem corporal o denunciarão. Se você tem algum temor exagerado que pode prejudicar o crescimento de seu filho (inclui-se aí, a superproteção, já citada como prejudicial por todos os especialistas), é hora de procurar ajuda especializada.

Experiências traumáticas vivenciadas pela criança podem gerar medos duradouros, como o exemplo da criança que foi mordida por algum animal, que a partir de então, passa a evitá-los e demonstrar verdadeiro terror. Mas nem toda criança que passa por situações traumáticas irá manifestar medos permanentes. A segurança dos adultos que lidam com ela a respeito da situação é determinante para evitar o problema. Se a situação for bem trabalhada a criança conseguirá superar o trauma.

Para situações duradouras e exageradas, que não foram sanadas após todos os esforços naturais, não hesite em procurar um profissional especializado, ele poderá ajudar toda a família.

E uma dica final: dê tempo ao tempo e não queira resultados muito rápidos... eles virão gradativamente.

E nunca faça pouco caso dos medos e ansiedades de seu filho. Isso pode fazer com que ele se retraia ainda mais. Somente dando o devido valor e tentando entendê-lo é que você poderá ajudá-lo. E lembre que, com atenção, carinho e informação, todos os medos naturais da criança desaparecerão, só permanecendo aqueles que são importantes para a sua sobrevivência.


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Limitar ou Proibir

Não fala muito

Sexualidade na infância

Quem é a colunista: Cláudia Fernanda Venelli Razuk.

O que faz: Pedagoga e coordenadora do colégio Itatiaia.

Pecado gastronômico: Se é pecado, melhor não comer! Saborear o que eu gosto com prazer e sem culpa, é essencial.

Melhor lugar do Mundo: Minha casa, com meu marido e filhos e em qualquer lugar rodeada dos verdadeiros amigos.

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.